sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

VOTOS DE ANO NOVO FELIZ À SOMBRA DE UMA FLORESTA BEM VERDE

Já tive um texto escrito, algo extenso, para convosco partilhar neste final de ano. Mas, com tamanha tragédia que se abateu sobre Portugal, nos incêndios demoníacos de 17 de Junho e 15 de Outubro, o texto não fazia qualquer sentido. Por mais que escreva e sinta, não consigo preencher o vazio que aquelas cento e tal vidas ceifadas deixaram no meu sentir. O meu silêncio será a minha maior homenagem a essa infeliz centena de portugueses.
Que a política iluminada, que nos tem guiado nos dois últimos anos, se mantenha e melhore, no sentido de nos trazer mais justiça social e nos tornar num povo mais feliz, são os meus votos para o Ano Novo que se aproxima.
A todos os que visitam este humilde espaço, desejo um excelente 2018.

Obrigado pela vossa companhia!

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

PRESÉPIO DO POVO

Na minha infância, Natal que se prezasse tinha de ter o ritual de se ir, ao pinhal, apanhar musgo para o presépio. As primeiras alegrias desta época fabulosa, começavam com a humidade gelada do musgo a espalhar-se pelos dedos, e as narinas a impregnarem-se com aquele odor frio e intenso da relva do musgo humedecida pelo orvalho.
Depois, em casa, era a alegria infantil de ver o presépio tomar forma, com os seus actores a tomarem os seus respectivos lugares no território de musgo.
Venerava o Menino Jesus, o S. José e a Virgem Maria, a vaca, o burro, e todos os pastores e pastoras, acompanhados dos seus rebanhos, que se chegavam à gruta de papelão amarrotado, a adorarem o Menino, tal como eu fazia.
Mas depois alguém abriu a porta do Natal ao Pai Natal, e pela porta aberta o Menino Jesus foi-se embora e o presépio foi murchando. Hoje em dia, dos presépios nas nossas casas existem umas tristes amostras, remetidas para planos inferiores pelas exuberantes árvores de natal.
Mas o Natal continua a ser intenso.

A todos os que têm a simpatia de visitar este futrica e o seu Mondego, votos de um Natal muito feliz, feito essencialmente de afectos. 

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A EPOPEIA DO SEISCENTOS E SETENTA E UM

...Ali iam os dois naquela pasmaceira, o colega antigo mascarando o aspecto trôpego e alcoolizado com um ar severo e no seu entender respeitável, observando tudo e não dando conta de nada, e Serôdio, limitando-se a seguir o colega. Subitamente deu-se o choque. O antigo policia, olhando para a profundidade da rua que tão profissionalmente patrulhava, subitamente se modificou. Empertigando-se, pôs-se em posição de sentido, e com a mão direita, flácida, encostada à pala do boné cinzento, efectuou uma continência mole, sem dinamismo nem classe, enquanto que ao mesmo tempo gritava em altos berros:
-         Meu comissário principal, dá-me licença?
-         Avance seiscentos e setenta e um.
E o seiscentos e setenta e um, em passo de marcha, pelo passeio, abria caminho em direcção ao tal comissário principal, que como Serôdio mais tarde veio a saber, era um oficial rondante.
O seu colega seiscentos e setenta e um avançou pelo passeio cerca de cinquenta metros, e chegando próximo do oficial de ronda estacou o passo dizendo em altos berros:
-         Serviço sem novidade.

Serôdio, desgraçada e atabalhoadamente, seguiu o seu colega sem perceber o que se estava a passar. Tentando enfiar-se o mais que podia pelo boné dentro, percorreu aqueles cinquenta metros a morrer de vergonha. Em redor da cena, as pessoas passavam exibindo nos rostos sorrisos de troça e abanando as cabeças. Serôdio lá teve de apresentar ao tal comissário rondante a sua caderneta de controle. Depois de mais algumas encenações grotescas, o homem lá seguiu rua acima, enquanto Serôdio, acabrunhado, voltava a desfrutar da cálida e serena companhia do seiscentos e setenta e um. O comissário e o seiscentos e tal, de tão cavernosos e embrutecidos serem, nem sequer repararam que haviam proporcionado um hilariante e gratuito número de circo. Bem pelo contrário, nas suas cabeças bem fornecidas de osso, existia a convicção de que a população ficara agradecida por aquele solene e singelo momento de entrega ao serviço público...(em continuação, ex. XXXVI)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA: 1143- 1159- ACÇÕES DE UM CONQUISTADOR




Depois da Conferência de Zamora, em 1143, em que se realizou o Tratado de paz entre D. Afonso Henriques e D. Afonso VII de Leão, no espaço de dezasseis anos sucederam-se acontecimentos de grande importância para Portugal, tanto a nível do fortalecimento da nossa independência, como na acção da Reconquista Cristã do território da Península Ibérica aos Mouros.
Assim, em 1147 D. Afonso Henriques conquistou Santarém aos Sarracenos, bem como Lisboa, no que foi auxiliado por Cruzados.
Em 1151, houve a tentativa por parte de D. Afonso Henriques, de fazer uma aliança com o governador de Silves, o almóada Ibn Qasi, contra o senhor do Gharb Al-Andaluz, Abd Al-Mumin. Esta aliança saiu frustrada porque o governador de Silves foi entretanto assassinado.
Em 1158 D. Afonso Henriques conquistou Álcacer do Sal, após dois meses de cerco, de novo com ajuda de Cruzados.
Ainda em 1158, pacto secreto entre os reis D. Fernando II de Leão e D. Sancho III de Castela, celebrado depois da morte de D. Afonso VII. O pacto previa, além da divisão do território conquistado aos mouros, também da distribuição do reino de Portugal, caso viessem a conquistá-lo, como estava previsto. No entanto, por morte súbita de Sancho III, esse pacto ficou irremediavelmente comprometido, pelo que leoneses e castelhanos não puderam levar ávante os seus intentos.
No ano seguinte, em 1159, D. Afonso Henriques fez doação do castelo de Ceras à Ordem dos Templários, incluindo Tomar.
Cada vez mais a independência de Portugal ganhava consistência.