sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

VOTOS DE ANO NOVO FELIZ À SOMBRA DE UMA FLORESTA BEM VERDE

Já tive um texto escrito, algo extenso, para convosco partilhar neste final de ano. Mas, com tamanha tragédia que se abateu sobre Portugal, nos incêndios demoníacos de 17 de Junho e 15 de Outubro, o texto não fazia qualquer sentido. Por mais que escreva e sinta, não consigo preencher o vazio que aquelas cento e tal vidas ceifadas deixaram no meu sentir. O meu silêncio será a minha maior homenagem a essa infeliz centena de portugueses.
Que a política iluminada, que nos tem guiado nos dois últimos anos, se mantenha e melhore, no sentido de nos trazer mais justiça social e nos tornar num povo mais feliz, são os meus votos para o Ano Novo que se aproxima.
A todos os que visitam este humilde espaço, desejo um excelente 2018.

Obrigado pela vossa companhia!

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

PRESÉPIO DO POVO

Na minha infância, Natal que se prezasse tinha de ter o ritual de se ir, ao pinhal, apanhar musgo para o presépio. As primeiras alegrias desta época fabulosa, começavam com a humidade gelada do musgo a espalhar-se pelos dedos, e as narinas a impregnarem-se com aquele odor frio e intenso da relva do musgo humedecida pelo orvalho.
Depois, em casa, era a alegria infantil de ver o presépio tomar forma, com os seus actores a tomarem os seus respectivos lugares no território de musgo.
Venerava o Menino Jesus, o S. José e a Virgem Maria, a vaca, o burro, e todos os pastores e pastoras, acompanhados dos seus rebanhos, que se chegavam à gruta de papelão amarrotado, a adorarem o Menino, tal como eu fazia.
Mas depois alguém abriu a porta do Natal ao Pai Natal, e pela porta aberta o Menino Jesus foi-se embora e o presépio foi murchando. Hoje em dia, dos presépios nas nossas casas existem umas tristes amostras, remetidas para planos inferiores pelas exuberantes árvores de natal.
Mas o Natal continua a ser intenso.

A todos os que têm a simpatia de visitar este futrica e o seu Mondego, votos de um Natal muito feliz, feito essencialmente de afectos. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A EPOPEIA DO SEISCENTOS E SETENTA E UM

...Ali iam os dois naquela pasmaceira, o colega antigo mascarando o aspecto trôpego e alcoolizado com um ar severo e no seu entender respeitável, observando tudo e não dando conta de nada, e Serôdio, limitando-se a seguir o colega. Subitamente deu-se o choque. O antigo policia, olhando para a profundidade da rua que tão profissionalmente patrulhava, subitamente se modificou. Empertigando-se, pôs-se em posição de sentido, e com a mão direita, flácida, encostada à pala do boné cinzento, efectuou uma continência mole, sem dinamismo nem classe, enquanto que ao mesmo tempo gritava em altos berros:
-         Meu comissário principal, dá-me licença?
-         Avance seiscentos e setenta e um.
E o seiscentos e setenta e um, em passo de marcha, pelo passeio, abria caminho em direcção ao tal comissário principal, que como Serôdio mais tarde veio a saber, era um oficial rondante.
O seu colega seiscentos e setenta e um avançou pelo passeio cerca de cinquenta metros, e chegando próximo do oficial de ronda estacou o passo dizendo em altos berros:
-         Serviço sem novidade.

Serôdio, desgraçada e atabalhoadamente, seguiu o seu colega sem perceber o que se estava a passar. Tentando enfiar-se o mais que podia pelo boné dentro, percorreu aqueles cinquenta metros a morrer de vergonha. Em redor da cena, as pessoas passavam exibindo nos rostos sorrisos de troça e abanando as cabeças. Serôdio lá teve de apresentar ao tal comissário rondante a sua caderneta de controle. Depois de mais algumas encenações grotescas, o homem lá seguiu rua acima, enquanto Serôdio, acabrunhado, voltava a desfrutar da cálida e serena companhia do seiscentos e setenta e um. O comissário e o seiscentos e tal, de tão cavernosos e embrutecidos serem, nem sequer repararam que haviam proporcionado um hilariante e gratuito número de circo. Bem pelo contrário, nas suas cabeças bem fornecidas de osso, existia a convicção de que a população ficara agradecida por aquele solene e singelo momento de entrega ao serviço público...(em continuação, ex. XXXVI)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA: 1143- 1159- ACÇÕES DE UM CONQUISTADOR




Depois da Conferência de Zamora, em 1143, em que se realizou o Tratado de paz entre D. Afonso Henriques e D. Afonso VII de Leão, no espaço de dezasseis anos sucederam-se acontecimentos de grande importância para Portugal, tanto a nível do fortalecimento da nossa independência, como na acção da Reconquista Cristã do território da Península Ibérica aos Mouros.
Assim, em 1147 D. Afonso Henriques conquistou Santarém aos Sarracenos, bem como Lisboa, no que foi auxiliado por Cruzados.
Em 1151, houve a tentativa por parte de D. Afonso Henriques, de fazer uma aliança com o governador de Silves, o almóada Ibn Qasi, contra o senhor do Gharb Al-Andaluz, Abd Al-Mumin. Esta aliança saiu frustrada porque o governador de Silves foi entretanto assassinado.
Em 1158 D. Afonso Henriques conquistou Álcacer do Sal, após dois meses de cerco, de novo com ajuda de Cruzados.
Ainda em 1158, pacto secreto entre os reis D. Fernando II de Leão e D. Sancho III de Castela, celebrado depois da morte de D. Afonso VII. O pacto previa, além da divisão do território conquistado aos mouros, também da distribuição do reino de Portugal, caso viessem a conquistá-lo, como estava previsto. No entanto, por morte súbita de Sancho III, esse pacto ficou irremediavelmente comprometido, pelo que leoneses e castelhanos não puderam levar ávante os seus intentos.
No ano seguinte, em 1159, D. Afonso Henriques fez doação do castelo de Ceras à Ordem dos Templários, incluindo Tomar.
Cada vez mais a independência de Portugal ganhava consistência.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

ADEUS AO NINDA

-         Meu capitão, não consigo conceber o alferes Santa Cruz transformado num homem sedento de sangue. Ele é um oficial responsável, um homem dono de um espírito sensível...
-         Ouça alferes Mendes, ele agora é apenas um homem a quem mataram a namorada, que segundo parece, adorava. Tudo isto que eu disse pode não acontecer, mas há a possibilidade de no seu íntimo, a grande dor que sente, degenerar em algo nefasto. E que melhor meio para isso acontecer do que este ambiente? A personalidade humana é muito complexa. Há muito para descobrir sobre nós próprios, estou convencido disso. Não vamos mais longe, olhe o exemplo do inexplicável acontecimento de ontem, na picada. Como foi possível o alferes Santa Cruz ter previsto a localização exacta da emboscada, os pormenores da forma como ela estava montada, até o número exacto de turras que nos aguardavam? Que venha o melhor psicólogo explicar aquele facto, que eu sou todo ouvidos. Estou perfeitamente convicto de que existe uma parte de nós que desconhecemos. E a experiência que tenho da guerra dá-me alguma solidez para sustentar esta minha convicção. Por isso não vou arriscar.

         Dois dias depois Rui Mendes via Álvaro ser transportado numa pequena avioneta, a qual levantava voo da pista improvisada, contígua ao aquartelamento do Ninda, com destino a Luanda. A avioneta cada vez se tornava mais pequena, sendo a sua rota seguida pelo olhar do alferes. Álvaro partira antes do tempo, vivo. Da maldita guerra já se livrara. Mas punha-se a questão: que tipo de paz iria ele encontrar?... (em continuação, ex. XXXV)
in Visitados
Novembro/1999

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

XXI JANELA SOBRE O MEU PAÍS- CAVES ALIANÇA- AS CATACUMBAS DE BACO

Não, não se está a descer às profundezas dos infernos, antes às catacumbas de Baco, que por sinal se localizam bem perto, ali na Bairradina povoação de Sangalhos.
         Descem-se 120 metros abaixo do nível do chão e vamos sentir o aroma forte a vinho, que nas pipas de madeira fermenta. Visita fantástica.
         São as Caves Aliança onde se produz, provavelmente, o melhor espumante de Portugal.

         Boa visita!

domingo, 29 de outubro de 2017

A CAMINHO DA CALDEIRA

...António Avilar estivera a trabalhar nessa manhã no viteleiro, uma dependência da herdade onde eram reunidos os vitelos que iam nascendo. Inesperadamente surgira o mouro, que muito rudemente lhe ordenara que fosse para a zona da caldeira recolher uma manada de vacas que por ali pastava. António Avilar optou em ir pela estrada. Como a caldeira ficava fora de Alfeizerão, a caminho de S. Martinho do Porto, António Avilar tomou a direcção que o faria passar pelo Alto da Estrada.
         Que manhã magnífica ele desperdiçara dentro do viteleiro. O sol de Dezembro brilhava intensamente. Levando um cajado apoiado no ombro direito e o casaco velho pendurado nesse mesmo ombro, como era seu costume, António Avilar absorvia aquela dádiva da natureza, que era o calor macio do sol no fim de uma irradiante manhã de Dezembro.

         Subitamente, ao passar junto à capelinha de Santo Amaro, António Avilar estancou o passo. Muito sério, observava intensamente a capelinha. Junto à mesma estava parado o automóvel que lhe aparecera em sonhos. Era o mesmo. Sentiu um repentino arrepio. Os seus pensamentos voltavam a embrenhar-se no oculto, no mistério. Mas que havia ele de fazer? Aquele pesadelo entendera-o como um aviso. Agora que estava bem acordado, dar de caras com o malfadado automóvel, só poderia dar uma interpretação - toda a ameaça se começava a materializar. Rapidamente, sem voltar a olhar para aquele automóvel de mau agoiro, seguiu em frente, na direcção da caldeira, com o espírito perturbado...(em continuação, ex. LII)

in Quando Um Anjo Peca
Março/1998

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

PRIMAVERA E OUTONO, ESTAÇÕES DE FOGO NO PORTUGAL DE 2017

Escrevo estas palavras imbuído de uma enormíssima tristeza, pois para além de ver a floresta, muitas dezenas de habitações e unidades indústriais do meu país a serem consumidas pelo fogo, de ver este nobre Portugal vestir-se de negro, é-me muito difícil aceitar que 106 meus concidadãos tenham, naquele miserável dia 17 de Junho e neste muito recente e trágico 15 de Outubro, perdido a vida da forma mais cruel que se possa imaginar.
Estamos de luto por três dias mas não podemos estar em paz. Para quem diz que algo tem de mudar eu digo que tudo terá de ser diferente.
De quem é a culpa?
No meu entender a culpa é de sucessivas décadas de uma política incorrecta, ou melhor, sem política nenhuma, para as nossas florestas. Depois que a nossa sociedade mudou, os matos das florestas cresceram a seu belo prazer, de forma completamente irresponsável, e deixámo-nos de preocupar com a correcta florestação, visivelmente espreitando o lucro.
A culpa foi de políticas completamente erradas que extinguiram o corpo da guarda florestal, e que era um garante de vigilância e alerta.
Nesta segunda investida do fogo, o governo tem uma grande quota parte de responsabilidade, pois não foi sensível às alterações climatéricas. E porque o calendário normal dos fogos diz que em Outubro o tempo é de Outono, como tal de temperaturas mais baixas e primeiras chuvas, o governo afrouxou as medidas de segurança, subestimando a alterações do clima, o que se veio a revelar fatídico no Domingo passado.
Exige-se a queda do governo. Mas quem exige a sua queda é quem é incapaz de ver o trabalho que o governo apresentou, em prol da nossa recuperação económica, ou então exige essa demissão porque encontrou nos incêndios o pretexto que aguardava, para ver pelas costas o governo que a esses chamou de medíocres.
Em prol da nossa economia, em prol da recuperação de alguma dignidade de vida por parte do povo, considero que se o governo do PS cair, isso será um enorme erro.
A Direita anunciou a chegada do diabo. E estava certa. O diabo chegou mesmo, entrou no nosso pobre país e devastou-o. Resta saber se o diabo veio por sua livre e espontânea vontade, ou se foi solicitado.
É sabido que ele, o diabo, tem duas capas: com uma tapa e outra destapa. Cá estaremos para ver se este diabo tem, efectivamente, a capa que destapa.

Os meus mais profundos pêsames a todos os familiares das 106 vítimas mortais deste verão e Outono, neste queimado ano de 2017.

sábado, 14 de outubro de 2017

ONIX E TOPÁZIO, O REGRESSO DO ANTIGO SABOR DE COIMBRA

Como bom conimbricense que me considero, tenho um motivo para me sentir muito contente no que à memória coimbrã diz respeito.
É que nos anos 90 do século passado foram extintas duas marcas de cerveja, exclusivamente conimbricenses: a cerveja preta Onix e a cerveja branca Topázio. Poder-se-á achar estranho que eu dê tanto valor à existência de duas marcas de cerveja. Mas é que a questão é mesmo essa: eram de Coimbra, e num país em que tudo é de Lisboa, ter Coimbra duas marcas de cerveja exclusivas é algo bastante importante, para além de estas cervejas terem ajudado a abrilhantar a tradição, para já não falar no seu sabor, que, para quem gosta de cerveja, eram únicas.
Pois bem, eis que esta semana me chegaram às mãos duas garrafas de cerveja Onix e Topázio. Elas aí estão de novo, agora de fabrico artesanal, mas melhores que nunca.
Os meus parabéns à Praxis que apostou na tradição e na reposição de um símbolo coimbrão.

Vale bem um sonoro saído da alma AFRA!

sábado, 7 de outubro de 2017

EM FRENTE À CAPELA DE SANTO AMARO

...Obrigado senhor Bento. Compreendi-o perfeitamente. Onde posso encontrar então o senhor padre José Soares?
- A esta hora, na capela de Santo Amaro, aquela ali ao fundo que se vê daqui - indicou o taberneiro, apontando para o fundo da estrada que levava aos Casais do Norte.
- Mais uma vez obrigado - disse Américo, dirigindo-se para o automóvel. Foi interrompido pelo chamamento do taberneiro.
- Senhor doutor, Deus o abençoe!
         Américo respondeu com um leve sorriso. Entrou no automóvel e fez inversão de marcha, deslocando-se de seguida na direcção da capelinha de Santo Amaro.
         Seria de prever que os três rapazes e o taberneiro ficassem a admirar aquela coisa estranha em movimento. Mas, contrariamente, a novidade barulhenta fora relegada para segundo plano. A razão pela qual aquele forasteiro ali se apresentava, falava mais alto. Perturbada a memória colectiva, depressa esta resvalava para a recordação, o sofrimento. O povo vivia, preferia não se lembrar, mas não esquecia.
         O padre José Soares encontrava-se ocupado com a elaboração de dois assentos de baptismo que tinham tido lugar, havia poucos dias, na sua capelinha. Estava embrenhado naquela escrita, envolto por um pequeno espaço que existia à direita do altar, de pequenas dimensões. Era uma divisão pequenina, com uma escrivaninha simples, uma cadeira e algumas prateleiras onde estavam em arquivo os nascimentos, os baptismos e os óbitos que iam ocorrendo em Alfeizerão.
         Começava o padre José Soares a prestar mais atenção ás exigências do estômago do que propriamente aos pormenores relevantes, de interesse para o baptizado em que trabalhava, quando ouviu um som estranho que lhe parecia vir da entrada da capela. Pousou o aparo na escrivaninha, tapou o pequeno boião onde se encontrava a tinta permanente, saiu pela porta que dava directamente para o altar e atravessou a capelinha. Ao despontar à porta viu uma coisa, daquelas coisas a que chamavam automóvel, e junto àquela coisa um cavalheiro, um fidalgo, que tentava limpar vestígios de lama nas calças finas.
- Já tinha ouvido falar desta novidade do século, mas não tive oportunidade de ver nenhuma, até a este momento - disse o padre José Soares com as mãos à frente do abdómen, apertadas uma na outra.
- É mesmo apenas uma questão de oportunidade senhor padre - respondeu Américo Afonso.
- Efectivamente é. Para locais de maior urbanidade, o automóvel já não será uma novidade assim tão grande. Agora para meios pequenos como é Alfeizerão, ainda é um “Deus nos acuda” - disse o padre José Soares. Depois perguntou - o senhor vem de longe?

- Venho do Bombarral para falar sobre um assunto delicado, com a pessoa certa, que segundo me informou o taberneiro, é o senhor padre mesmo. (em continuação, ex. LI)

in Quando Um Anjo Peca
Março/1998

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

D. MANUEL MARTINS, BISPO DE SETÚBAL, O BISPO VERMELHO




Geralmente não presto grande atenção às nomeações dos sacerdotes católicos para bispos. Como tal nunca sei qual é o bispo que ocupa a diocese daqui ou dali…inclusivé a de Aveiro, a cidade onde vivo. E isso acontece por uma simples razão: embora eu seja católico (não praticante), considero que o mundo dos bispos é inacessível ao meu pequenito mundo. Como tal essas nomeações nunca me despertaram qualquer interesse. Excepto D. Manuel Martins!
Em qualquer lugar em que o visse, em qualquer situação em que me encontrasse, eu saberia que aquele senhor era o Bispo de Setúbal, porque ao contrário de todos os outros bispos, a D. Manuel Martins eu vi-o muitas vezes na televisão, a ser interventivo na vida da sua diocese, a defender a triste condição dos pobres. Por isso era chamado o Bispo Vermelho.
Faleceu hoje!
Obrigado D. Manuel Martins pela sua entrega, pela sua luta pelos mais desfavorecidos, por ter mostrado como a religião pode ser importante na política que decide a vida de um povo.

sábado, 9 de setembro de 2017

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA: CONFERÊNCIA DE ZAMORA- 1143, QUEM NÃO SABE ESTA DATA NÃO É BOM PORTUGUÊS

O início da nacionalidade caracterizou-se por uma luta em duas frentes: enquanto no território portucalense D. Afonso Henriques fazia frente ao rei de Leão, no sentido de obter a independência, ao sul de Coimbra conquistava território aos mouros, inserido no movimento da reconquista cristã, na Península Ibérica. Foi essa acção que marcou a vitória na Batalha de Ourique, que tivera lugar em 1139, entre todas as outras acções.
         Quatro anos volvidos, em 1143, teve lugar a Conferência de Zamora, através da qual chegava a paz entre as duas partes ibéricas: o Condado Portucalense, com pretensões a reino independente, liderado por D. Afonso Henriques e o Reino de Leão, tendo por rei D. Afonso VII de Leão, que teve por testemunha o legado papal Guido de Vico, tendo sido reconhecido a Afonso Henriques o título de rei, que se colocou a si e ao reino de Portugal sob a protecção de Roma, mediante o pagamento de um censo anual no valor de quatro onças de ouro.
         Estavam escancaradas as portas para a independência.

         Quando eu andava na escola primária aprendia-se que: 1143, quem não sabe esta data não é bom português!

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A VIDA TERRENA ESQUECE TUDO O QUE É ESPITIRUAL

...Finalmente me encontrava no meu refúgio. Estava imensamente agradecido ao meu pai por me ter criado aquele espaço paradisíaco, que era o meu consultório, onde me achava senhor de todo o mundo, pois sabia que ao sair do conforto daquelas quatro paredes a realidade era bem diferente, dado que o mundo não era meu, mas eu é que era do mundo. E pela razão de serem as outras pessoas a condicionarem a nossa vida, pelo menos em certas circunstâncias, é que eu naquele dia me vira confrontado com aqueles dois cadáveres. Eu não estava a perceber muito bem porque razão, sendo eu médico, e tendo tido, obrigatoriamente, múltiplos contactos com defuntos, a visão daqueles dois me havia impressionado daquela forma. Reflectindo nessa questão apercebi-me então de que, embora a morte me não fosse estranha, iria estar intrinsecamente ligada à minha actividade profissional. Essa conclusão não me agradou, pois a cada morto que se cruzasse no meu caminho iria estar ligado um drama, sofrimento, e tais constatações tornariam mais pálida a minha felicidade. Mal eu sabia o número imenso de mortos que o destino resolvera colocar nesse meu caminho. Soubesse eu então o que sei hoje… estou a expressar-me incorrectamente… tivesse eu me lembrado do que hoje sei ser uma certeza, e que naquela altura apenas o havia esquecido, e a morte não se me afiguraria como uma fonte de sofrimento. Mas a vida terrena baseia-se no esquecimento de tudo o que é espiritual; e por vezes esse esquecimento é tão profundo que do espírito nem um leve pressentimento existe...(em continuidade, pág. 48, ex. XXVI)
in Alma de Liberal
Junho/2009

sábado, 19 de agosto de 2017

XX JANELA SOBRE O MEU PAÍS- PRAIA DA COSTA NOVA DO PRADO- REPOUSO DO HERÓI

Na imensidão da ria de Aveiro, no canal de Mira, que transmite beleza à já de si bela Costa Nova do Prado, entre guerreiros que para sempre descansam sobre as águas calmas, um herói repousa, recuperando energias para novas e ansiadas lutas.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

MÉDICO E DEFENSOR DO IDEAL LIBERAL


- O meu pai conhece o Francisco Carvalho?

- Nunca ouvi tal nome.

- E o Ti Chico Aduelas?

- Esse sim. É talvez o melhor tanoeiro aqui da região. Muitas das nossas pipas e tonéis fê-las ele.

- Os dois são a mesma pessoa. Pois saiba que a falecida era filha dele.

         O meu pai fixou-me, em silêncio, benzendo-se. Depois disse:

- Pobre home. Mas pelo que me tem chegado aos oividos o matador que se cuide, pois o tanoeiro, quando lhe calcam os calos não é flor que se cheire. E outra coisa se não está à espera. Perder assim um home  uma filha, é obra.

         E só depois deste diálogo pude entrar em casa. Estava cansado, ansiava por um pouco de sossego, mas ainda tive de responder ao meu pai sobre questões relacionadas com a forma como o Conde de Cértima me havia recebido. Lá lhe contei que o fidalgo percebera perfeitamente que eu era defensor do ideal liberal, mas que tal não iria impedir que eu ali continuasse a ir, na qualidade de médico, ao que o meu pai respondeu que isso não era razão para ter cuidados, pois em que outra qualidade haveria eu de entrar naquela casa, senão na de médico?!

         E deixou-me só...(em continuação, pág. 47, ex. XXV)

in Alma de Liberal
Junho/2009

segunda-feira, 31 de julho de 2017

EM 1572, O SIM DA CENSURA DA INQUISIÇÃO À FÁBULA DOS DEUSES CHAMADA OS LUSÍADAS


«Por mandado da santa geral inquisição estes dez cantos dos Lusíadas de Luís de Camões,  dos valerosos feitos em armas que os portugueses fizeram em Asia e Europa, não achey nelles cousa alg~ua escandalosa, nem contraria à fé e bõs custumes, somente me pareceo que era necessário advertir os lectores que o autor pera encarecer a dificuldade da navegação e entrada dos portugueses na India, (…) de b~ua ficção dos deoses dos gentios. E ainda que Sancto Angustinho nas suas retractações  se retracte de ter chamado nos livros que compôs de ordine aas musas deosas todavia como isto he poesia e fingimento e o autor como poeta, não pretenda mais que ornar o estilo poético não tivemos por inconveniente (…) esta fabula dos deoses na obra, conhecendoa por tal. E ficando sempre salva a verdade de nossa sancta fé, que todos os deoses dos gentios sam demónios. E por isso me pareceo o livro digno de se imprimir, e o autor mostra nelle muito engenho e muita erudição nas sciencias humanas. Em fe do qual assiney aqui.

Frey Bertholameu Ferreira»

E assim, depois desta autorização oficial da inquisição, Os Lusíadas veio a ser livro, em 1572, para deleite e orgulho do Povo Lusitano, nós!


sábado, 22 de julho de 2017

IRONIA PREOCUPANTE DE ÍSIS

...-         Que pretendes de mim, pequeno sifto?- perguntou Amon-Rá ao ver chegar o sifto.
-         Divino Amon, venho falar-te sobre o sumo sacerdote que o faraó escolheu para o culto a Aton.
-         Sobre o quê?- perguntou Amon-Rá, intrigado- e desde quando faz parte das funções de um sifto preocupar-se com questões desse teor? Por acaso ordenei-te que o fizesses?
-         Não, divino Amon, mas pensei que talvez tivesses curiosidade em saber algo sobre ele.
-         Sabes o nome dele?- perguntou o deus ancião Aton.
-         Efreiménus- respondeu o falso sifto. 
Desde a chegada do sifto que a deusa Ísis se começou a sentir desconfortável. Não sabia explicar, mas algo na água se fazia conduzir que lhe transmitia um mau estar. Tendo consciência de que era a deusa da magia, Ísis fez irradiar magia por todo o espaço de MassiftonRá, no propósito de obter uma resposta que lhe desse a justificação para aquele seu mau estar; e rapidamente a magia se começou a canalizar para o sifto que se encontrava ali. A deusa Ísis concentrou então toda a sua atenção e energia naquele peixe, e lentamente, mas conclusivamente, começou a sentir que, camuflada por debaixo de todas as vibrações que emanavam do sifto, existia uma energia incomodativa, a fonte do seu desconforto. Sem que isso fosse pressentido pelo sifto, a magia de Ísis começou a inspeccionar a energia camuflada, lendo-a como a um livro que, ganhando vontade própria, se recusava a ser lido. E subitamente a deusa Ísis estremeceu. Reconhecera a energia camuflada! E num ímpeto, disse:
-         Sifto, explica-nos como descobriste o nome do sumo sacerdote.
-         Foi fácil. Introduzi-me no palácio do faraó...
-         Mas porque razão o fizeste, sifto?- perguntava Amon-Rá- eu posso compreender que me queiras agradar, mas isso é uma insubordinação. Os siftos têm de se limitar às ordens que eu lhes dou.
-         Não sejas injusto para com os teus siftos, Amon- disse a deusa Ísis.
-         E deixo passar esta indisciplina, sem nada dizer?- perguntava Amon-Rá com semblante de zangado.

-         Ao que tu te referes seria uma indisciplina, se esse peixe fosse um sifto, o que não é o caso- disse a deusa Ísis com ironia...(em continuação, pág. 68, ex. XXIX)

in A Causa de MassiftonRá

Novembro/2005

domingo, 9 de julho de 2017

XIX JANELA SOBRE O MEU PAÍS- AVEIRO, JERÓNIMO PEREIRA CAMPOS- FÁBRICA E TURISMO

Aveiro, Fábrica de Cerâmica Jerónimo Pereira Campos, em finais do séc. XIX, um pólo industrial, onde apenas havia lugar ao esforço do braço forte do povo.
Cem anos depois, Fábrica de Cerâmica Jerónimo Pereira Campos, pólo da indústria mental, onde a intelectualidade debate as suas idéias, um dos mais atractivos pólos turísticos de Aveiro, ali, no Cais da Fonte Nova.

Bem Vindos a Aveiro!

segunda-feira, 3 de julho de 2017

CAPAS NEGRAS ROÇANDO A IDADE ANTIGA DAS PEDRAS DA SÉ VELHA, NA TRADIÇÃO COIMBRÃ

As pedras centenárias e gastas da calçada da Sé Velha mais uma vez serão pisadas pela tradição coimbrã. Capas negras, novas e velhas, roçando a idade antiga das pedras, envolverão de emoção os corações que cobrem, corações de estudantes, que ao som do trinado das guitarras tornarão eterno o fado Hilário.

sexta-feira, 30 de junho de 2017

PTAHKNOR, A EXECUÇÃO DE UMA GRAVÍSSIMA FALTA

...Então Seth retomou a forma de peixe, pressionou o estômago conforme a indicação de Ptahknor, e imediatamente viu o seu corpo de tiláquia ser contornado por uma luz azulada.
-         Agora és um perfeito sifto- disse o crocodilo Bhokurac.
-         Muito bem. Sendo assim estou pronto para avançar- afirmou Seth.
-         Não te esqueças do nosso acordo.
-         Fica descansado, Ptahknor. Amon-Rá terá razões para destituir o deus Sobek e dar-te esse cargo.
E o deus Seth, disfarçado em sifto, avançou na direcção do mundo submerso dos deuses, o paradisíaco MassiftonRá.
Ptahknor, por momentos, ficou a ver aquele falso sifto a avançar para um mundo que lhe estava interdito. Sabendo-se conivente com aquela grave transgressão à vontade de Amon-Rá, o crocodilo Bhokurac preferiu não continuar a ver a execução da sua gravíssima falta, pelo que decidiu voltar costas ao avanço de Seth, saindo dali rapidamente, desaparecendo na escuridão das águas do Nilo.
Entretanto Seth avançava. Eram já visíveis as paredes aquáticas, iluminadas e translúcidas de MassiftonRá. Naquele ponto, apenas era permitida a presença ao deus crocodilo Sobek e aos siftos. Aos restantes crocodilos guardiães, Taaril e aos dois Bhokurac, era já zona interdita.
Seth nadava pelo meio de inúmeros siftos, que se deslocavam de um lado para o outro. Sabia que se um sifto quisesse entrar em MassiftonRá, teria de pedir permissão a Amon-Rá, através de mensagem telepática; e foi o que Seth fez. Aguardou algum tempo pela resposta, que por fim acabou por chegar, autorizando a sua entrada. Seth avançou e deliciou-se com as vibrações subtis que atravessavam o seu corpo.

Bem no interior do mundo dos deuses lá foi encontrar a sua mãe, o seu pai e os seus irmãos, entre todos os outros deuses. Sentiu uma momentânea tristeza por não poder pertencer àquele mundo. Por isso mesmo aquela tristeza deveria ser compensada com uma doce vingança...(em continuação, pág. 67, ex. XXVIII)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A MORTE CAIU ABRASADORA NA ESTRADA 236 EM PEDRÓGÃO GRANDE

Os últimos dias foram sombrios, negros, tão negros como negro e mortal foi o fumo denso que se libertou da floresta a arder em Pedrógão Grande, no Centro do nosso país. E muito mais grave do que a floresta e os bens que levou, foram as 64 vidas que ceifou. 64 mortos! Ali, na estrada. Tocou-me fundo tomar conhecimento da história de alguns desses infelizes, de entre eles, aquela família de quatro pessoas, pai, mãe e dois filhos pequenos, que após terem passado o dia 17 de Junho, um Sábado em família, no complexo balnear de Castanheira de Pêra, avançaram para a horrível morte que os aguardava, naquele eternamente trágico troço de 400 metros da Estrada Nacional 236. Por certo, o casal, tendo por norma de vida a utilização da internet como eu faço neste momento.
E isto porquê? É que além de continuarmos a subestimar permanentemente a natureza, e talvez por isso mesmo, deixámo-nos de preocupar com as nossas florestas. Antigamente, há 50 anos, quando Portugal era um país pobre e rural, a floresta estava cuidada, pois que toda a caruma dos pinheiros e as folhas mortas (que são o combustível por excelência que alimenta os incêndios), era aproveitada para fazer a cama aos animais nos currais. Hoje em dia, porque somos um país rico, e temo-lo sentido bem na pele o peso da nossa riqueza, desprezamos toda essa camada orgânica das florestas. Quando digo nós, falo dos proprietários e do Estado. O maior culpado é o Estado que não limpa nem se tem preocupado em fazer limpar. Nestes últimos quarenta anos, ano após ano, o cenário de verão é sempre o mesmo e as promessas de medidas a tomar também. A natureza este ano deu uma grande lição ao Estado, à custa de 64 vidas que a única coisa que queriam era viver o seu Sábado descontraidamente.
         Tal como a nossa política económica nos enviou para as garras da troyka, também a nossa política florestal nos tem feito a cama. Não sei se tem sido incompetência ou cedência a interesses da indústria madeireira.

         Uma palavra de reconhecimento e de agradecimento aos  verdadeiros heróis deste país, os nossos bombeiros voluntários. Eles fazem o que podem e muitas vezes o que não podem. A muitos o fogo já os levou. Este ano, um dos 64 mortos, foi um desses valentes bombeiros. Mas são meros homens, que muito pouco podem contra a ganância e eu sei lá que mais atrocidades que viverão pelos corredores da política em Portugal. 

quinta-feira, 15 de junho de 2017

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA: 1139- BATALHA DE OURIQUE, A PRIMEIRA VITÓRIA PORTUGUESA

No trabalho contínuo de fortalecer a aspiração de independência, D. Afonso Henriques, inserido nas lutas da reconquista cristã da Península Ibérica, fazia esporádicas incursões ao sul da Península, em pleno território mouro. Numa dessas sortidas, a 25 de Julho de 1139, saiu-lhe ao caminho um enormíssimo exército almorávida, formado por tropas de cinco réis mouros. Independentemente do número, as tropas portuguesas cristãs levaram os mouros de vencida. Esta vitória foi de tal forma corajosa, que as tropas portuguesas deram a D. Afonso Henriques o título de Rei de Portugal.
Um dos soldados que fez parte desse lendário exército foi Gualdim Paes, mais tarde Grão-Mestre da Ordem dos Templários em Portugal.
O facto de D. Afonso Henriques ter lutado contra cinco réis mouros, e a fé em que a batalha decorreu sobre a protecção das cinco chagas de Cristo, serviram para criar o Brasão de Armas de Portugal.

Batalha de Ourique, um facto decisivo para a fundação do Reino de Portugal.

domingo, 11 de junho de 2017

MISERÁVEIS CONDIÇÕES OFERECIDAS COM SORRISOS CÍNICOS


...De Torres Novas ficaram-lhe as saudades do intenso sabor a Ribatejo que existia no ar, e dos petiscos que comeu no típico restaurante «Solar do Melro».
         A vila ribatejana era já e só uma recordação. Descobrindo a rudeza do serviço da patrulha, Serôdio percorria agora as ruas de Lisboa. E numa sumptuosa manhã de sol lisboeta, o então jovem guarda de segunda classe da Policia de Segurança Pública sofreu o seu primeiro grande choque profissional. Prestava serviço em Lisboa havia dois meses. A adaptação à nova vida fazia-se muito lentamente. Andava cansado, pois dormir em camaratas de apoio a esquadras operacionais, era bem diferente do que dormir nas camaratas de Torres Novas. Em Lisboa era um corrupio constante de homens. Ora iam para gratificados, ora vinham de gratificados. Uns iam fazer o turno de serviço, outros chegavam tendo-o acabado. Até se habituar aos inúmeros despertadores que tocavam, aos muitos roncos dos que dormiam, ao barulho, muitas das vezes propositado, feito por alguns que sem qualquer tipo de formação moral ou cívica, desrespeitavam o descanso de outros, aos cheiros exalados por corpos menos habituados à higiene, era difícil a Serôdio conciliar o sono. Mas era nas miseráveis condições que a PSP e os sorrisos hipócritas dos seus oficiais tão delicadamente ofereciam aos guardas, que Serôdio teria de aprender a viver. Casas degradadas, onde funcionavam sombrias e asquerosas camaratas, faziam parte do seu quotidiano, enquanto profissional de policia. Com o espirito nutrido pelo degradante ambiente da sua camarata, quando entrasse de serviço havia de ser linda a missão!!
         Independentemente da desmotivação criada pelas condições terceiro-mundistas em que descansava, naquela manhã Serôdio estava bem disposto, pois o sol matinal irradiava felicidade que o tornava prenhe de alegria.
         Efectuava o serviço em patrulha dobrada, tendo por companhia um colega bem mais velho. Eram onze horas da manhã e o seu colega já visitara três tasquinhas. Nas duas primeiras bebera um cálice de «Favaios» em cada uma e na terceira despejara um copo de «ginja com elas». Obviamente que Serôdio detestava a companhia. O homem praticamente que ainda não abrira a boca. A principio Serôdio tinha a intenção de pedir ao seu colega mais velho explicações sobre formas de comportamento, perante variadas situações, mas depressa desistiu da ideia. Aquele policia veterano apenas conhecia o caminho para as tascas e bares de prostitutas...(em continuação, pág. 88, ex. XXXV)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

terça-feira, 6 de junho de 2017

PEDRO HISPANO, PAPA JOÃO XXI, O ÚNICO PORTUGUÊS À FRENTE DO VATICANO

Hoje em dia temos imensas preocupações que, se não tivermos cautela, consomem-nos toda a vitalidade. E são preocupações bastante substanciais: não é brincadeira nenhuma o presidente da maior potência do mundo demarcar-se do acordo de Paris, onde o mundo se comprometeu a iniciar o processo de respeito pelo ambiente, para que os nossos netos tenham a possibilidade de virem a ter um planeta saudável onde a vida, tal como a conhecemos, seja uma certeza.
Não é brincadeira nenhuma sabermos que a multiplicidade de atentados terroristas, ocorridos este ano na Europa, tiveram origem em indivíduos de origem muçulmana, que se encontravam completamente inseridos, e há muitos anos, nas comunidades que atacaram. Mas vamos ter esperança de que, tanto para um caso como para outro, os cientistas e os políticos consigam arranjar soluções que ultrapassem a estupidez humana.
Mas para fugir a todas estas preocupações vou falar de algo, uma informação que se cruzou no meu caminho há pouco, e que eu achei deveras interessante. No passado dia 20 de Maio completaram-se 740 anos sobre a morte de um português chamado Pedro Julião ou Pedro Hispano. Em vida assumiu os dois nomes. Tanto um como outro são nomes dados a alguns hospitais portugueses. Quem foi este homem?
Nasceu em Lisboa em 1215. Formou-se em medicina pela Universidade de Paris, tendo tido uma riquíssima actividade académica e abraçou a vida eclesiástica. A 20 de Setembro de 1276 foi eleito Papa, tendo assumido o nome Pontifício de João XXI. O seu Pontificado foi dos mais curtos da história do Vaticano. Oito meses depois, a 20 de Maio de 1277, quando se encontrava na sua casa de campo papal, na cidade de Viterbo, o palácio papal estava em obras, pelo que o tecto da divisão em que se encontrava desabou, tendo-o matado instantaneamente. Tinha então 62 anos de idade.
Pedro Hispano, o único papa português até ao presente, já lá vão sete séculos!


quarta-feira, 31 de maio de 2017

XVIII JANELA SOBRE O MEU PAÍS- EM S. GEMIL, UMA RUA DE SERENIDADE

Uma rua diferente de todas as ruas por onde tenho andado. Passa-se na estrada principal, num plano superior, e nem se dá por ela, de tão escondida que está. Toda ela transmite a agressividade sã da dureza da região em que se insere. A robustez das casas impressiona. A beleza simples e natural faz bem à mente. Estamos numa paradisíaca rua da povoação de S. Gemil, portas meias com Viseu.

         Mas que extraordinárias férias se hão-de passar naquela rua!

quinta-feira, 25 de maio de 2017

UMA TRIBUNA DE CARRANCAS

...Os dias foram-se escoando. Depois de muitas manifestações de estupidez a que assistira, que provocaram o aumento da desilusão no seu intimo, chegou o dia 16 de Junho de 1983, dia em que prestou o Compromisso de Honra. Aquela cerimónia foi em tudo idêntica ao Juramento de Bandeira na tropa. As companhias perfilaram-se, os guardas provisórios comprometeram-se a defender a segurança interna do país e depois desfilaram perante os seus familiares e uma tribuna recheada de gente distinta, tais como coronéis, majores e altos comissários. Quando as companhias, marchando, faziam o «olhar à direita», prestando assim continência às altas individualidades, Serôdio num breve momento pôde apreciar as «carrancas» nobres e distintas dos senhores, que carregados de galões e medalhas brilhando ao peito, estavam maravilhados com aquele belo espectáculo, composto por quinhentos e setenta rapazes marchando, que assim enchiam a população de Torres Novas de muita alegria. Portugal rejubilava de satisfação, porque tinha mais quinhentos e setenta queridos policias ao seu serviço. Era pois perfeitamente compreensível a felicidade que se via estampada, nos rostos fechados pelo embrutecimento, dos oficiais que naquela tribuna se encontravam. Naquele momento, estavam perfeitamente conscientes de que prestavam um grande serviço ao país, e assim justificavam em pleno os bons vencimentos que auferiam... enquanto os rapazes, vestidos com a sua farda de gala, para muitos o único fato que até ali haviam conhecido, à sua frente passavam a «olhar à direita»... «olhar à direita»...

         Na alocução que o comandante da escola proferira, um Comissário Principal, dissera que estar-se na policia não era ter-se um emprego. O serviço da PSP teria sempre que estar sustentado por um alto espirito de missão. Logo naquele momento, aquela ideologia não soou muito bem a Serôdio. E estava certo nessa dúvida, como mais tarde veio a constatar. Mas por enquanto ele era apenas um guardita, de olhos fechados, que ia ser lançado para o meio do circo de feras. Essa era a sua grande preocupação. Com  muito ou pouco gosto era efectivamente um agente da PSP, e teria que se assumir como tal...(em continuação, pág. 87, ex. XXXIV)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

sábado, 20 de maio de 2017

UMA CARTA PARA ROLF CHRISTOFFERSEN

4 de Maio de 1945. Virginia Christoffersen, a viver em New Jersey, enviou uma carta ao seu saudoso marido Rolf Christoffersen, marinheiro norueguês radicado nos Estados Unidos, embarcado num navio que estava atracado em Porto of Spain- Trinidad e Tobago. No entanto a carta nunca chegou ao destino tendo sido devolvida.
2017. Allen Cook e a filha Melissa, a viverem em New Jersey, resolveram fazer obras na sua casa, recentemente adquirida. A dado momento o genro de Cook apercebeu-se de algo que despontava por debaixo de um taco solto. Levantou o taco e deparou-se com um sobrescrito amarelecido, endereçado a um tal Rolf Christoffersen. Melissa, entusiasmada, imediatamente se pôs a pesquisar aquele nome no google,  tendo encontrado um Rolf Christoffersen a viver em Santa Bárbara- Califórnia.
Conseguiu entrar em contacto com o senhor, tendo sido informada de que Rolf Christoffersen tinha 66 anos de idade e era filho de um outro Rolf Christoffersen, este actualmente com 96 anos de idade. Rolf Christoffersen filho informou-a ainda de que a sua mãe, já falecida, se chamara Virginia Christoffersen.
Desta forma Rolf Christofferssen, antigo marinheiro, com 96 anos de idade, recebeu finalmente a carta da sua esposa Virginia, escrita e enviada 72 anos antes, em que o informava de que iria ser pai brevemente.
Não, não é uma invenção minha. O Diário de Aveiro noticiou esta história encantadora como notícia que terá sido avançada pela CNN.

Afinal, a criatividade dos escritores pode não ser tão irrealista assim.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

FLORES À MEMÓRIA DOS AVEIRENSES QUE SOFRERAM PELA LIBERDADE

Há certos gestos que me sensibilizam enormemente, principalmente quando têm lugar em prol de causas esquecidas, excepto para quem executou esse gesto.
Hoje, ao passar junto ao obelisco «à memória dos aveirenses que sofreram pela liberdade», que foi erigido pelo Clube dos Galitos em Dezembro de 1909, reparei que na sua base se encontrava uma fresca coroa de flores. Foi este o gesto que me emocionou. É que anteontem, 16 de Maio, completou-se mais um ano sobre a primeira revolta liberal que ocorreu em Portugal, contra o regime absolutista de D. Miguel, a 16 de Maio de 1828, que além do povo envolveu também o Batalhão de Caçadores Dez, de que resultou o enforcamento de sete aveirenses ilustres na Praça Nova no Porto. Estava lançada a semente para a guerra civil que se aproximava, e que iria ditar o fim da monarquia absoluta em Portugal.

Tanto que pode significar uma coroa de flores!

domingo, 14 de maio de 2017

«AMAR PELOS DOIS», UM AMOR QUE DEMOROU 53 ANOS A SER REALIZADO

Estou muito feliz. Já tinha perdido as esperanças de ver Portugal a ganhar o Festival da Eurovisão.
A minha geração começou a acompanhar o Festival da Eurovisão praticamente ao entrar para a escola primária. Eu comecei na escola primária em 1962, e dois anos depois realizou-se o primeiro Festival da Eurovisão. Ainda me lembro muito bem de ver a cantora inglesa Sandie Shaw, surgir em palco descalça, em 1967, e nesse festival arrebatar o primeiro lugar. Desde logo comecei a amealhar desilusões, e algumas bem difíceis de digerir, já que por vezes levámos músicas muito bonitas.
Estou bem consciente do que escrevi antes e por tal razão, e pela primeira vez, muito satisfeito por os júris não terem concordado comigo, e a Europa em geral. Afinal a nossa música teve uma melodia com capacidade para derreter corações. Quebrou-se o enguiço, e de uma forma o mais simples possível: uma música acompanhada apenas com piano, com uma letra extremamente intimista e interpretada de uma forma suave, muito peculiar. Uma música «feita de sentimentos», como afirmou o seu intérprete Salvador Sobral. Não haja dúvida de que o jazz é uma enorme escola.
O Salvador foi mesmo o nosso Salvador e por isso se imortalizou na história da música em Portugal. É verdade!
Foram 53 anos a tentar. E ele foi o primeiro a consegui-lo, com uma música escrita pela sua irmã Luísa Sobral a quem também devemos esta honra. Por isso dar aos irmãos os meus parabéns acho que é muito pouco, mas nada mais tenho para lhes oferecer, a não ser estas palavras de gratidão muito sentidas.
E, claro, a minha promessa de que, no próximo inverno, com imenso prazer, ao som da vossa e nossa «amar pelos dois», ao calor de uma lareira, à vossa saúde e à de Portugal, erguerei bem alto um cálice de aguardente velha bem portuguesa.

Muito obrigado Luísa e Salvador Sobral!

sexta-feira, 12 de maio de 2017

FÁTIMA, CEM ANOS DEPOIS

Não poderia ser indiferente à passagem do primeiro centenário das aparições de Fátima. Se o fizesse seria ingrato e incoerente comigo mesmo.
A 13 de Maio de 1917, pelos montes de Cova de Iria, em Fátima, uma pequena povoação do Distrito de Leiria num Portugal rural e recentemente republicano, três pequenos pastores, Francisco, Jacinta e Lúcia, afirmaram terem visto e conversado com uma senhora vestida de branco que pairava no ar. A partir desse momento nasceu um dos maiores fenómenos religiosos da Cristandade.
Depois de ter recebido a visita do Papa Paulo VI, em 1967, do extraordinário Papa João Paulo II, em 1982, 1991 e 2000 para a beatificação dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, do Papa Bento XVI, em 2010, chegou agora a vez do também extraordinário Papa Francisco rezar no Santuário de Fátima, que amanhã irá canonizar Francisco e Jacinta Marto.
Fátima é fé, essencialmente lugar que tem servido de bálsamo às dores físicas e da alma de muitos e muitos homens e mulheres de Portugal e do resto do mundo. Eu sou exemplo dessa força e dessa ajuda. Essa a razão que explica o fluxo de milhares e milhares de peregrinos, incessantemente, neste período de cem anos que se completa amanhã.

Santuário de Fátima, que alberga a santificada Cova de Iria, diferente e intenso de fé!
Obrigado a ti, Senhora de Branco em Fátima.