terça-feira, 27 de setembro de 2016

NOTAS AMADORAS DE UMA HISTÓRIA QUE TAMBÉM É MINHA- 1128- BATALHA DE S. MAMEDE: A INDEPENDÊNCIA QUE SE DESENHA

  A feroz oposição do jovem Afonso Henriques às forças invasoras de D. Afonso VII de Castela, em 1127,  foi um acto demonstrativo de que a nobreza portucalense podia contar com ele para defender os interesses do Condado Portucalense. Estavam reunidas as condições para que os nobres portucalenses e o seu líder avançassem para vôos mais altos. Nesse sentido, o confronto latente entre Afonso Henriques e a sua mãe, a Condessa D. Teresa, era apenas uma questão de tempo, já que a condessa, ao unir-se ao nobre galego Fernão Peres de Trava, impôs ao Condado Portucalense a autoridade dos Trava.
E esse confronto teve lugar em S. Mamede, na batalha que lhe herdou o nome, em Junho de 1128, vencida por Afonso Henriques, que assim tomou nas suas mãos o controle efectivo do condado e abriu caminho para uma muito maior aventura.

domingo, 18 de setembro de 2016

QUANDO CARROCEIROS PRETENSIOSOS DÃO ORDENS...

...Nesta vazia convicção Serôdio muito cedo tomou consciência de que estava a ser pessimamente comandado. Mas ele sentia não ter outras opções para a vida ou se as havia, não tinha capacidade para as vislumbrar. Na sociedade portuguesa era vulgar dizer-se que só ia para a policia quem não sabia fazer mais nada. Nada mais falso! Como veio a constatar, no seio dos seus colegas existiam pedreiros, carpinteiros, mecânicos, agricultores, serralheiros, canalizadores, electricistas... era um sem fim de profissões, que na esperança de melhoria de vida as abandonavam, para se abraçar à causa pública. Apenas ele e mais alguns como ele, com uma vida académica frustrada por variadíssimas razões, iam para a policia por não saberem fazer mais nada. Acaso o infortúnio não lhe tivesse batido à porta, estaria naquele momento, passados seis anos, a terminar um curso de medicina. Os lentes dos segredos da anatomia humana, que no seu imaginário existiram, foram na realidade substituídos por carroceiros ridiculamente pretensiosos. Onde raio se estava ele a meter?...(em continuação, pág. 84, ex. XXXII)

in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

sábado, 10 de setembro de 2016

NA NAMÍBIA, QUINHENTOS ANOS DE HISTÓRIA PORTUGUESA PRESERVADOS NA COSTA DOS ESQUELETOS

Ontem vi com muito interesse o programa «Sexta às Nove», na RTP 1. E conclui que o povo português, na verdade, está muitíssimo mal servido de classe política…conclusão a que todo o país há muito chegou, no entanto. Mas foi mais uma oportunidade para o constatar.
Lembro-me perfeitamente de em 2008 ter sido notícia a descoberta de uma nau portuguesa nos areais da Namíbia. Fiquei interessado, mas como nunca mais se falou no assunto, fui-o esquecendo. Até que ontem a RTP trouxe à luz do dia esta vergonhosa postura de todos os governos portugueses, desde 2008 até agora, relativamente àquela descoberta.
A Nau portuguesa «Bom Jesus», da carreira das Índias, dirigia-se de Portugal para a Índia em 1533, quando ao chegar perto do Cabo Bojador, lá no bico sul de África, onde então reinava o gigante Adamastor, naufragou ao largo da Namíbia, sendo que os despojos deram à costa na «Costa dos Esqueletos».
Em 2008, quatrocentos e setenta e cinco anos depois, quando uma empresa fazia a prospecção de diamantes naquelas praias, algo de anormal apareceu, pelo que todas as máquinas pararam e os arqueólogos de serviço foram chamados ao local. Acabara de aparecer um canhão do século XVI. Imediatamente começaram os trabalhos de escavação.
Hoje, num museu da Namíbia está guardado todo o espólio entretanto encontrado da descoberta da Nau Portuguesa Bom Jesus, naquelas areias da Namíbia, de que fazem parte canhões, peças de metal, alguns esqueletos de marinheiros portugueses guardados em caixas, três valiosíssimos astrolábios, os mais antigos do mundo (instrumentos de navegação inventados pelos portugueses), de entre outros objectos…e 2000 moedas de ouro cunhadas com as armas portuguesas, avaliadas em onze milhões de euros.
Pois bem: já passaram oito anos e todo este espólio repousa na Namíbia à espera que o seu proprietário o reclame, pois que à face do direito marítimo internacional, Portugal continua a ser o proprietário de todo este espólio e tesouro, cabendo-lhe todo o direito de o reclamar.
Os repórteres da RTP, depois de concedidas as devidas licenças, obtiveram autorização de filmar estes valiosíssimos pedaços de história. No entanto, ao chegarem ao cofre onde foram guardadas as duas mil moedas de ouro, na presença de uma representante do Banco da Namíbia, repararam que os códigos que a ela haviam sido entregues para abrir o cofre, estavam errados. Não o puderam fazer, tendo ficado sem saber quem tinha sido a última pessoa que teve acesso ao mesmo cofre.
Questionada uma Secretária de Estado actual sobre as razões que levaram o Estado Português a não ter ainda reclamado todo o espólio da Nau Bom Jesus, encontrado em 2008 na Costa dos Esqueletos na Namíbia, a mesma, com a maior falta de vergonha que se possa imaginar, respondeu que não foi feito porque o Estado Português considera que todo o espólio está muito bem guardado.
Talvez como um governante respondeu há uns anos quando o abordaram sobre a questão de Olivença, a vontade de fazer regressar a Portugal o espólio da Nau Bom Jesus, preservado subterrado nas areias da Namíbia durante quase quinhentos anos, não passe de folclore.

Que o patriotismo da classe política portuguesa deixa muito a desejar, já o desconfiávamos…