quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

ANO NOVO, UMA ESPERANÇA CHAMADA GERINGONÇA

Pela primeira vez me aproximo duma passagem de ano na condição de pleno dono do meu tempo. A não ser que haja por aí alguma proposta de trabalho, que me seja deveras aliciante, o mundo apresenta-se-me de forma a dispor dele a meu belo prazer. Mas, muito embora seja mais dono de mim mesmo, isso não faz de mim um homem mais feliz do que era, porque os problemas com que me debatia antes de me reformar, continuam presentes. E nesses incluo, porque sou um cidadão deste mundo, os problemas que o mundo enfrenta e que acabam por serem meus também. Se assim não o sentisse, era um tipo completamente inconsciente. Mas parece-me que os há por aí.
E claro, um dos maiores problemas que o mundo enfrenta neste momento, é sem qualquer dúvida a questão dos atentados terroristas. Qual a fórmula para lhes pôr cobro? Não a conheço, não a imagino sequer, dado a sua génese se basear numa conduta criminosamente cobarde. Parece-me que nós, europeus do século XXI, estamos a pagar a factura das atrocidades cometidas pelos  nossos cruzados dos séculos XI, XII e XIII, na Terra Santa, que de santa nunca nada teve e continua a não ter.  Muito têm de reflectir os responsáveis pela segurança.
Por falar na Terra Santa, é de lá que, na sua grande maioria, fogem daquela santidade demoníaca os muitos e muitos milhares de refugiados que têm invadido a Europa, sem que os nossos governantes tenham dado uma resposta verdadeiramente convincente, ou tenham terminado a sua vida aterrorizada nas águas fechadas do Mediterrâneo, para vergonha da nossa quase solúvel solidariedade.
Como se isto não bastasse aí temos um grande ponto de interrogação vindo dos Estados Unidos. O que virá dali? Se o conteúdo for feito da mesma massa da montra «Trumpesca», acho que muita instabilidade aguarda o mundo.
E o que dizer das alterações climáticas, das atrocidades que as sociedades altamente industrializadas continuam a perpetrar contra o ambiente? Não se iludam. Estamos a produzir agora condições que irão provocar um colapso do planeta para o final deste século. Isso não vos preocupa?
E por cá? Por cá as coisas estão um pouco melhores. Existem aqui e ali nuvens de esperança. Sabem o que é uma geringonça? É uma coisa atamancada! No dizer do PSD/CDS, é uma geringonça que governa o nosso país. Mas o governo deles foi tão fraco, tão fraco, que a geringonça, mesmo sendo uma coisa improvisada, conseguiu fazer um trabalho muitos furos acima do governo Passos-Portas-Cavaco. Devolveu-nos a esperança, devolveu-nos a nossa identidade histórica, soube opor-se com êxito às regras do FMI mostrando que continuamos a ser um povo soberano, e começou a colocar travões ao patronato, que sob as regras do anterior governo já considerava Portugal o paraíso dos paraísos. Assim possa este nosso governo de esquerda continuar nesse trabalho, a fim de devolver a dignidade a milhões de portugueses, que com os seus empregos precários pouco acima do desemprego se encontram.
E começou a tratar de contratar carpinteiros, que venham a conseguir abrir as portas que o anterior governo fechou aos nossos muitos milhares de jovens, que por essa Europa fora buscam a vida que o governozinho de direita lhes negou.
Finalmente dizer que temos um Presidente da República que me surpreendeu com a forma próxima e afectuosa como pratica a sua presidência. Se em tempos houve presidências abertas, Marcelo Rebelo de Sousa tem a presidência escancarada. Politicamente foi-me mostrando quem é e o que sabe, nas suas crónicas domingueiras durantes alguns anos, pelo que, muito embora seja oriundo do Partido Social Democrata, não me suscita apreensões. E eu ainda confio no meu instinto.
Por fim, digo que, deliciosamente, percorro, neste momento, as «arestas da terra e do mar», pelas ruas perigosas de um Portugal de 1960, e navego num lugre feito de aventura, muito trabalho perigoso nos bancos da Terra Nova, solidariedade entre camaradas de beliche de «rancho», e também de esperança, já que essa é sempre a última a morrer, mesmo quando o simples «dizer» era perigoso.

Votos de uma passagem de ano excelente e que 2017 seja para  vós sinónimo de uma vida muito feliz.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

PARA TODOS VOTOS DE UM FELIZ NATAL

A todos os que, durante o ano, vão passando por este humilde blogue, neste sentir natalício bem português, onde tem lugar um simples presépio, feito de ingenuidade e amor, que evolui em placas frias de xisto, que contrasta com o calor ameno de uma lareira, quero expressar os meu votos de um Santo Natal.

BOAS FESTAS! 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

EM OLIVENÇA PEDE-SE DUPLA NACIONALIDADE

Reparo que de vez em quando publico aqui uns textos que tiveram por base programas da RTP. É bom sinal, sintoma de que a televisão pública está a desenvolver um bom papel na informação. E hoje é mais um desses casos.
No passado Sábado à noite, 10 de Dezembro, fui surpreendido com um documentário, no programa «Linha da Frente», sobre Olivença. Estava subjacente a vontade que a RTP teve em trazer a Questão de Olivença para a praça pública, o que registo com enorme prazer.
Como bem sabem, Olivença, uma cidade alentejana e fronteiriça, foi anexada por Espanha em 1801, no desenrolar da Guerra das Laranjas. Foi a ante-câmara das invasões francesas. Já aqui falei nisto. Portugal nunca reconheceu o domínio espanhol em Olivença, e a Espanha, por inércia por parte de Portugal, nunca devolveu a cidade. Fiquei deveras surpreendido por ver, no documentário, que uma grande maioria dos naturais de Olivença estão a pedir a dupla nacionalidade, porque se sentem ligados a Portugal…e conseguem falar o português fluentemente. Aliás, toda a cidade respira lusitanidade, já que os monumentos são praticamente todos portugueses, ostentando as cinco quinas.
Olivença, uma sombra que paira sobre Portugal e Espanha.

Parabéns à RTP!

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

SUBORNANDO UM GUARDIÃO DE MASSIFTONRÁ

...Ptahknor instintivamente recuou. Embora o seu meio ambiente fosse a água, já ouvira falar na pérfida fama que Seth alcançara no mundo das areias, depois de ter sido expulso de MassiftonRá.
-         Agora compreendo a razão pela qual conseguiste chegar até aqui- disse o crocodilo Bhokurac.
-         E agora que já sabes quem eu sou realmente, manténs-te na disposição de te opores à minha passagem?- perguntou Seth.
-         Se sou guardião de MassiftonRá, agora mais do que nunca devo recorrer a todas as minhas capacidades para exercer a minha função.
-         Reconheço que mereces o lugar que ocupas- disse Seth, elogiando a atitude de Ptahknor.
Seth sabia que nada lucrava em eliminar aquele Bhokurac. Se o fizesse alertaria todas as forças defensivas do mundo dos deuses; por isso mudou de estratégia.
-         Ptahknor, lembras-te do tempo em que eu vivi em MassiftonRá?
-         Sim, recordo-me bem; e sei que não és bem vindo aqui. Qual é o sentido da tua presença nestas paragens?
-         Vejo que ocupares o lugar de Bhokurac te deu arrogância para me interpelares desse modo. Posso ser um renegado, mas continuo a ser um deus. No entanto, essa tua característica só demonstra que és ousado, inteligente e ambicioso.
-         Obrigado pelo elogio- disse Ptahknor, enquanto a sua cauda balançava nervosamente.
-         Eu também me lembro bem de ti, mais até do que do teu parceiro, o Bhokurac Belthaknor. E sabes porquê? Porque sempre considerei seres muito mais inteligente e competente do que ele. Aliás, tu ultrapassas em dinamismo o próprio deus Sobek. O deus Sobek não era capaz de me fazer frente de uma forma tão ostensiva como tu o estás a fazer, caso fosse ele que estivesse aí no teu lugar.
-         Achas isso?- perguntava Ptahknor, visivelmente lisonjeado.
-          Sem dúvidas nenhumas. Já alguma vez te passou pela cabeça vires a ser tu o deus Sobek, o senhor do Nilo?
-         Eu? Não, não tenho aptidões para tanto.
-         Não tens? Achas que possuíres a capacidade de descobrires que eu não era um sifto, não é teres aptidões para substituíres o deus crocodilo Sobek? Que mais necessitas para dominares as águas do rio Nilo?
-         Preciso de apoio- disse o crocodilo Bhokurac.
-         E queres vir a ser Sobek, o deus crocodilo?
-         Claro que quero!
-         Então tens o meu apoio.
-         E de que me serve o teu apoio? Em MassiftonRá tu não és coisa nenhuma.
-         Eu não, mas os meus serviços talvez façam maravilhas.
-         E que serviços são esses?- perguntou Ptahknor.
-         Bem, isso só a mim diz respeito. Se queres vir a ser Sobek, o deus crocodilo, só tens de me deixar passar.
-         À vontade, mas vais disfarçado de sifto, não vais?
-         Claro. No entanto, no meu disfarce algo falta, pois tu conseguiste detectar-me. O que é?
-         Falta-te uma auréola.
-         Uma auréola?! E tu serias capaz de me arranjar uma?
-         Sim, retendo alguma da energia que percorre estas águas, canalizando-a para ti, logo ficarás preenchido com uma.
-         E consegues fazer isso?

-         Já a tens- disse o crocodilo Bhokurac- pressiona o teu estômago de peixe e vê o que acontece...(em continuação, pág. 65, ex. XXVII)

in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005