sábado, 10 de agosto de 2013

ATRAVÉS DE UM SIFTO, O OXIGÉNIO DA VIDA

...Percorrida alguma distância, ambos chegaram à beira do tanque, onde Masahemba se purificava antes de se apresentar perante o tabernáculo.
- Neste tanque, a água dá-me pelo peito- explicava Masahemba- um pequeno riacho é canalizado do Nilo até aqui. A água entra no tanque através de uma abertura submersa e sai pelo lado oposto, por uma outra abertura também submersa, regressando a água ao caudal do Nilo. Por isso, neste tanque, a água está sempre em movimento. Inúmeras vezes me purifiquei nestas águas sagradas do Nilo; só há um problema.
- Qual é?- perguntou o sifto.
- No canal por onde se escoam as águas do tanque, cabe o meu corpo à justa. Isso quer dizer que até eu chegar à parte do canal, onde me posso esconder, levará algum tempo. Como irei eu aguentar sem respirar?
- Isso não é problema, meu caro Masahemba. Eu forneço-te o oxigénio de que vais precisar.
- E como, meu simpático jovem?
- Já vais ver. Vamos então?
- E a minha indumentária? Se eu sair daqui, não posso levar as vestes de Sumo Sacerdote. Seria logo reconhecido. Era conveniente um saiote de felas.
- Não te preocupes com isso, que eu também resolvo esse problema. Mas antes de irmos embora, diz-me porque razão insistes em tratar-me por rapazinho, quando na verdade sabes que o não sou.
- Por alguma razão, quando te encontras fora de água, escolheram para ti essa forma humana. Assim sendo, onde está o inconveniente em seres um rapazinho?
- Na verdade tens razão. Um sifto divide a sua existência entre a forma de peixe e a de criança.
- Eu conheci-te com a forma de rapazinho. Portanto, para mim serás sempre lembrado como tal.
         De repente, do lado do enorme pórtico, chegou o som cavo de uma forma dura a embater noutra.
- O faraó está a chegar. Não percamos tempo- disse o sifto.
          Masahemba e o seu amigo rapazinho desceram os degraus que conduziam à água.

Ao entrarem nela de imediato submergiram. Masahemba mantinha os olhos abertos, muito embora isso de nada lhe valesse, pois a escuridão era total. No entanto, a auréola que envolvia o sifto, manteve-se, mesmo debaixo de água, e Masahemba viu, extasiado, a metamorfose que se operou diante dos seus olhos. Num curto espaço de tempo, as pernas e pés do rapazinho uniram-se numa só silhueta, e tomaram a forma do dorso de um peixe e da barbatana anterior. Depois todo o tronco do rapazinho, os braços, mãos e cabeça foram aglutinados e transformados na cabeça de um peixe; e surgiu então uma tiláquia, peixe abundante nos rios africanos. Masahemba e o sifto praticamente não nadavam. Deixavam-se ir na suave corrente que os conduzia a outra extremidade do tanque, à abertura submersa, por onde a água se escoava. Então, o sifto, colocou-se de frente para Masahemba, usando as suas barbatanas peitorais e dorsais para se manter ao nível do rosto do Sumo Sacerdote e encostou a sua boca à boca dele. Depois abriu a boca, sendo imitado por Masahemba, e na boca do Sumo Sacerdote introduziu as suas próprias guelras, as quais expiravam para os pulmões de Masahemba o oxigénio que iam retirando da água. E assim conseguiram entrar na abertura por onde  seguia a água do Nilo. O Sumo Sacerdote apenas conseguia mexer os pés, pois os braços tinha-os estendidos ao longo do seu corpo, avançando lentamente por um túnel que pouco mais largo era do que o seu próprio corpo, tendo colado à sua boca o sifto, que o ia abastecendo do oxigénio necessário. O túnel fez então uma pronunciada curva. Masahemba continuou a avançar, completamente submerso. Percorrida uma distância considerável, o túnel terminou numa tumescência de rocha, dando lugar a um pequeno ribeiro, coberto por densa vegetação ribeirinha. Masahemba, encontrou-se subitamente sob o céu estrelado, tendo o corpo assente no chão todo coberto por água, apenas a cabeça estando acima do nível da água, podendo finalmente respirar o ar que a terra mãe lhe dava...(em continuação, pág. 50, ex XVII)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005

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