Divino
senhor, em que te posso servir?- disse um escravo do palácio, que alertado
pelos gritos do faraó, acorreu em seu auxílio.
-
Desaparece daqui imbecil, antes que eu próprio te corte a cabeça- respondeu o
faraó ao solicito escravo.
Horus se fora mas ainda ouvira as palavras
gritadas do faraó. Levava o coração muito triste. Pela primeira vez, desde que
Aton projectara o Egipto, de MassiftonRá saíra uma péssima decisão, que dava
pelo nome de Amenhotep, o quarto.
Em MassiftonRá os deuses estavam agitados.
Horus relatara o desfecho do seu encontro com o faraó. A insubordinação de
Amenhotep, o quarto, era imensamente constrangedora para Amon-Rá. O deus
supremo estava com um grave problema em mãos e não sabia como lidar com ele.
Perante a arrogância do faraó, Amon-Rá sentia-se impotente para o enfrentar.
Os deuses manifestavam a sua vontade e o
seu poder no aspecto espiritual dos homens, porque em relação aos assuntos
terrenos, puramente materiais, de carácter mundano, que supremacia tinham eles?
Como se obrigava o chefe do reino Egípcio a abdicar de uma mulher? Nefertiti,
enquanto ser carnal, pertencia ao carácter mundano da questão. O faraó dera-lhe
a escolher entre a vida solitária e simples do templo, e a sumptuosidade que
determinava a condição de rainha. Ela escolhera ser rainha. A gravidade do
problema não residia aí, mas antes na declarada falta de submissão por parte do
faraó ao deus supremo. Nunca antes a supremacia incondicional de Amon-Rá tinha
sido colocada em causa.
Onde estava a força em Amon-Rá, que obrigaria o faraó a
respeitar o deus supremo como a vontade mais poderosa de todo o Egipto?
Simplesmente não existia, porque nunca houvera a necessidade em que essa força
existisse. Amon-Rá era essencialmente a representação do bem no Egipto. O deus
supremo não reprimia, apenas auxiliava; e existia um lado ainda mais sórdido na
questão. Assim como o faraó demonstrava ter total poder sobre Nefertiti, também
exercia esse poder sobre Masahemba, o Sumo Sacerdote de Amon-Rá. O deus supremo
estava deveras preocupado.
-
Masahemba está à mercê do faraó. Vocês digam algo, aconselhem-me no sentido de
eu conseguir preservar a integridade física e moral do meu Sumo Sacerdote-
dizia Amon-Rá, dirigindo-se aos restantes deuses.
-
Divino mestre, apela à tua influência no seio dos homens, para que dêem abrigo
ao teu Sumo Sacerdote- disse Ánubis, o deus chacal.
- O
que queres dizer com isso?- Perguntou Amon-Rá.
-
Retira-o do templo e esconde-o- exclamou Ánubis.
- E
como é que eu faço isso?
-
Lês nos espíritos dos que te são fiéis a possibilidade de te ajudarem neste
momento crítico. Há-de existir alguém disponível para dar guarida a Masahemba.
-
Sim, estou a seguir o teu raciocínio, Ánubis. Posso também utilizar os siftos
para que me ajudem a encontrar essa pessoa. Posso ainda colocar os siftos a
controlarem os movimentos do faraó, e a servirem de intercâmbio entre mim e os
homens disponíveis a ajudarem-me.
-
Mas isso tem de ser feito rapidamente- avisou a deusa Ísis- pressinto que no
faraó está iminente uma atitude contra ti. Envia um sifto a avisar Masahemba.
Ele que saia já do templo, mesmo sem ter para onde ir. Faça uso da sua
capacidade natural de sobrevivência, herança legada pelo seu povo.
- E
será viável a Masahemba, um mortal, a possibilidade de contactar directamente
com um sifto?- perguntou Amon-Rá, dirigindo-se ao deus Áton.
-
Até agora tal contacto nunca se fez- respondeu o deus ancião- mas perante esta
inusitada situação, há lugar a abrir-se uma excepção, levando em conta que o
mortal em questão é teu Sumo Sacerdote.
-
Pois que assim se faça. De modo nenhum Masahemba deverá sofrer por causa deste
problema.
-
Tens uma afeição muito grande por esse rapaz, não tens?- perguntou Áton.
-
Sim. O pai dele, um nobre de um reino do sul, veio um dia visitar o Egipto. Ao
deparar-se com uma estátua eregida em minha honra, ficou-me fiel para sempre.
Bom alimento recebi da parte daquele homem. A sua fé em mim era tal, que acabou
por trocar a sua terra pelo Egipto, só para poder estar mais próximo de mim.
Foi morto pela sua gente, que não lhe perdoaram o facto de se ter tornado meu
seguidor. Por força moral, tenho a obrigação de preservar a sua mais ditosa
obra, o seu filho Masahemba. Mas não percamos mais tempo- disse Amon-Rá, depois
desta pequena explicação dada como resposta à observação de Aton- que um sifto
se desloque imediatamente ao meu templo de Tebas e avise Masahemba do perigo
que corre...(em continuação, pág. 40, ex. XIII)
in A CAUSA DE MASSIFTONRÁ
Novembro/2005