Aveiro é uma cidade fantástica. Não, não é uma cidade monumental, já que o seu grande trunfo não reside na sua história, muito embora tenha tido momentos e vultos enormes e surpreendentes.
A primeira alusão a Aveiro (então Allavarium), surge num documento datado de 959, quando a Península Ibérica já levava 237 anos a combater o Islão, na sua Reconquista Cristã, em que a Condessa Mumadona Dias doou Allavarium aos frades de Guimarães.
Irá ser somente no início do século XIV que o nosso rei D. Dinis, tendo tomado consciência do tesouro que Aveiro produzia, o sal, fez com que Aveiro deixasse de ser um mero couto, fazendo-a transitar para a coroa. E a partir daí veio o desenvolvimento e se começaram a edificar monumentos. Por essa razão Aveiro tem poucos edifícios monumentais.
Em contra-partida toda ela é um monumento de beleza. A graciosidade da sua ria transmite-lhe segredos que faltam em outras cidades. E um desses segredos é a sua forte ligação à natureza, ligação essa fomentada pela própria ria.
Onde em Portugal podemos ter o privilégio de nos encontrarmos rodeados de ambiente semi-selvagem, na zona das marinhas e salinas, em que o ar está impregnado de odores campestres e marinhos, calcorreando caminhos diariamente beijados pelas marés, vendo despontar imensas espécies de plantas com forte cheiro a maresia, observando uma infinidade de aves que abundantemente se disseminam pelas águas da ria ou das marinhas, que ali nidificam, produzindo um ambiente perfeitamente bravio, enquanto observamos ao longe, mas não muito distante, a silhueta maciça da cidade e dali podemos, no silêncio da natureza, ouvir perfeitamente o sussurro urbano? Saindo de minha casa, em passo ligeiro, vinte minutos depois estarei naquele paraíso.
Sim, as marinhas e as salinas são um perfeito paraíso. Com tendência para, nas últimas décadas, desaparecerem, pessoas com algum poder económico, visão de futuro, buscando algum lucro, mas também profundamente apostadas em não deixar morrer o que Aveiro tem de mais valioso- a produção do sal, começaram a recuperar algumas marinhas.
Passando a velhíssima Ponte de S. João (recentemente renovada), ali mesmo à esquina do Bairro da Beira-Mar, e tomando o caminho da antiga lota, somos surpreendidos com o extraordinário trabalho de recuperação de uma marinha que estava abandonada havia já trinta anos: a Marinha da Noeirinha.
Entrando no espaço ocupado pela marinha, damos de caras com algo incrível- uma praia, uma praia artificial, enorme, contendo dois elementos essenciais inerentes a qualquer praia: água salgada e areia. Não a medi, mas podemos bem contar com cem metros de areal, pontilhado de chapéus-de-sol cheios de exotismo. Podem-se tomar banhos salgados e SPA. No verão um autêntico ambiente paradisíaco mesmo à boca da cidade. Saindo da praia, num espaço adjacente, podemos usufruir da simpatia dos responsáveis por esta pequena maravilha, numa pequena loja museu, toda ela evocando a excelente região de Aveiro, onde se sente a história da pesca do bacalhau à linha, nos velhos lugres de Ílhavo, ou a beleza encantadora da Praia da Costa Nova e da Barra, e da magia de uma simples barrica de ovos-moles e apelativos sacos de flor-de-sal.
Tomei nota do endereço electrónico da Noeirinha para melhor poder compreendê-la: www.noeirinha.pt
Estive lá esta manhã, num excelente pedaço de manhã!
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