...Percorrida
alguma distância, ambos chegaram à beira do tanque, onde Masahemba se
purificava antes de se apresentar perante o tabernáculo.
- Neste tanque,
a água dá-me pelo peito- explicava Masahemba- um pequeno riacho é canalizado do
Nilo até aqui. A água entra no tanque através de uma abertura submersa e sai
pelo lado oposto, por uma outra abertura também submersa, regressando a água ao
caudal do Nilo. Por isso, neste tanque, a água está sempre em movimento. Inúmeras
vezes me purifiquei nestas águas sagradas do Nilo; só há um problema.
- Qual é?-
perguntou o sifto.
- No canal por
onde se escoam as águas do tanque, cabe o meu corpo à justa. Isso quer dizer
que até eu chegar à parte do canal, onde me posso esconder, levará algum tempo.
Como irei eu aguentar sem respirar?
- Isso não é
problema, meu caro Masahemba. Eu forneço-te o oxigénio de que vais precisar.
- E como, meu
simpático jovem?
- Já vais ver.
Vamos então?
- E a minha
indumentária? Se eu sair daqui, não posso levar as vestes de Sumo Sacerdote.
Seria logo reconhecido. Era conveniente um saiote de felas.
- Não te
preocupes com isso, que eu também resolvo esse problema. Mas antes de irmos
embora, diz-me porque razão insistes em tratar-me por rapazinho, quando na
verdade sabes que o não sou.
- Por alguma
razão, quando te encontras fora de água, escolheram para ti essa forma humana.
Assim sendo, onde está o inconveniente em seres um rapazinho?
- Na verdade
tens razão. Um sifto divide a sua existência entre a forma de peixe e a de
criança.
- Eu conheci-te
com a forma de rapazinho. Portanto, para mim serás sempre lembrado como tal.
De repente, do lado do enorme pórtico, chegou o som cavo
de uma forma dura a embater noutra.
- O faraó está a chegar. Não percamos tempo- disse o
sifto.
Masahemba e o seu amigo rapazinho desceram os
degraus que conduziam à água.
Ao entrarem nela de imediato submergiram. Masahemba
mantinha os olhos abertos, muito embora isso de nada lhe valesse, pois a
escuridão era total. No entanto, a auréola que envolvia o sifto, manteve-se,
mesmo debaixo de água, e Masahemba viu, extasiado, a metamorfose que se operou
diante dos seus olhos. Num curto espaço de tempo, as pernas e pés do rapazinho
uniram-se numa só silhueta, e tomaram a forma do dorso de um peixe e da
barbatana anterior. Depois todo o tronco do rapazinho, os braços, mãos e cabeça
foram aglutinados e transformados na cabeça de um peixe; e surgiu então uma
tiláquia, peixe abundante nos rios africanos. Masahemba e o sifto praticamente
não nadavam. Deixavam-se ir na suave corrente que os conduzia a outra
extremidade do tanque, à abertura submersa, por onde a água se escoava. Então,
o sifto, colocou-se de frente para Masahemba, usando as suas barbatanas
peitorais e dorsais para se manter ao nível do rosto do Sumo Sacerdote e
encostou a sua boca à boca dele. Depois abriu a boca, sendo imitado por
Masahemba, e na boca do Sumo Sacerdote introduziu as suas próprias guelras, as
quais expiravam para os pulmões de Masahemba o oxigénio que iam retirando da água.
E assim conseguiram entrar na abertura por onde
seguia a água do Nilo. O Sumo Sacerdote apenas conseguia mexer os
pés, pois os braços tinha-os estendidos ao longo do seu corpo, avançando
lentamente por um túnel que pouco mais largo era do que o seu próprio corpo,
tendo colado à sua boca o sifto, que o ia abastecendo do oxigénio necessário. O
túnel fez então uma pronunciada curva. Masahemba continuou a avançar,
completamente submerso. Percorrida uma distância considerável, o túnel terminou
numa tumescência de rocha, dando lugar a um pequeno ribeiro, coberto por densa
vegetação ribeirinha. Masahemba, encontrou-se subitamente sob o céu estrelado,
tendo o corpo assente no chão todo coberto por água, apenas a cabeça estando
acima do nível da água, podendo finalmente respirar o ar que a terra mãe lhe
dava...(em continuação, pág. 50, ex XVII)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005
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