quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

RECORDAR ZECA AFONSO

Há trinta anos desaparecia do materialismo da vida o maior trovador da tradição coimbrã, o maior cantor dos ideais da nossa democracia. Do Choupal Até à Lapa, passando por Grândola Vila Morena, ganhou Zeca Afonso a imortalidade na nossa memória colectiva.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

NO ALTO DA ESTRADA, EM ALFEIZERÃO

...Finalmente chegara a Alfeizerão. Deparou-se com um pequeno aglomerado de casas junto à estrada. Para norte e para sul, a uma certa distância, adivinhavam-se mais alguns telhados e mais para norte ainda, divisava-se a opulência de quatro torres a ladearem o que dali parecia ser um solar. Era meio-dia. Américo Afonso procurava em vão alguém a quem se pudesse dirigir, para se informar sobre o paradeiro da pessoa mais responsável naquela pequena aldeia. Percorrendo a estrada, deu finalmente com uma porta aberta e três boquiabertos rapazes, que de olho brilhante e desconfiado, miravam incrédulos a “carroça sem cavalos”. Era a taberna do Ti Chico Bento. Américo Afonso parou o automóvel. Deixando-o a “ronronar” pachorrentamente, dirigiu-se aos rapazes, que imóveis admiravam aquele homem impressionante, que era capaz de dominar tal “avantesma”.
- Muito bom dia - disse Américo.
- Bom dia - responderam em uníssono os três rapazes, que fixavam o olhar incrédulo no advogado.
- Que nome se dá àquilo? - perguntou um dos rapazes, apontando para o automóvel.
- Aquilo chama-se automóvel - respondeu Américo.
- E o “tumóble” anda como? - perguntou outro.
- Em vez de ter cavalos a puxá-lo, tem um motor.

- Aaahh... respondeu o rapaz que fizera a pergunta, mostrando-se satisfeito com uma resposta que não compreendera...(em continuação, pág. 124, ex. XLIX)
in Quando Um Anjo Peca

Março/1998

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA- 1131 MOSTEIRO DE SANTA CRUZ DE COIMBRA




Com os cavaleiros Templários a ocuparem o recentemente doado Castelo de Soure, a sua primeira fortaleza em Portugal e na Cristandade, D. Afonso Henriques resolveu abandonar a antiga residência dos condes de Portucale, em Guimarães, e fixar-se em Coimbra, fazendo da minha cidade a capital da monarquia prestes a formar-se.
         E porque ao centro político do seu Portugal em expansão faltava um centro cultural original e importante, mandou que em 1131 se iniciasse a construção do Mosteiro de Santa Cruz, templo que para sempre ficou ligado aos alicerces da nacionalidade.
         Tem hoje a bonita idade de 886 anos!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

MORTE POR DESDOURO, VATICÍNIO EM MALHAL DE SULA

...Ao chegar a Malhal de Sula logo me saiu ao caminho o meu pai. Ele fazia toda a questão em saber como decorrera mais esta visita ao Conde de Cértima. Depois da primeira visita que eu fizera a D. Rodrigo Corga, o meu pai enchera-me de perguntas, querendo saber pormenores, para poder avaliar o meu desempenho, não como médico, evidentemente, mas como um plebeu que pretende impressionar positivamente um nobre senhor.
- Então Joaquim, como correu? – perguntava o meu pai, corroído de expectativa – como te tratou esse fidalgote do Pedro Corga?
- O filho do conde não estava, meu pai. Já abalou para o Porto para os seus afazeres das armas. Mas aconteceu uma coisa horrível.
- Que foi? Raios partam as obras do demo. Alguma te arranjou.
- Não, fique descansado. Nada teve a ver comigo. Nas terras do senhor conde apareceram mortos um homem e uma mulher.
- Santo Deus… - dizia o meu pai fixando-me com espanto.
- Segundo disseram as gentes do conde, os infelizes estavam para se casar.
- Ainda eram novos?
- Sim, bastante novos, à volta dos seus vinte a vinte cinco anos. E estavam mortos junto a uma velha capela, perfurados por lâmina.
- Há aí vacas encoiradas!
- Porque é que o meu pai diz isso?
- Então não se está mesmo a ver?! Iam p’ra se casar nessa capela e apareceu alguém que sentiu desdouro por esse casamento se ir fazer, e os matou para limpar a sua honra.
- O meu pai acha?
- Isso está de trombas, clarinho como a água.
- E o padre? – perguntei eu.
- O padre? Que padre?
- O padre que os ia casar?
- O padre fugiu espavorido ao ver a sangria.
- Como fala até parece que o meu pai esteve lá para ver.
- Mas olha, o regedor que vá falar com o padre do Luso e logo terá o nome do matador, tão certo como estarmos aqui.
- Bem me parece que meu pai dava um bom meirinho.

- Dava nada, rapaz. Isto sou eu a falar – dizia o meu pai, com uma certa vaidade escondida por tão depressa ter atinado na razão que estava por detrás daquelas mortes...(em continuação, pág. 47, ex. XXIV)
in Alma de Liberal
Junho/2009