sábado, 11 de janeiro de 2020

ENTRE O RANCOR DO FARAÓ E A AMEAÇA DE SETH


Masahemba, que dormia escondido no meio da densa vegetação existente à beira do ribeiro, acordou alvoroçado, pois ouvira homens a gritarem ao longe. Nesse momento sentiu uma presença junto a si.

-         Aqui estás tu de novo, rapazinho. É bom sentir a tua companhia. Sabes o que é que se passou lá ao longe? Ouvi homens a gritarem em grande agitação.

-         Nada de importante. Os homens viram uma hiena a beber nas águas do Nilo- respondeu o rapazinho, que obviamente era o sifto enviado por Amon-Rá.

-         Uma hiena? Aqui? É realmente muito fora do comum.

-         Sim, tens razão. Mas essa anormalidade deveu-se a uma visita que hoje chegou a MassiftonRá.

-         Os deuses também recebem visitas?

-         É claro que não. Só que esta visita teve poder para iludir a vigilância do mundo dos deuses.

-         E que ser é esse assim tão poderoso?

-         O deus Seth- respondeu o sifto.

Ao ouvir aquele nome, o Sumo-Sacerdote pôs-se em pé, como que tomando uma posição defensiva.

-         O mal esteve em MassiftonRá- retorquiu Masahemba.

-         E é por essa razão que eu aqui estou. Amon-Rá desconfia que Seth sabe da tua existência, como foragido. Em resultado dessa sua desconfiança mandou que eu te viesse prevenir. O deus supremo previne-te que desconfies de qualquer um que se aproxime de ti. Seth pode tomar muitas formas.

-         Já não me bastava o rancor do faraó, para ter também de me defrontar agora com o perigo que Seth representa.

-         Mas tu és um Sumo-Sacerdote; tens a bênção de Amon-Rá; não é de qualquer forma que Seth te engana.

-         Se eu fosse esse que tu agora descreveste, não precisava de me encontrar miseravelmente escondido no meio destes arbustos.

-         Masahemba, eu não disse que tu és todo-poderoso. Mas temos de admitir que tens muito mais capacidades de detectar a aproximação do mal, do que um comum mortal. A interacção que manténs com o deus supremo desenvolveu-te os sentidos.

-         Acabas sempre por ter razão, rapazinho- disse Masahemba sorrindo.

-         Bom, mas eu estou aqui com uma outra finalidade: conduzir-te a casa de um artesão que aceitou receber-te. Vamos agora mesmo para aproveitarmos a protecção das estrelas.

-         Agora? Mas as pessoas estão a dormir.

-         O dono da casa não tem de saber o momento em que tu lá entras. Anda, segue-me…(em continuação, ex. XXXV)
in A Causa de MassiftonRá

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