terça-feira, 27 de janeiro de 2009

PASSEIO PELAS MINHAS PALAVRAS

...- Quem é aquele fulano? - perguntou Duarte num sussurro, possuído por um súbito mal estar.
- Não sei- respondeu Victor numa voz também quase sumida- mas reparaste que à distância a que está, o ouvimos como se estivesse ao pé de nós?!
- Vamos embora. Não estou a gostar disto - disse Duarte.
- Não tenham medo. Eu apenas possuo a faculdade de projectar a minha voz para onde quero.
- Ele ouviu o que tu disseste. Só pode ser bruxedo!- disse Duarte com um sentimento de receio a crescer dentro de si.
- Não meu caro Duarte, não sou bruxo. Apenas tenho algumas faculdades a mais do que tu.
-Como é que você daí me pôde ouvir? E como é que sabe o meu nome?- gritou Duarte, que instintivamente deu dois passos atrás.
- Ouve meu amigo, não entres em pânico. Tem fé como o teu amigo Victor. Já te disse que tenho mais faculdades do que vocês, mas isso não faz de mim um bruxo. O apelo a que o teu amigo se referiu foi-lhe induzido por mim.
- Eu vou-me embora- voltou a gritar o Duarte.
- Tu és livre de fazeres o que quiseres, mas repara na serenidade do teu amigo. Vê-lo inquieto ou com medo?
- Sim, é verdade- disse Duarte subitamente desperto para a inexistência de reacção por parte do Victor à presença daquele homem- tu ainda nem sequer te mexeste.
- E para quê?- perguntou Victor- nada me preocupa.
- Nada te preocupa? É quase noite. Estás no meio do choupal, aparece-te um tipo a dizer coisas estranhas, e não te sentes inseguro?
- Não. Ele é um amigo.
- Um amigo?- perguntava Duarte, enquanto alternadamente olhava para o Victor e para o estranho que se encontrava do outro lado da clareira- de onde é que tu o conheces?
- De lado nenhum- respondeu Victor, que se mantinha imóvel.
- Duarte, o teu amigo muito melhor vê com o coração do que com os olhos- disse o homem.
- Ai sim? E porque motivo é que eu também não vejo assim?
Só tu podes responder a essa pergunta, Duarte. Dois corações amigos não são necessariamente dois corações iguais.
- Qual dos nossos corações é o melhor?- perguntou Duarte.
- Preocupa-te essa questão?- perguntou o estranho.
- Eu estou desconfiado e ele não...
- Talvez o teu coração esteja envolvido por fluídos mais densos do que o dele. Talvez ele seja um pouco mais sensível do que tu. Apenas isso.
- Quem é você afinal? Como se chama?- perguntou Duarte.
- Já não tens medo?
Talvez esteja um pouco mais calmo. O chegar da noite também me ajudou a ficar nervoso.
Se esse è o problema, resolve-se já- disse o homem.
E o sol voltou a brilhar sobre a clareira. Duarte estremeceu.
- Não te apoquentes, Duarte - disse Victor - ele apenas te quis proporcionar mais conforto.
- Acredita Duarte, acredita como o teu amigo Victor. Eu poderia mentir-te, mas não o faço, porque quero ser sincero contigo. Através de força telepática vou transmitir à mente do Victor a resposta para te deixares de sentir preocupado. Ele a dirá.
Duarte olhou para o Victor, e este, sorrindo, disse-lhe:
- Ele não movimentou o sol para cima de nós, porque isso é superior ás suas forças. Apenas criou nas nossas retinas uma faculdade que os olhos dele têm- absorvemos a pouca luz existente e os nossos olhos aumentam essa iluminação, o suficiente para que possamos ver bem. Só isto.
Duarte olhava incrédulo para Victor.
- Estás satisfeito com a resposta?- perguntou o homem. Apenas obteve de Duarte, como resposta, um acenar lento da cabeça para cima e para baixo, enquanto mantinha a boca entreaberta de espanto. E o estranho continuou- há pouco perguntaste-me quem sou eu e como me chamo. Pois bem, espero que depois de saciar a tua curiosidade, possa eu transmitir-vos aquilo que me trouxe aqui. Eu não sou deste planeta. A minha espécie vive no planeta Uuron, ainda nesta galáxia é certo, mas distante cerca de duzentos anos luz. Segundo esta vossa medida de distância e o vosso conceito temporal, são mesmo muito quilómetros. Para nós nem por isso...

in VISITADOS

Novembro/1999

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

HAIR- A MINHA GERAÇÃO, A ÚLTIMA ÓPERA ROCK



Faltam-me palavras que descrevam as emoções que este filme, esta ópera rock, em mim suscitam. Humedecem-me os olhos sempre que a revejo. O cabelo, a roupa, o discurso, a apologia do amor livre, o compreender o mundo através da filosofia hypie, a contestação à guerra, a guerra que também estava no horizonte da juventude portuguesa, tudo nesta obra cinematográfica me incendeia o espirito. Obra que tem por suporte uma extraordinária banda sonora. Este «Let The Sun Shine In» me comove. É este filme uma janela da geração de 70, a geração a que eu orgulhosamente pertenço. Algures naquela multidão de jovens, que preenchem a última cena do filme, eu me encontro.
Sim, tu és um daqueles, meu caro poeta do penedo!

domingo, 18 de janeiro de 2009

PASSEIO PELAS MINHAS PALAVRAS

SEDE DE VIVER

Nas nossas mãos está o presente
o passado na nossa mente
o futuro está à frente
e eu estou ardente.
Ardo, porque estou sedento
sede de viver
sede de ter o que não tenho
sede de ser quem eu queria ser
e não sou.
Não falo na chuva, nem no sol, nem no vento
digo simplesmente que estou sedento.
Talvez um dia me dêem água a beber
e então, estes versos tal qual os outros,
hão-de envelhecer.

Fevereiro/1976



terça-feira, 13 de janeiro de 2009

EÇA DE QUEIROZ E O PANTEÃO NACIONAL

























Definição de Panteão: monumento funerário, onde são sepultados os restos mortais de vultos que se notabilizaram em várias áreas, numa determinada sociedade.
No caso português, para o Panteão Nacional foi escolhida a Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, a partir do ano de 1916. Nele repousam os restos mortais de Almeida Garrett, João de Deus, Guerra Junqueiro, Aquilino Ribeiro, Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Óscar Carmona, Sidónio Pais, Humberto Delgado e Amália Rodrigues. Destes dez, quatro foram escritores, cinco foram políticos e a musa portuguesa do fado.
E eu pergunto: que é feito do expoente máximo das letras em Portugal?
Há quantas gerações «Os Maias» são obra obrigatória no ensino, neste país?
Se o Estado considera que a obra de Eça de Queiroz é fundamental para a literatura portuguesa, porque razão o omite do símbolo máximo da memória nacional?
Há muito que coloco esta questão a mim próprio, e mais intrigado fiquei, quando vi no dia 19 de Setembro de 2007 serem transladados para o Panteão Nacional os restos mortais de Aquilino Ribeiro, que tanta celeuma originou. Não que considere injusta a notabilidade que se deu a Aquilino Ribeiro. É decerto um nome enorme na literatura portuguesa. Considero é ser de uma torpe injustiça não se dar esse relevo à mente talentosa, profundamente crítica e satírica de Eça de Queiroz, o escritor que introduziu o realismo em Portugal.
Existem acontecimentos na história que podem deixar profundas marcas. E quando o poder é ostensivamente afrontado, tal acto poderá ter repercussões que se manifestam pelos tempos fora, como ondas galopantes, que batem a areia, como recordação permanente. Refiro-me objectivamente à revolta de Aveiro, em 16 de Maio de 1828, quando o Desembargador Joaquim José de Queiroz chefiou a primeira rebelião contra o poder absoluto de D. Miguel.
Eça de Queiroz foi neto do Desembargador Joaquim José de Queiroz.
Apenas uma relação que surgiu nesta mente de um simples e anónimo cidadão.
È que alguém de direito deve ter uma explicação para o facto de os restos mortais de Eça de Queiroz não se encontrarem sepultados no Panteão Nacional.
Encontram-se no minúsculo cemitério da povoação que a sua talentosa pena criou, que por tão universal ser, a conseguiu transferir da ficção para a realidade - Tormes.

sábado, 10 de janeiro de 2009

PASSEIO PELAS MINHAS PALAVRAS (no choupal em Coimbra)

...Foi há cinquenta e um anos. Estávamos em Maio de 1945. O nosso país, assim como o mundo em geral, festejava a capitulação da Alemanha nazi, perante a força avassaladora dos Aliados. Mesmo oprimidos que vivíamos sob o jugo fascita, naquele Domingo de sol resplandecente respirámos um pouco de liberdade. Como deve calcular, Coimbra era uma cidade muito mais pequena do que é hoje. O choupal estava muito mais distante do que se encontra actualmente. Bandos de jovens, rapazes e raparigas, sentavam-se sob as sombras dos choupos e a brisa do Mondego. Eu também lá estava, acompanhado pela minha namorada, nessa época a bonita Ana Maria. Eu tinha dezoito anos e ela dezassete. Connosco ia também o meu grande amigo Duarte, o Duarte Silva Amorim. Era um ano mais velho do que eu. Foi um dia deslumbrante...
...Quem percorresse Coimbra naquela época em direcção à Estação Velha, verificava que a área urbana de Coimbra terminava na Rua do Sal. A Estação velha ficava muito distante da cidade propriamente dita. Por isso os serviços camarários asseguravam a ligação até ao coração da cidade, através de uma carreira de eléctricos. Assim, o 2 ligava a Estação velha à Praça 8 de Maio. Foi no 2 que Duarte, Victor e Ana Maria seguiram até ao choupal. Tal como eles, grupos de outros jovens procuravam a quietude dos choupos e a frescura do Mondego, para exteriorizarem toda a alegria pelo final de uma guerra atroz, que enlutou o mundo e ensanguentou a velha Europa.
Estava um domingo soalheiro. A natureza, sufocada que estava com as explosões das bombas e o sofrimento dos homens, comungava da festa humana, e rejubilando de luz, proporcionava a todos um dia celestial, um dos primeiros dias vivido em paz após seis anos de amargura.
Pelo festivo choupal, novos e velhos, ricos e pobres, espalhavam-se sob as sombras daquelas míticas árvores. Naquele dia, quem não se conhecia, de imediato passou a ser amigo. O tapete verdejante do choupal foi coberto por inúmeras toalhas, que nas suas cores brancas, azuis ou vermelhas, suportavam o peso de outros tantos piqueniques.
O Mondego ia espesso. O seu caudal fora significativamente aumentado pelas abundantes chuvas do inverno recente. Junto a um pequeno meandro do rio, sobre um tapete verde de erva rasteira que exalava um perfume primaveril, estava estendida uma toalha branca com quadrados azuis, onde se depositaram algumas lancheiras, embora o lanche fosse o menos importante. Homens e mulheres conversavam alegremente, tentando esquecer as tristezas da guerra, que embora distante, fizera sentir os seus efeitos. Queriam encarar a vida com optimismo, fazendo planos para um futuro mais promissor. Jovens, filhos desses homens e dessas mulheres, exprimiam-se irreverentemente, pulsando de juventude e fogo, em toda a sua essência.
Entre esses jovens encontravam-se o Duarte Silva Amorim e o Victor Santa Cruz. O primeiro tinha dezanove anos de idade e o segundo dezoito. Foi no Liceu D. João III que em 1937 se conheceram. Por razões que eles próprios desconheciam, nasceu entre ambos uma simpatia que veio a ligá-los numa forte amizade. Eram inseparáveis...

in VISITADOS
Novembro/1999

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

THE POWER OF ONE

Um enorme filme, sem qualquer expressão em Portugal. Nunca tinha ouvido falar dele, aliás, nunca ouvi falar dele, excepto numa tarde de dia de semana, em período de férias escolares, em que passou na RTP, completamente despercebido (que por mera casualidade gravei), e nunca mais vi a sua exibição ser repetida, em qulquer outro canal. Desde o primeiro momento que me apaixonei por este grandioso filme, com a interpretação soberba de Morgan Freeman, interpretando a personagem de um negro, em pleno Apartheid da África do Sul.

Conta a história de um menino (P.K) inglês, vivendo na África do Sul, no início da II Guerra Mundial. Os Africanders Boers insurgir-se-ão conra os ingleses,e a criança irá ser maltratada, indo parar a um campo de prisioneiros, onde vai fazer amizade com um negro que lhe ensina os segredos do pugilismo e uma conjugação demolidora de golpes. O menino, com a ajuda de um alemão ali preso, consegue fazer com que os negros ali detidos, pertencentes a várias tribos, se reconciliem, pelo que o menino se transformará num simbolo- o P.K. Rain Maker.

O menino cresce e surge como um jovem, campeão de boxe, que em memória do seu amigo negro, entretanto assassinado por um guarda do campo, canaliza sua vida na luta contra o Apartheid, com grandes perdas para si próprio.

Um filme que retrata profundamente a sociedade Sul Africana dos anos 40 do Séc. XX, numa história intensa de sentimentos, suportada numa excelente banda sonora, em que África é sentida na sua expressão máxima.

A ver!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

PASSEIO PELAS MINHAS PALAVRAS (à beira do Mondego)

- Obrigado por ter vindo.
- Não tem de agradecer senhor Victor. Vai-me fazer muito bem conversar consigo. O que eu vi há oito dias exige rapidamente uma explicação. Estou a pôr em questão tudo o que pertence ao mundo.
- Até a si próprio, não é?
- Sim já questionei a minha própria existência.
- Pois então vá por mim, meu amigo. relaxe, dê liberdade aos seus sentidos. Deixe que eles lhe tragam as boas sensações de tudo o que nos rodeia. Estamos no inverno. Sinta a chuva meu amigo, sinta-a como um fluído da natureza, que efectivamente é. Olhe ali para baixo, repare como o Mondego vai compacto. Aprecie o esforço que os homens fizeram ao plantarem este parque, feito de árvores e jardins, entre a nudez do cimento e a maravilha natural que é o rio Mondego. E fique ciente de uma coisa: nada disto pode ser questionado, porque tudo existe na realidade. O que você viu há uma semana também existe e sabe porquê? O cosmos é uma infinita colectividade. Nós, habitantes do planeta Terra, somos apenas alguns dos seus membros. Diga-me Rui, tem você o dia livre para uma boa conversa?
- Claro que tenho senhor Victor. Um dois ou três dias. Estou emocionalmente perturbado. O psicólogo do meu serviço achou por bem que eu ficasse de baixa-. A minha mente está fixada no espectáculo que vi. Tenho pouco ou nenhum discernimento para enfrentar e resolver seja o que for.
- Pois vamos atenuar esse problema.
- Vamos?
- Sim, eu e você, os dois fazendo um trabalho mútuo de mentalização.
- Como pode o senhor Victor fazer uma coisa dessas? Não é psicólogo, nem psiquiatra!
- Pois não, mas tenho setenta anos de idade, fui enfermeiro durante trinta e cinco, tenho experiência de ver homens em aflição, e o problema que o aflige é para mim sobejamente conhecido.
- O senhor mantém-se calmo, mesmo depois de ter visto o seu filho partir!
- É verdade, estou perfeitamente calmo, porque o meu filho Álvaro partiu por sua livre e espontânea vontade. Feliz não posso estar, porque não irei conviver com o meu filho. Mas também não me sinto infeliz.
- Como é isso possível, senhor Victor? Ou estamos felizes ou infelizes.
- Se eu me sentisse infeliz estaria a ser egoísta, pois desejaria que o meu filho, para me fazer feliz, abdicasse do que ama. Sei que ele está bem. O meu estado de espírito talvez seja...nostalgia. É isso mesmo! Sinto-me nostálgico. Mas com o tempo me habituarei, se é que me resta algum. E entretanto o Álvaro vai contactar-me, assim como à mãe.
- Como pode ter a certeza disso?
- Porque ele está num ambiente bom e ama os pais. Naquele lugar dão muito valor ao amor e à amizade. Hão-de permitir que ele comunique. Mas...agora reparo, que esta chuva miudinha e maçadora não dá tréguas. Já estamos com as gabardinas e os guarda-chuvas bem molhados. Seria melhor recolhermo-nos num abrigo qualquer. Que me diz?
-Este ar fresco está perfeito, mas realmente a chuva está incomodativa. Podemos ri ao Brasileira. Não é longe.
- Óptima ideia. Em Coimbra provavelmente não haverá melhor local para falarmos de recordações. recordar num café cheio de história.
- O senhor Victor quer recordar algo?
- Se não se importa...
- De maneira alguma. Recordar é viver. Talvez viver o passado me prepare para o futuro.
- Quem sabe, não é? Este final de ano de 1996 já foi um dia o meu futuro longínquo. E daqui a três dias, quando o ano terminar, irá fazer parte do meu passado. O tempo não pára. Cada segundo que vivemos é um degrau da vida que subimos. Cada vez nos aproximamos mais do topo. Eu estou quase a atingir o patamar. Quando naquele dia distante me foi anunciado que em 1996 eu viveria a cena que o Rui viu, não fiquei com muita certeza de que isso viesse a acontecer...faltavam tantos anos. Foi o meu erro.
- Então conte. Estou expectante.
- Sim, contarei, quero contar, mas só quando estivermos confortavelmente sentados a uma mesa do Brasileira. Veremos se vamos conseguir um pouco de privacidade. Daqui até lá, senão se incomodar, preferiria ir em silêncio para colocar as recordações no lugar. Você merece que eu lhe conte uma história bem organizada...

in Visitados
Novembro/1999

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

2009

Quando o ano de 2009 tem apenas doze horas, é oportuno desejar aos familiares, aos amigos, ao mundo, e a nós próprios, que tenhamos um ano de fartura, rico em facilidades, a estalar de tudo quanto nos possa proporcionar uma vida digna e feliz. E bem precisamos que tudo isso nos seja desejado.
Necessitamos de fortalecer a nossa mente contra as agressões de índole mais ou menos profética, que nos últimos dias do ano de 2008 nos lançaram para cima, quais aves de mau agoiro. E foram pessoas com imensa responsabilidade política no país, que o fizeram, e por isso mesmo, maior impacto poderão ter as suas palavras... e eles sabem disso, o que para mim representa um acto que em muito ultrapassa a mera irresponsabilidade.
Porque somos pequenos, ai jesus, que a crise vai esquartejar o país. E então surgem alguns senhores, sofrendo de um ataque de senilidade, que dilaceram a opinião pública com as seguintes afirmações: no país, em 2009, há fortes probabilidades de a criminalidade violenta subir a níveis nunca antes atingidos e o país ficar ingovernável.
Só neste nosso Portugal se ouvem barbaridades destas. Porque mesmo que se venha a correr esse risco, a obrigação, o dever moral de quem detém a responsabilidade política, é a de transmitir esperança. Psicologicamente, nada é mais gravoso do que nos persuadirmos de que a nossa casa vai desabar. Esses senhores, ao se transformarem em arautos da desgraça, em que medida contribuíram para o progresso do país? Fácil é para eles lançarem da boca para fora este asneiredo, porque a sua situação económica é de tal forma robusta, que não há crise que os afecte. E bem que o país se pode tornar num farwest, que eles, porque são poderosos, vivem numa redoma anti-bala e anti-convulsões sociais, que os torna imunes aos problemas.
Os responsáveis políticos de hoje e os de ontem, e anteontem, e do mês passado, em Portugal, leram pelo mesmo livro, já caduco, mas desafortunadamente instrutivo, pelo que se lhes reconhece o meritório trabalho que ao longo das décadas têm feito. A prová-lo, estão as estatísticas do desenvolvimento nacional, relativamente ao resto da Europa.
Abaixo da cauda da Europa, onde já estamos, não passamos, com ou sem crise. Assim, vamos enfrentar o ano de 2009 com esperança e esquecer o ruído da comunicação social. Se havemos de ser sempre pequenos, porque não fazermos juz à nossa fama de improvisação? Improvisemos pois em 2009. Quantas belas obras de arte não surgem de um inspirado momento de improviso?
Feliz ano de 2009.