quarta-feira, 25 de maio de 2016

UM PAI, HERÓI DO LINÓTIPO NO DIÁRIO DE COIMBRA

O rapazito muito orgulhoso se sentia quando ia visitar o pai ao trabalho. O pai trabalhava então nos fundões do Diário de Coimbra, à Rua da Sofia. Era tipógrafo linotipista, ou seja, trabalhava com um linótipo. Essa coisa estranha era uma imensa máquina de escrever, que na parte detrás derretia enormes barras de chumbo, chumbo esse que se ia transformando, gradualmente, na notícia que o seu pai ia escrevendo no teclado, e que se depositava no seu lado esquerdo numa pequena banca, em palavras de chumbo. E como era uma máquina mesmo muito grande, parecia-lhe que o seu pai era um pequeno bonequito, muito valente, que conseguia dominar aquele monstro. Corriam os anos de 1964, 1965.
Ontem, o rapazito ao ler o Diário de Aveiro, leu a notícia de o Diário de Coimbra completava ontem mesmo 86 anos de actividade jornalística. E claro que aquelas antigas imagens lhe inundaram a mente com muito carinho. É que o seu pai, que há trinta e quatro anos anda pelos caminhos do céu, contribuiu com o seu valioso trabalho para que o Diário de Coimbra seja hoje um jornal antigo e cheio de prestígio.

O antigo funcionário Agostinho de Jesus Gomes, pela boca do seu filho, o rapazito, dá os parabéns ao Diário de Coimbra e votos de futuras grandes edições jornalísticas.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

ROVISCO PAIS- NUM RÓTULO A HERANÇA DE UMA OBRA

Já alguma vez tinham ouvido falar em Rovisco Pais? Eu não. É caso para dizer que qualquer momento, na nossa vida, é sempre um bom momento para aprender alguma coisa. Tomei conhecimento deste nome numa garrafa de vinho tinto. E bom! E como é costume de qualquer um de nós, fui ler a parte detrás do rótulo, para conhecer um pouco melhor o vinho que acabara de beber. E o que li foi um pouco de história. Factos recentes, é certo, mas que moldam ainda os dias deste nosso país.
José Rovisco Pais nasceu em Sousel em 1860 e morreu em Lisboa em 1932. Foi um homem bastante rico, mesmo. Deixou uma enorme obra benemérita. A obra crescia, mas o seu autor toda a vida se manteve no anónimato. Grande parte dos seus bens doou-os a favor de melhoramentos dos hospitais civis de Lisboa, da maternidade Alfredo da Costa e da Santa Casa da Misericórdia de Setúbal. Construiu ainda uma leprosaria na Tocha, hoje Centro de Medicina de Reabilitação.
Era lavrador. Dos seus vinhedos, que deixou, em Santo Isidro de Pegões, nasceu o vinho que eu hoje bebi.
E neste país, onde qualquer bicho careta, porque é presidente de um clube ou de uma outra qualquer futilidade, surge com ares de Presidente da República e já ganhou a imortalidade, é necessária uma garrafa de vinho para que um comum e mortal cidadão, tome conhecimento da existência de um benemérito desta monta.

Pudera, com tanto que há para fazer nos festejos de se ganhar um campeonato, não há tempo para nos debruçarmos sobre coisas banais!

domingo, 15 de maio de 2016

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA- 1127- INVASÃO, O EMBRIÃO DE UMA NOVA NAÇÃO

Corria o ano de 1127 quando Afonso VII, rei de Leão e Castela, invadiu Guimarães.
Desde a morte do Conde D. Henrique, em 1112, que o Condado Portucalense passava por momentos bastante conturbados. Contribuiu para esse estado bastante intranquilo do Condado, a suposta união de D. Teresa com o nobre galego Fernão Peres de Trava, que em 1121, assumiu o controle político do Condado Portucalense. Em face dessa ascensão, os principais nobres nacionais foram afastados da corte, o que levou à sua revolta, apoiados pelo infante Afonso Henriques. Ainda nesse ano de 1121, o Condado Portucalense sofreu uma invasão e saque por parte  do exército de Leão e Castela. Quatro anos depois, em 1125, o infante Afonso Henriques foi armado cavaleiro em Zamora.

Com a segunda invasão, desta feita em 1127, a que Afonso Henriques, investido já de outros poderes se opôs, com a colaboração da nobreza portucalense, estavam lançadas as sementes para uma nova nação…uma colheita que não iria demorar muito! 

sábado, 7 de maio de 2016

UMA REACÇÃO INESPERADA E DESAGRADÁVEL

...- Meu pai, é verdade que a Maria Adélia e o noivo apareceram mortos?
- Sim, é verdade. Quem lhe contou?
- A… a Maria do Carmo.
- Melhor fora que estivesse calada. A senhora não tem que se preocupar com questões populares.
- Mas… meu pai… a Maria Adélia… eu poderia dar algum conforto àquele desgraçado pai.
- A senhora preocupe-se com os seus afazeres, que muitos cuidados lhe dão por certo. Faça-me o favor de se retirar, e fique descansada que essa palavra de conforto ao Francisco Carvalho lha darei eu.
         E Maria Clara retirou-se, sem antes me ter olhado. Os seus olhos suplicavam algo. Eu estava atónito perante esta reacção do Conde de Cértima, ao pedido da sua filha de ir prestar um acto de caridade. Eu tinha de dizer alguma coisa… e disse.
- Excelência, achei a senhora sua filha muito pálida. É possível que a senhora D. Maria Clara seja muito impressionável a estes assuntos de morte. Talvez uma beberagem que a acalmasse fosse conveniente.
- Doutor, conheço bem a minha filha. Deixe. Se sinais de doença lhe surgirem, eu saberei conhecê-los e então o chamarei. Agora vou-me retirar que tenho assuntos para resolver. Havendo um matador à solta, há que lhe dar caça.

         E eu fui-me embora. Desta vez não tive direito a escolta, pois o ambiente em casa do Conde de Cértima fervilhava de actividade, com todos os homens ocupados em tarefas: uns de levar os corpos à igreja do Luso, outros de limparem o local do crime de qualquer vestígio de sangue, e outros ainda de irem avisar o regedor...(em continuação, pág. 45, ex. XXII)

in Alma de Liberal
Junho/2009