sábado, 27 de fevereiro de 2010

ABRILADA- CONSPIRAÇÃO DE UMA RAINHA

...Na universidade de Coimbra foi uma imensa alegria quando se soube que, nesse ano de 1820, o general Beresford, ao regressar do Brasil, fora impedido de desembarcar por militares revoltosos, que oriundos do Porto, marcharam sobre Lisboa, desafiando assim o regime absoluto inglês. O general Beresford não voltou a pisar solo português. O liberalismo ganhava consistência, até porque já tinha ganhado um mártir. Três anos antes, em 1817, fora descoberta uma conspiração, que pretendia o afastamento dos ingleses do controle militar do nosso exército. O cabecilha dessa conspiração, o general Gomes Freire de Andrade, foi executado nesse mesmo ano por enforcamento. Era imperioso que a coroa regressasse a Portugal, pois o reino queria andar para a frente, na senda de maior justiça social, o que se tornava difícil com o rei ausente. Assim, sob pressão do governo metropolitano de Lisboa, D. João VI, que abalara príncipe e regressava rei, retornou a Portugal em 1821, onde jurou as bases da Constituição, iniciando-se de imediato o exercício da monarquia constitucional.
O rei regressara a Portugal, trazendo consigo o seu filho mais novo, o infante D. Miguel, enquanto o filho mais velho, o príncipe D. Pedro, ficou no governo da colónia brasileira.
A política é também feita de oportunidades, e não se digna a respeitar os mais elementares preceitos de fidelidade que os filhos deverão ter para com os pais; e D. João VI foi um pai e um marido completamente desrespeitado pelos seus filhos e pela sua esposa, a rainha D. Carlota Joaquina. E tudo isso apenas em nome da política! D. Pedro, havia o seu pai abandonado o Brasil há dois meses, tornou aquela colónia país independente, no que ficou célebre « O Grito do Ipiranga», tornando-se ele próprio o seu primeiro imperador, com o título de D. Pedro I do Brasil. Aguardar-se-ia outra coisa? Fazia sentido que um país tão frágil economicamente, como o era Portugal, tivesse poder para dominar um Brasil, que em território era imensamente maior?
Nas primeiras duas décadas do século XIX Portugal perdera a cidade de Olivença para os espanhóis, sofrera três humilhantes e devastadoras invasões por parte da França, defendera-se delas com valentia e orgulho nacional, mas empobrecera ainda mais. Comprometera-se com os ingleses, que após o auxílio prestado, exigiam agora contrapartidas, e desgraçadamente acabava de perder a colónia do Brasil, com que contava para combater a paupérrima economia.
Entretanto, em 1822, no dia 23 de Setembro, é promulgada a Constituição Portuguesa que dá a liberdade de expressão aos cidadãos. Portugal afastava-se assim do regime absoluto. A Constituição foi a génese de todos os conflitos que estavam para chegar, muito embora, fosse, concomitantemente, um bálsamo para a repressão que até ali fora exercida sobre o povo.
Pois é, a política é sempre um pau de dois bicos.
E os problemas não se fizeram esperar. Enquanto que o rei D. João VI jurava a constituição, a rainha D. Carlota Joaquina recusou fazê-lo, colocando-se, ela própria, à frente de uma conspiração que devolvesse ao reino o regime absolutista.
Nesse ano de 1822 eu estava a terminar o meu curso de medicina, em Coimbra. Em toda a universidade foi uma enorme alegria o juramento da Constituição por parte de Sua Majestade. E, se porventura, se aguardava a reacção da aristocracia mais conservadora, nunca se imaginou que essa reacção à implementação do liberalismo em Portugal, viesse de onde veio – da própria rainha D. Carlota Joaquina, e do seu filho D. Miguel. Eu, quando soube que, nesse mesmo ano, a rainha conspirava para depor o seu marido do trono e lá fazer sentar o infante D. Miguel, fiquei convicto de que tendo o liberalismo adversários deste calibre, Portugal iria ser invadido de novo, agora não por franceses, mas por portugueses.
Aquela notícia caiu-me bem cá no fundo do meu ser. Portugal de uma guerra civil não se livrava. Mas eu iria ter a minha pacata actividade de médico. A minha guerra seria contra as infecções e os micróbios.
Do lugar em que me encontro e onde escrevo estas linhas, olhando para esse já distante passado, e sendo agora o que sou, sei do poder da força da natureza humana, e o quanto pode alterar o rumo das vidas dos homens.
Os primeiros sinais da guerra civil que o destino colocava em marcha para Portugal, logo se fizeram sentir. Reagindo à conspiração que contra o rei se organizava, nesse ano de 1822, os conspiradores absolutistas foram presos; mas volvidos quatro meses, a 23 de Fevereiro de 1823, uma nova acção antiliberal foi mais uma vez abafada pelo governo do reino, revolta essa liderada pelo general Manuel da Silveira. Era constante a movimentação de tropas de um e de outro lado. O general Manuel da Silveira, Conde de Amarante, fugiu para Espanha, enquanto a coroa confiscava todos os seus bens.
Três meses depois, em 27 de Maio de 1823, teve lugar uma nova investida das forças absolutistas, esta, no entanto, muito mais perigosa do que a anterior, pois voltava a ter como cérebros da conspiração a própria rainha D. Carlota Joaquina e o seu filho, o infante D. Miguel. Dado o rei ter cedido a este contra-ataque, por parte da sua esposa e do seu filho mais novo, e porque foi perpetrado em Vila Franca de Xira, ficou conhecido para a história como a Vilafrancada.
Não sei que pensamentos, que sentimentos terão passado pela mente e coração do rei D. João VI, mas decerto que agradáveis não terão sido. Com poderia eu, conduzindo os destinos da minha casa, fazê-lo convictamente, sabendo que estava a ir contra a vontade da minha mulher e do meu filho? É certo que um rei, ao conduzir os destinos da sua casa, conduz também o destino de um povo; mas também não é menos verdade que aquela esposa era também rainha e que o jovem filho era infante!
Ao rei talvez lhe tenha faltado convicção política no liberalismo, quem sabe se até força de carácter. O que é certo foi que perante a Vilafrancada D. João VI aboliu a Constituição de 1822, que jurara, e atribuiu o comando do exército ao infante D. Miguel. O absolutismo regressava a Portugal. O rei, que fora aclamado como o salvador do povo, tornava-se agora no seu principal repressor… mas assegurava o seu lugar no trono. Que importância tinha o povo?! Volvidos que são dois séculos, terá o povo adquirido a importância a que diz ter direito?
A ambição terrena leva muitas vezes à perdição. No lugar em que me encontro é convicção que a riqueza aí na terra produz muita pobreza aqui, pois ser dono da riqueza material é a maior prova à elevação da alma; e quantas riquezas existem que não têm produzido qualquer elevação espiritual.
D. Miguel já se mentalizara de que o trono de Portugal lhe havia de pertencer; por isso, mesmo com o pai a ceder ao absolutismo, sem no entanto ter abdicado do trono, o infante, com o apoio da sua mãe, continuava a conspirar. O seu objectivo não era agora o regresso do regime absoluto, que esse já o alcançara, mas o próprio trono. E existiam planos para que o rei fosse preso em Vila Viçosa. Essa conspiração foi descoberta apenas cinco meses depois da Vilafrancada, em 26 de Outubro de 1823. Perante este golpe D. João VI foi brando. Era marido e pai.
Entretanto chegou o ano de 1824. Em Fevereiro desse ano, uma grande ameaça foi feita ao rei, quando o seu conselheiro, o Marquês de Loulé, foi assassinado. Dois meses depois ocorreu o segundo golpe militar absolutista – no dia 30 de Abril de 1824. Ficou conhecido como a Abrilada. O infante D. Miguel não pretendia repor o absolutismo, pois que continuava em vigor, mas somente obrigar o pai a abdicar do trono. As forças de D. Miguel chegaram a prender D. João VI. No entanto o corpo diplomático estrangeiro interveio, pelo que foi possível ao rei refugiar-se num navio inglês ancorado no Tejo. Desse navio, o rei D. João VI, tomou, finalmente, uma atitude: determinou o exílio de D. Miguel e intimidou a rainha D. Carlota Joaquina a que fizesse o mesmo. De novo, a coroa portuguesa, num momento politicamente crítico, era auxiliada por Inglaterra, a fim de manter a soberania do rei.
E foi neste cenário politico, terrivelmente conturbado, que eu nasci, me criei na pacatez da quinta dos meus pais, Malhal de Sula, fui estudar para Coimbra sob a orientação do mui sábio, venerando e afável frei Lourenço de Santa Cruz, e me formei como médico, na universidade de Coimbra. Saí doutor em 1823, o doutor Joaquim Passos Lopes...(em continuação- pág. 14, ex. IV)

in ALMA DE LIBERAL

Junho/2009

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

INVASÕES, FRANCESES, INGLESES E ALMEIDA GARRETT

...1807 foi o ano em que a França, que ajudara um outro país a tornar-se independente, tudo fazia para nos retirar a nós a independência. Cabia-nos a nós, portugueses dessa época, como o caberia aos portugueses do século XXI, se tal fosse necessário, dar o que de mais precioso tínhamos, para defender a nossa pátria – a vida. E foi o que se fez.
A corte, constituída pela Rainha D. Maria I, o príncipe D. João, a princesa D. Carlota Joaquina, os infantes D. Pedro e D. Miguel, e a infanta D. Isabel Maria, abandonaram Portugal e foram-se exilar na colónia portuguesa do Brasil. Embarcaram no dia 29 de Novembro de 1807. Politicamente foi um acto correcto. Mas como a politica é feita de cinismos, falsidades, deslealdades e também de cobardias, humanamente falando, considero que a corte partiu, abandonando o reino e o povo à sua sorte.
Entre pilhagens e violações, de tudo um pouco os franceses foram fazendo por esse país fora. Mas, nos momentos decisivos, os momentos dos confrontos entre os exércitos francês de um lado, luso – britânico do outro, os franceses foram sempre derrotados. Eram os nossos avós a transmitirem aos braços lusos aquela força, aquela têmpera que nos estava a fazer falta, e que na hora exacta chegou.
Aconteceu a 2ª invasão francesa comandada pelo general Soult, que em poucos meses foi rechaçada.
E por fim chegou a 3ª e última invasão. O exército francês, constituído por oitenta mil homens, entrou em Portugal em Junho de 1810, pela Beira Alta, comandado pelo general Massena. Tem um especial significado para mim esta invasão, pois nela teve lugar a Batalha do Buçaco, no dia 27 de Setembro de 1810, em que o exército francês mais uma vez foi derrotado, tendo ficado bastante fragilizado, pelo que pouco tempo depois, tentando invadir Lisboa, não conseguiu passar das linhas de Torres, em Torres Vedras, onde foi finalmente aniquilado, tendo o espectro francês, que pairava sobre Portugal, se extinguido nas linhas de Torres. A Batalha do Buçaco deu-se na Serra do Bussaco (Buçaco como se escreve hoje em dia), perto da qual se localizava a pequena quinta do meu pai, «Malhal de Sula», pelo que, eu, com dez anos de idade, lembro-me muito bem da movimentação das tropas portuguesas e inglesas, a quem o meu pai providenciou alimentos. E recordo as coisas horríveis que vi, após o desenlace da batalha. Dois soldados franceses, em pânico, fugindo dos nossos, vieram a ser apanhados nas nossas terras, e ali mesmo foram executados. Demos àqueles dois soldados franceses uma sepultura cristã. Quando começou a assentar o barulho dos canhões, os disparos das espingardas e o longínquo trovoar de vozes humanas, começou a chegar um silêncio profundo das serranias do Bussaco, um silêncio de morte, que trazia consigo um cheiro putrefacto, que nos impregnava as narinas de nojo. Era o cheiro de muitas centenas de cadáveres em putrefacção.
Ainda hoje, passados que são cento e noventa e seis anos sobre essa batalha, muitos dramas se continuam a desenrolar, sem que os seus protagonistas se tenham apercebido dos anos que já passaram sobre o dia em que ocorreram.
Durante os três anos, pelos quais decorreram as três invasões, os franceses foram cruéis vândalos, ladrões e assassinos. Por esse país, desde o Minho ao Algarve, praticaram todo o tipo de actos criminosos. Se Portugal, no final do século XVIII, era um país pobre e desacreditado, no início do século XIX passou a ser um país miserável, despojado das poucas riquezas que aqui e ali existiam, fruto da mão criminosa de uma França, que no seu próprio território lutava por uma maior igualdade entre os homens. Que enorme contradição!
Portugal era um país devastado, mas continuava a ser uma nação soberana. Pudemos e soubemos fazer do tratado de Fontainebleau um tratado de letra morta.
Entretanto, os nossos aliados ingleses, que nos deram um precioso auxílio na expulsão dos franceses, e porque de politica se tratava, não nos auxiliaram apenas por respeito à antiga aliança. Teriam em mente alguns planos, quem sabe se não fazer de Portugal uma colónia britânica?! Haviam perdido recentemente a sua enorme colónia na América. Que mais não fosse, para sarar um pouco o orgulho ferido. Era apelativa a ideia de conseguirem uma nova colónia em plena Europa, depois de haverem tido os seus exércitos envolvidos em encarniçados combates contra o seu maior inimigo – a França. Mais uma vez, no meu sempre questionável ponto de vista, penso que esta hipótese passou pela mente dos governantes britânicos; e digo isto pelas medidas a que se propuseram tomar, em território português, tais como pretender submeter o exército português ao comando de oficiais superiores ingleses, e mesmo, pelo facto de em Portugal, terem prendido portugueses sob a acusação de jacobinismo.
Em 1815 grassava em Portugal o sentimento anti –britânico.
No ano seguinte, em 1816, morreu a rainha D. Maria I, pelo que o príncipe D. João foi proclamado rei de Portugal, com o título de D. João VI; mas encontrava-se no Brasil, não em Portugal, apesar da ameaça francesa se ter extinguido havia já seis anos.
Com o rei fora do reino e a presença britânica em Portugal a manifestar-se cada vez mais opressiva, começou a germinar no seio do povo uma necessidade latente de liberdade. Chegavam os primeiros ventos do liberalismo. Um reino sem rei, era atractivo para as tais intenções colonialistas por parte dos ingleses. Sentindo que Portugal reagia ao crescendo da opressão inglesa, o governo britânico enviou, em 1820, o general Beresford ao Brasil, para que obtivesse do rei português uma maior concentração de poderes, no intuito de melhor poder reprimir acções de revolta, de índole liberal.
Em Portugal o liberalismo deixara de ser uma intenção e passara a ser um conceito.
E por essa altura eu já frequentava a faculdade de medicina, na universidade de Coimbra. Respirava liberalismo. A faculdade inflamava-se com os poemas de incitação à revolta de Almeida Garrett, então um jovem como eu.
No que concerne aos requisitos, que aí na terra, o homem considera serem importantes para que o nome de alguém se torne famoso e imortal, Almeida Garrett preencheu-os todos, pois ainda hoje, passados que são duzentos e sete anos sobre o seu nascimento (era um ano mais velho do que eu), o homem que foi Almeida Garrett, prosador e poeta, continua a ser lido e estudado. Nos parâmetros terrestres eu não atingi qualquer popularidade, pelo que faço parte do imenso rol de gente cujo nome não atravessou a espessa barreira da expressão «povo». Não sei se a mesma situação nos foi destinada aos dois, aqui onde me encontro. Aquele que aí na terra materializou Almeida Garrett, não o tenho visto por aqui. Não faz parte do meu grupo espiritual, portanto também é difícil que o veja...(em continuação, pág. 9- ex. III)

in ALMA DE LIBERAL

Junho/2009

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

OS SIFTOS





...Nessa mesma noite, pequenos seres com aspecto de crianças, penetraram as paredes do templo e atravessando a escuridão e o silêncio sagrados, entraram na sala do tabernáculo onde o faraó prestara o seu tributo a Amon-Rá.
Ali, em plena escuridão, sem proferirem um som, fecharam os olhos, estenderam os braços, abriram as mãos e sentiram os fluidos reais colarem-se-lhes à pele. Nesses fluidos estavam todos os sentimentos de amor que o faraó ali deixara, dirigidos ao deus Amon-Rá. Repletos desses fluidos, as três crianças abandonaram o templo, passando de novo através das paredes e muros que encontravam pela frente. E correndo numa velocidade impossível de alcançar a qualquer ser humano, dirigiram-se para o rio Nilo, submergindo-se nas suas águas. Assim que entraram em contacto com a água, transformaram-se em peixes. Eram os «siftos», obreiros do magnífico e sobrenatural palácio dos deuses- MassiftonRá...(em continuação, pág. 16, ex. VI)

in A CAUSA DE MASSIFTONRÁ

Novembro/2005

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

FOGO NUM OLHAR DE ESMERALDA



...Terminada a longa oração, o faraó levantou-se do trono que para si fora propositadamente construído. O Sumo Sacerdote, que em frente ao tabernáculo se mantivera em silêncio absoluto, como que despertando de um transe, ao ver o faraó levantar-se dirigiu-se a ele, ajoelhou-se e beijando-lhe as mãos disse:
- Amon-Rá receberá as tuas preces, divino senhor.
- Sinto-me muito bem, Sumo Sacerdote. A união do faraó com o deus dos deuses é fundamental para a harmonia do reino. Abandono este local sagrado com imenso júbilo. Pela primeira vez entrei neste templo na condição de rei; pela primeira vez estive nesta sala, reservada apenas à presença de reis. Estou imensamente feliz.
- O meu peito exalta de alegria, divino senhor- disse Masahemba- pois é meu humilde dever canalizar as preces do faraó para Amon-Rá. A tua felicidade é sinónimo de que cumpri bem o meu dever. Segue-me divino senhor.
E Masahemba guiou o faraó até ao imenso átrio, banhado pela luz solar. Ali, encontravam-se três sacerdotisas, que ao verem o faraó despontar do interior das salas destinadas ao tabernáculo sagrado, se ajoelharam.
- As sacerdotisas do templo te saúdam- disse o Sumo Sacerdote.
O faraó contemplou as três jovens mulheres. Quedou-se por momentos, extasiado. Depois perguntou ao Sumo Sacerdote:
- São virgens?
- Divino senhor, as sacerdotisas têm a sua iniciação ainda muito jovens, quando crianças, quando tocadas pela bênção de Amon-Rá. Quando chegam à idade adulta, os únicos homens que vêem são o Sumo Sacerdote e o faraó. Uma sacerdotisa tem de ser pura, na alma e no corpo.
- Qual é especificamente a missão delas?- perguntou o faraó.
- Ao nascer do sol, agradecem a Amon a gentileza de mais um dia a sua luz fecundar a terra. Ao pôr do sol, agradecem a Amon todos os benefícios que a sua luz, durante mais um dia, trouxe aos homens.
Recebida a resposta à sua pergunta, muito lentamente aproximou-se das três sacerdotisas. Fixando-as, passou pela primeira, passou pela segunda, e ao chegar à terceira, parou. O seu olhar, de súbito ganhara um intenso brilho. A terceira sacerdotisa tinha o cabelo da cor do fogo, intensamente vermelho. O faraó ordenou-lhe que se levantasse. Ela assim fez, mantendo, no entanto, o olhar dirigido ao chão. O faraó ordenou que ela o olhasse. Muito lentamente, com relutância, ela começou a elevar o olhar, percorrendo o corpo do faraó, até lhe fixar o rosto. O rei estremeceu. Diante dele estava um rosto ardente, pintalgado de deliciosas sardas, e uns olhos de um profundo verde esmeralda, que produziam nele uma onda de paixão.
- Como te chamas?- perguntou o faraó à sacerdotisa.
- Nefertiti, divino senhor- respondeu Masahemba.
- Eu não te perguntei coisa alguma, Sumo Sacerdote. Quero que seja ela a responder-me- disse o faraó com um tom de voz traduzindo irritação.
- Ela está proibida…
- Quem aqui tem voz activa para proibir, sou eu! E eu ainda a não proibi de nada- disse o faraó rispidamente ao Sumo Sacerdote- sacerdotisa, o teu faraó quer saber o teu nome- disse o rei, fixando os encantadores olhos verdes da sacerdotisa.
- Nefertiti, divino senhor- respondeu a sacerdotisa.
- Que belo nome de mulher…
- Ela não é uma mulher, divino senhor, é uma sacerdotisa.
- Sumo Sacerdote, interrompeste o teu faraó, quando este falava. Não o repitas. Quando eu regressar a este templo, quero que as minhas sacerdotisas me acompanhem nas orações.
- Com todo o respeito e submissão, divino senhor, te informo de que as sacerdotisas não são tuas. Amon-Rá é o seu senhor.
- Sumo-Sacerdote, tudo o que existe no Egipto, vivo ou morto, é propriedade do faraó. As sacerdotisas entregam a alma a Amon, mas o seu corpo é do faraó.
- Divino senhor, o corpo de uma sacerdotisa está purificado pela bênção de Amon. Logo, é como se a sacerdotisa fosse apenas alma.
- Por hoje chega de conversa contigo. Abre o pórtico para eu sair… e não te esqueças, Sumo-Sacerdote, quero ser acompanhado pelas sacerdotisas nas minhas orações.
O enorme pórtico foi aberto; o faraó saiu do templo; o pórtico fechou-se de novo.
Masahemba observara atentamente o momento em que o faraó ficara frente a frente com a sacerdotisa Nefertiti. Sentira a sua agitação. O faraó era bastante jovem. Que Horus iluminasse o faraó, no sentido de lhe fazer compreender as repercussões negativas, que poderiam advir do facto de uma sacerdotisa despertar ímpetos mundanos...(em continuação- pág. 15- ex. V)

in A CAUSA DE MASSIFTONRÁ

Novembro/2005

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

MÚSICA DE UMA VIDA- LOGO QUE PASSE A MONÇÃO



Numa altura em que o nosso Navio Escola Sagres percorre, neste momento, as rotas marítimas que os marinheiros portugueses percorreram na Epopeia dos Descobrimentos, é pertinente recordar esta faixa- Logo Que Passe a Monção, do álbum «Auto da Pimenta», de 1991, encomendado para celebrar os 500 anos sobre os Descobrimentos Portugueses. É, na minha opinião, uma das mais belas melodias cantadas em português. Claro, tinha de ter por autor o nosso enorme Rui Veloso, com letra de um outro talentoso- Carlos Tê, uma dupla que nos tem presenteado com letras fabulosamente recheadas de emoção poética e musical. É sem qualquer dúvida uma música para ouvir toda uma vida, tanto pela beleza melódica como pelo conteúdo da letra, que evoca bem o sentimento de um marinheiro português perdido no Oriente das monções.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

NA BEIRA MAR, ENTRE IRMÃOS

- ...Esperem por mim seus sacanas- berrava Narciso Conde, enquanto a correr se afastava da casa Lobito de Benguela- isso è que vocês são uns amigos.
- Ah, nós è que somos maus amigos!!- retorquia um dos outros três rapazes- quase nos meteste numa grande trapalhada. Asseguraste-nos que não ia haver qualquer perigo na casa da tua tia, e afinal tínhamos uma comissão de recepção.
- E vocês não viram porquê? Como podia eu adivinhar que o animal do Serôdio estava lá em casa?
- E ele estava lá em casa a fazer o quê?
- È verdade!! Ele estava lá em casa a fazer o quê?- questionava-se Narciso- ele não conhece a velha, nunca esteve naquela casa. Sabem de uma coisa? Aquele gajo estava à nossa espera. Ele sabia que nós íamos ali esta noite.
- Mas sabia como? Só se o tipo for bruxo.
- Isso eu não sei- dizia Narciso- mas que ele estava ali por nossa causa, disso não tenho dúvidas. Aquele tipo vai-me pagar isto bem pago.
- Será que nos conheceram?
- È possível, mas nada podem provar- respondeu Narciso cheio de confiança- fiquem calmos. Temos de ter a cabeça fria. Eu irei de mansinho sondar a velha e o tição, para ver se desconfiam de alguma coisa.
E os quatro seguiram cada um para sua casa, tendo-se livrado previamente dos garruços de lã preta, que abandonaram num contentor do lixo.
No dia seguinte, depois do almoço, D. Silvina dirigiu-se a casa do seu irmão. Não estaria nas melhores condições psíquicas para ter uma conversa do género daquela que iria desenvolver, mas não podia deixar cair em esquecimento o que lhe acontecera na noite anterior. E o que acontecera fora muito grave! Não tivesse sido a oportuna intervenção de Serôdio, talvez a sua vida já não existisse. Como o rapaz ficara com a cara. Estava inchada e na zona da vista esquerda tinha uma enorme nódoa de um negro muito feio. Fora uma noite esgotante. Teria agora de ter muito tacto para conversar com o seu irmão. Sim, porque não se acusa um filho de alguém de uma coisa tão má como aquela, assim de ânimo leve, sem provas, mesmo a acusadora sendo uma tia.
O seu irmão, Carlos Conde, era dois anos mais novo do que ela. Formara-se em engenharia. O pai dos dois fora um benemérito médico aveirense. Numa educação respeitando os princípios cristãos e as leis da moralidade, criou os seus dois filhos. Ao rapaz deu um curso de engenharia e à rapariga deu um nome respeitável, nome esse que veio a atrair a atenção de um jovem alferes. Por isso mesmo, D. Silvina contava com o discernimento do irmão para poder resolver aquele assunto tão delicado.
Previamente ligara para o seu irmão, certificando-se de que ele estaria em casa.
Carlos Conde vivia numa tradicional casa ribeirinha, na zona da beira mar plantada, virada para um braço da ria que passava num canal a que puseram o nome de S. Roque. Daquela casa se já havia assistido ao esforço de centenas e centenas de marnotos, na árdua faina do sal. Se a casa de D. Silvina evocava os tempos da colonização portuguesa em África, a casa de Carlos Conde recordava o tempo em que a ria fora o coração de Aveiro, exibindo painéis de azulejos onde se representavam barcos moliceiros cortando as águas da ria, uns carregados de montes de escuro moliço e outros a abarrotar com a alvura de montes de sal.
Nem foi preciso fazer-se anunciar. O irmão aguardava-a ao topo de uma pequena escadaria.
- Então Silvina, o teu tom de voz ao telefone deixou-me preocupado- dizia Carlos Conde, um homem quase a entrar nos cinquenta, de cabelo e pêra grisalhos.
- Não è para menos Carlos, não è para menos- dizia D. Silvina, enquanto saía do carro conduzido pelo criado negro- ainda há quem se aproveite do facto de uma mulher ser viúva.
- Que me dizes? Fizeram-te alguma coisa?- perguntava o irmão de D. Silvina, enquanto a acompanhava.
Depois de comodamente instalados numa sala, onde o primordial motivo de decoração era a faina da ria, Carlos Conde disse:
- Mas então irmã, que te aconteceu?
- Gostaria de ter esta conversa a sós contigo.
- Podes falar Silvina, a minha mulher e os miúdos saíram e a empregada está a estender roupa no quintal.
- Pois muito bem, meu querido irmão, o que te tenho para dizer não è nada simpático. Também não tenho provas, mas não podia ficar a viver nesta situação, sujeita sabe Deus a quê.
- Silvina, quando te pões com essas evasivas, è porque o caso è mesmo sério.
- Sim è sério. Eu podia estar morta neste momento...
- Morta?- questionou o engenheiro Carlos Conde- morta como?
- Morta como? Sem vida, como è que querias que eu estivesse morta a não ser dessa maneira?
- Não è isso que eu quero dizer. Correste mesmo perigo de vida?
- Sim Carlos, ontem pelas duas horas da manhã a minha casa foi assaltada por quatro meliantes.
- Que me dizes?
- È verdade. Um deles atacou-me com uma daquelas lanças que o Raul trouxe de Angola. Não fosse a pronta intervenção de um rapaz que lá estava em casa...
- Tu tinhas um rapaz em tua casa às duas da manhã?
- A história começa nesse rapaz. Durante a tarde de ontem esse moço chamado Serôdio veio-me bater à porta, para me alertar de que eu à noite iria ser assaltada.
- Essa agora!! E foste mesmo- dizia o engenheiro Carlos Conde.
- E fui mesmo! Mas o mais grave ainda não te disse. Esse rapaz, que è colega de turma do teu filho Narciso, foi acusá-lo de que seria ele o cérebro do assalto.
O irmão de D. Silvina ficou uns momentos em silêncio. Depois disse calmamente:
- Tu estás a acusar o meu filho de ser um assaltante?
- Que te hei-de eu dizer irmão? Aquele rapaz veio denunciar uma situação que acabou por acontecer. Os assaltantes foram direitinhos ao quadro da parede que esconde o cofre. Retiraram o quadro da parede e já se preparavam para abrir o cofre, quando foram descobertos. Que te hei-de dizer?
- Tens provas da acusação que estás a fazer?
- Não, não tenho, porque os quatro assaltantes estavam encapuçados e nunca falaram.
- E esse tal... como se chama...?
- Serôdio?
- Sim, esse tal Serôdio, estará ele por detrás desse assalto?
- Depois de em voo se ter lançado contra o indivíduo que para mim corria com a lança em riste, e depois de por esse mesmo bandido ter sido agredido a pontapé no peito e no rosto, acho muito difícil.
- Silvina, faz-me compreender a razão pela qual acreditas que o meu filho Narciso seria capaz de te fazer tal barbaridade.
- Talvez o modo desprezível com que me olha. Sinto nele que por mim não nutre qualquer sentimento.
- Eu estou muito magoado contigo Silvina.
- Meu irmão, Deus me perdoe se estou a cometer uma injustiça. No entanto, vivendo todas as minhas incertezas e pavores, aqui me tens a dizer-te tudo isto e não na esquadra de policia. Eu não poderia fazer isso ao meu querido irmão, nem mesmo se tivesse a certeza da presença do Narciso ontem em minha casa.
- E esse Serôdio, porque enxovalhou ele o nome do meu filho?
- Porque disse ter descoberto o plano, e porque estava farto da conduta do Narciso para com os colegas de turma e ele próprio.
- A conduta? Que conduta?
- Olha Carlos, não sei... vai lá ao liceu e informa-te. Eu fui assaltada, quase agredida, tive de ir com o rapaz ao hospital, foi uma noite para esquecer. Estou exausta. Não tenho provas para acusar o teu filho, mas... disse-te o que sinto. Se ele não tiver culpa, eu a ti e a ele pedirei desculpas. Boa tarde.
E D. Silvina abandonou a casa do irmão, mais angustiada do que entrara. Ele ficara revoltado com ela. Era natural. Nenhum pai gosta de ouvir más palavras em relação a um filho. Mas, infelizmente, ela sentia que Serôdio tinha razão na acusação que fizera...(em continuação- pág. 38- ex. XI)

in FILHOS POBRES DA REVOLTA

Março/2003

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O ATAQUE

- O que è que se passa aqui?- perguntou D. Silvina.
- Infelizmente não me enganei D. Silvina. Estes tipos ainda não disseram absolutamente nada. Estão com medo que eu lhes reconheça a voz- disse Serôdio com voz exaltada, sintoma da excitação.
- Qual de vocês è o meu sobrinho Narciso?- perguntou D. Silvina.
Como resposta, o assaltante que mais próximo se encontrava de Serôdio, num gesto rapidíssimo, pegou numa das lanças que se encontravam no chão e com ela em riste correu na direcção de D. Silvina. Serôdio apenas teve tempo de se lançar em voo, fazendo-lhe uma autêntica placagem de rugby. Ambos caíram por terra.
Armando, tendo pressentido as intenções daquele indivíduo, quando o viu dirigir-se para a sua patroa, desinteressou-se dos outros e foi em auxílio de Serôdio, tendo então pegado, também ele, numa lança. Serôdio, suplantado em força física pelo oponente, tentava desesperadamente que ele o não atingisse com a ponta metálica e afiada da lança. Com uma força que ele foi buscar sem saber onde, conseguiu desarmar o intruso. Este, furioso, pontapeou o peito e o rosto de Serôdio. Vendo no entanto aproximar-se o criado negro com a lança em riste, preferiu fugir. Quando o fez a sala estava vazia.
Serôdio tinha as costelas doridas e desenhava-se-lhe um hematoma no rosto.
- Armando, vai tentar ver por onde saíram- ordenou D. Silvina.
- Sim, senhora- respondeu o criado negro, que logo abalou, levando a lança bem agarrada numa das mãos.
- Tens de ir ao hospital, Serôdio.
- Não vale a pena D. Silvina. Isto não è nada.
- È, è. Esse hematoma na cara está a ficar muito feio.
- Foram só dois pontapés.
- E eu vi com que violência foram dados. Aquele indivíduo è mesmo mau.
- E è esperto. Nunca abriu a boca- retorquiu Serôdio, que com muita dificuldade se levantava, ajudado por D. Silvina.
- Se não fosses tu, ele tinha-me atingido com a lança e não sei o que teria sido de mim- disse a senhora, apoiando Serôdio.
- Ele realmente atacou-a cheio de raiva.
- Ficámos sem saber se isto teve relação com o que o teu colega ouviu na casa de banho do café.
- D. Silvina, eu não tenho grandes dúvidas- disse Serôdio- se eles nunca falaram, por alguma razão foi. È estranho que não tenham comunicado verbalmente entre si. Eles não o fizeram porque receavam que eu, a senhora ou mesmo o Armando lhes reconhecêssemos as vozes.
- Sim, tu tens razão, mas no fundo não passam de conjecturas da nossa parte. Não existem certezas.
- Uma certeza há D. Silvina. Eles sabiam onde o cofre estava escondido. Mesmo às escuras o encontraram. E a senhora não acha grande coincidência, o facto de ter sido assaltada na mesma noite em que eu a vim avisar de que isso iria acontecer?
- Tens razão Serôdio. Amanhã vou falar com o meu irmão. Não sei bem o que lhe irei dizer, mas não posso, a partir de agora, viver com esta desconfiança.
- Eles fugiram pela porta lá de trás- disse Armando, que entretanto regressara.
- Mas essa porta estava fechada, não estava Armando?
- Estava sim , senhora. Mas a porta foi aberta com a chave que falta no molhe. Eram três chaves e só lá estão duas.
- E quando è que essa chave faltou?- perguntou Serôdio.
- Não sei jovem moço- respondeu o criado negro.
- Aquela è uma porta que tem pouca utilização- retorquiu D. Silvina.
- Alguém que frequenta esta casa apercebeu-se disso, apoderou-se de uma das chaves e...
- Será que o meu sobrinho Narciso pode ser assim falso como Judas?
- Pelo menos com os colegas ele nunca soube ser leal- disse Serôdio.
- Bem, vamos então ao hospital.
- Mas D. Silvina, isto...
- Tu não tens querer, meu rapazinho. Precisas de tratamento. Armando, vai tirar o carro da garagem.
- Sim senhora, vou já- disse o criado negro abalando rapidamente.
- Eu posso ligar para o meu pai...
- Não ligas coisíssima nenhuma. Vais agora apoquentar a pobre criatura, a uma hora destas!! Já basta entrares em casa com esse hematoma no rosto. Vamos indo, que o Armando num instante prepara o carro...(em continuação- pág. 33- ex. X)

in FILHOS POBRES DA REVOLTA

Março/2003

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A REPÚBLICA- 3º ANO II

...O primeiro resultado de tudo isto foi uma sensível melhoria nas relações internacionais, facilitadas pelo vapor, electricidade e imprensa; ganharem força as ideias de paz universal, pela arbitragem e trabalhar-se, à porfia, na resolução do grave problema da distribuição das riquezas naturais e do trabalho.
Sendo uma época de transformações, nenhum partido conseguiu realizar o seu programa, apesar de aparecerem muitos homens cheios de tino politico e de austeridade moral.
Tinha de ser assim, porque só os governos absolutos estão dentro da lógica, para povos sem preparo para os regimes de liberdade.
As velhas dinastias estavam, porém, gastas e todos os regimes novos se fundam antes de a maioria poder compreendê-los.
Como, porém, os governos representativos atribuem voto de igual quilate ao sábio e ao ignorante, ao sério e ao troca-tintas, fez-se em cem anos uma política suja, mandando as maiorias arrebanhadas a vinho e bacalhau frito pela corja audaz dos políticos, ficando, ás vezes, fora do governo os homens que mais podiam contribuir para a boa marcha dos negócios....(continua)

in A REPÚBLICA NA BEIRA ALTA

Martins e Abreu
revoltoso do 31 de Janeiro e cavador em Mortágua

1913

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A REPÚBLICA- 3º ANO

Neste ano em que se comemora o 1º centenário da implantação da República em Portugal, penso que será interessante conhecer-se a perspectiva que um cidadão português tinha sobre a República, apenas três anos após a sua implantação. Curiosamente, muitas questões que ele colocava, mantêm-se actuais.

«Na evolução das sociedades modernas, a voz dos produtores ergue-se mais alta que todas, mostrando que passou o tempo do privilégio em política; que a força e a energia estão com os que trabalham e que a vida dos velhos regimes está gasta e só poderá ainda arrastar-se contemporisando com as ideias revolucionárias.
No último século estabeleceram-se governos constitucionais em toda a Europa continental e numa parte da Ásia; na América unificou-se o sistema democrático com a transformação do Brasil em república; os hábitos de despotismo abrandaram mesmo em países atrasados; tomou-se o pulso aos tempos e concedeu-se à opinião pública muito do que ela exigia...(continua)»

in A REPUBLICA NA BEIRA ALTA

Martins e Abreu

1913