sábado, 23 de abril de 2016

TIVESSE D. SEBASTIÃO DADO OUVIDOS AO VIDENTE...

Acabei de ler o romance «D. Sebastião e o Vidente», da escritora Deana Barroqueiro. Excelente escritora, conclusão a que eu já tinha chegado no seu magistral romance «O Espião de D. João II». E na busca de umas páginas de maravilha comprei este livro, cujas expectativas me não saíram goradas, muito embora confesso que suspeitava que o tema me não fosse propriamente agradável, como na realidade aconteceu. Deana Barroqueiro escreve romances históricos, baseando-se num trabalho profundo de pesquisa, pelo que tomamos por verdade os factos que vai narrando. Por essa razão não me foi fácil ler a sua descrição romanceada, da caminhada de Portugal para o abismo. A batalha de Álcacer-Quibir, onde nas areias escaldantes de Marrocos, em Agosto de 1578, ficou grande parte da nata de Portugal, é, possivelmente o episódio mais negro da nossa história.
         Deixo-vos com um dos últimos parágrafos do romance, que me tocou a alma:
«Como eu gostaria, ao despedir-me de ti com estas derradeiras palavras, meu querido leitor- amigo e companheiro de muitas horas nesta jornada pelos trilhos sinuosos do tempo e da memória, de te fazer partilhar da minha infinita mágoa pelo luto de uma nação tão antiga e respeitada, ali posta de rastos e destruída, para ser chorada com insuportável desconsolação…»

Deana Barroqueiro

quarta-feira, 13 de abril de 2016

UM ACTO DE SANGUE EM TERRAS DE SUA EXCELÊNCIA

...Desmontámos. Fui examinar os corpos. O corpo do homem fora varado, no abdómen, por comprida lâmina, ao passo que a mulher apresentava um ferimento profundo na garganta.
- Não há dúvidas. Foram mortos. Vocês conhecem-nos?
- Ela era filha do tanoeiro, o ti Chico Aduelas. Ele era o Lúcio. Os dois andavam apalavrados.
- Andavam? – perguntei.
- O ti Chico Aduelas não se fica – dizia um dos homens presentes – até vai comer o fígado ao matador que fez isto.
- O tanoeiro é homem bravo, lá isso é verdade – dizia o meu outro companheiro, o Tomás.
         Eu, ali nada mais tinha a fazer. Regressei ao palacete do Conde de Cértima, onde o informei do que vira.
- Não há dúvidas, excelência. Ambos foram assassinados, e com gosto. O homem foi trespassado, possivelmente por uma espada. À mulher foi-lhe cortada a garganta.
- E sabe quem são os falecidos? – perguntou o conde.
- A mulher era filha de um tanoeiro e o homem era um tal Lúcio. Parece que estavam para se casar.
- Pois estavam, doutor. O Francisco Carvalho pedira-me para eu ser padrinho do casamento; já lhe fora padrinho da rapariga. Ela vinha várias vezes tagarelar com a nossa criadagem.
- Está a falar da falecida, excelência? – perguntei eu um pouco confuso.
- Sim.
- Como ao pai dela lhe deram outro nome, eu fiquei agora um pouco baralhado.
- O povo chama-o de  Chico Aduelas. A rapariga chamava-se Maria Adélia. Esperemos que a morte da rapariga não prejudique as suas faculdades. É um bom tanoeiro. Preciso dos seus serviços – disse o conde friamente.
- Segundo disseram, não é de meiguices.
- Pois não, não é. Ai do matador se lhe cair nas mãos, caso seja apanhado. E tudo farei para que o seja. Além de ser um acto de sangue, é um desrespeito para com a minha pessoa ter sido cometido nas minhas terras. O malandro terá também de se haver comigo. O regedor tem de saber desta matança. Já mandei que um carro de bois fosse buscar os mortos e que sejam levados para a igreja.

         Neste instante surgiu Maria Clara. Estava alva...(em continuação, pág. 44, ex. XXI)
in Alma de Liberal
Junho/2009

sábado, 9 de abril de 2016

ARMENTIÉRES 9 DE ABRIL DE 1918

Foi assim que em 1921 Portugal, uma nação então em sofrimento, prestou homenagem às muitas centenas de soldados, do Corpo Expedicionário Português, mortos em combate, três anos antes, na manhã do dia 9 de Abril de 1918, nos pântanos de Armentiéres, na Flandres, no fecho da I Grande Guerra.

         98 anos depois, este blogue recorda o sacrifício desses nossos valorosos soldados, numa ténue tentativa de preservar a sua humilde mas enorme memória.