domingo, 30 de novembro de 2008

JANELA DA VIDA


Olhando pela janela da vida
contemplo o horizonte das minhas interrogações
perguntando-te, tu, dono dos meus pensamentos,
das minhas emoções
porque razão sou quem sou
pessoa desprezada
mas também querida.
Pelo mundo caminho em forma de visão
vejo-me, sinto-me, mas não passo de uma existência fugaz
que se distribui numa vivência em turbilhão.
No teu mar, o meu horizonte, navega o bote da alma
carrega o meu bem, o meu mal,
a minha alegria, a minha tristeza
e um enorme fardo de saudade,
saudade do que nunca fui,
amor que se espera em tarde calma.
Cansado de tanta vastidão, fecho a janela.
E quando menos esperava, já sem esperança,
apareces tu, maravilha tão bela.
Sou sorrisos e realização de sonhos.
sou coração liberto emuita força no viver.
Do que lá vi fora
depressa me quero esquecer,
porque tu já fazes parte de mim.
Por aquela mesma janela entrás-te tu,
pelo lado que eu pensava estar mais fechado à esperança.
Como me encontrás-te não sei,
mas com este momento sonhava
quando por aquela janela olhava.
Finalmente me encontro, me preencho, me seduzo.
Sou feliz.
Não mais terei saudades do que nunca fui
porque vou fazer o que nunca fiz.
Só porque te conheci, musa.

Novembro/1997

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O AMIGO VENTO DAQUELES TEMPOS



Era, em 1972, Demis Roussous, o grande cantor romântico, pois os anos 70 eram uma época de contestação, mas também de romantismo. E em Coimbra proliferavam imensos gira-discos, que, aos fins-de-semana, incansavelmente, melodiavam a voz do Demis.
No meu muito particular universo dos estudantes do Liceu D. João III (liceu macuslino), as nossas baterias estavam sempre centradas no D. Maria (liceu feminino). E nós porque gostávamos delas e elas de nós, promoviamos os encontros em forma de bailes particulares. Foi uma moda graciosa, amorosa, essa. Decerto que hoje, em Coimbra, homens e mulheres, que rondem a minha idade, guardarão na sua memória momentos inolvidáveis como esses.
A Couraça dos Apóstolos, a Rua dos Esteireiros (à Igreja de S. Bartolomeu), a Rua Luís de Camões, aos Olivais (a minha casa), a Rua de Sub-Ribas (ao quebra-costas), foram alguns dos pontos eleitos pelo meu numeroso grupo, onde se passaram tardes deliciosas, que pecavam por serem demasiado curtas.
My Friend the Wind electrizava os nossos jovens corações apaixonados.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

PASSEIO PELAS MINHAS PALAVRAS (urbanidade e défice cívico)

(ESCREVO, PORQUE ESTA SEMANA FOI LANÇADO POR AÍ UM LIVRO, DA AUTORIA DE UM JORNALISTA, CUJO FUNDAMENTO SÃO RELATOS DE PROFISSIONAIS DE UMA DETERMINADA ÁREA. NÃO TINHAM ESSES PROFISSIONAIS NECESSIDADE DESSE RECURSO, POIS UM LIVRO SOBRE ESSA TEMÁTICA JÁ EXISTE, HÁ ALGUNS ANOS. E MESMO SEM LER O LIVRO QUE AGORA FOI LANÇADO, GARANTO, QUE O QUE FOI ESCRITO HÁ ALGUNS ANOS, É MUITO MAIS GENUÍNO, PORQUE TEM O QUE A ESTE FALTA: EXPERIÊNCIA E ALMA)

Homens e mulheres de azul vestidos, que centímetro a centímetro conquistais a indiferença, o desprezo e o desrespeito da maioria daqueles que convosco partilham as ruas da vossa cidade, o que vos move a serdes o bode expiatório do vosso país, onde os maus fígados da vossa sociedade despejam a imunda bílis, onde os maus carácteres, por força de uma democracia para vós sem direitos, encontram a abençoada oportunidade, para no azedo da sua vil perfídia, por momentos terem no rosto a agrura da vítima? Que vos move a terdes esse humilhante papel? A louca veleidade de tentardes ser abelhas obreiras num jardim sem néctar? O amor ao interesse público, o interesse do público que de vós desdenha? Esta sociedade é uma mãe megera, pois megeras são todas as mães que descriminam alguns dos seus filhos.
É brilhante e bela a palavra democracia.
Também por momentos, bela e brilhante pareceu ser a perspectiva de vida daquele homem necessitado, a quem foi oferecido um emprego numa determinada empresa. As instalações eram óptimas, modernas e acolhedoras. Foi-lhe dito que trabalharia num determinado escritório. O homem necessitado nele entrou. Era uma divisão excepcional: bem iluminada, maravilhosos quadros nas paredes, poltronas de cabedal, uma imensa secretária de fino metal, computador, internet, telefone particular, jornais diários pois a informação era a chave do negócio. O peito do homem necessitado era pequeno para albergar tanta alegria.
Preparava-se ele para, pela primeira vez se sentar na cadeira almofadada, quando aos seus já descontraídos ouvidos chegou um horrível grito de aviso. Que não se sentasse, pois aquele não era o seu local de trabalho!! Tinha havido um pequenino equívoco. Para aquele local viria trabalhar o filho do senhor engenheiro, do senhor doutor, do amigo de ambos. O homem necessitado iria executar as funções de técnico especializado de despoluição orgânica de sanitas, técnico especializado de manutenção específica das condições de utilização dos recipientes de escritório, técnico especializado da descontaminação de micróbios das vias internas de circulação da empresa.
O homem necessitado, de fato macaco vestido, assim passou a viver o seu dia-a-dia, desgastando-se incansavelmente, não tendo braços para tanto micróbio. Na sua humilde e triste condição, sonhando por vezes com um lugar ao sol que um dia lhe fora prometido, lá foi compartilhando o espaço daquela hipócrisia, com a opulência e riqueza dos restantes colaboradores. Afinal, para o homem necessitado, aquela empresa pareceu ser o que para a sua particular realidade nunca foi.
Sociedade de Gestão de Sentimentos e Ideias à Portuguesa Actuando S.A, era o nome da tal empresa.
Tal como o homem necessitado daquela empresa, também os homens e mulheres de azul vestidos, na nossa sociedade são aceites, disso não há dúvidas...mas, a troco de serem uns fiéis seguidores do servilismo, aos quais se tira o direito ao pensamento, ao sentimento, e à inteligência, para assim a nossa mesma sociedade poder ter sempre um escape, para onde possa depositar as frustrações do quotidiano.
Tu, azul destes homens e mulheres, de que estás à espera para reivindicares um pouco da tão falada democracia?
Sim, eu conheci um desses homens vestido de azul. Fui seu colega. Por incrível que a muitos e muitos isso possa parecer, era um homem igual a todos os homens que se vestiam de outras cores que não o azul. Esta é a sua história...

in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

QUANDO A VIDA ERA AMOR



People
take my advice
if you love someone
don´t think twice

Esta a grande mensagem dos meus queridos anos 70.
Corria o ano de 1975, tinha eu deixado recentemente a minha bela Coimbra,
encontrava-me na descoberta da abençoada Alfeizerão,
quando, no Pão de Ló de Alfeizerão, na velhinha máquina de discos,
pela primeira vez ouvi Sugar Baby Love, dos Rubbets.
Foi uma música para toda a vida, pela carga simbólica que encerra.
Este o espirito dos anos 70, make love not war.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

PASSEIO PELAS MINHAS PALAVRAS (ruralidades no final da monarquia)


...Barreto Raposo era um experimentado e astuto comerciante de gado. No Bombarral, de onde era oriundo, tinha a alcunha de «o fivelas», porque usava dois cintos- um para prender as calças e outro para trazer pendente da cintura um impressionante facalhão, envolto numa protecção de cabedal. Batendo ao de leve com os dedos da mão direita na faca atemorizadora, dizia muitas vezes- «é para o que der e vier». Homem de constituição física a levar em conta, o «fivelas» não era pessoa que se desse a escrúpulos. O oportunismo era o seu grande trunfo. Aproveitando-se muitas vezes da má sorte alheia ou da falta de argúcia do seu oponente no negócio, o Barreto Raposo foi elaborando a sua fortuna. Era agora um homem mais temido do que respeitado. O seu poder económico, aliado à sua reputação, tornaram-no um homem influente na região do Bombarral. Mas a sua avidez por mais riqueza e poder, foi-se tornando numa obsessão. E nessa perspectiva, começou a pensar em alargar o seu raio de acção.
Por duas ou três vezes que se cruzara com um tal Chambão em feiras de gado. Nessas alturas, tivera a oportunidade de verificar que o tal capataz de Alfeizerão apresentava reses de excepcional qualidade. Por isso tivera curiosidade em conhecer melhor o capataz e a herdade de que era responsável. Começou a fazer perguntas aqui e ali, e obteve respostas que o satisfizeram. O tal Chambão, embora fosse «um osso duro de roer», pelo menos assim o haviam caracterizado, já era homem avançadote na idade. Mas o facto de estar à frente de uma herdade, como aquela que lhe descreveram, era deveras promissor, mais a mais tendo por proprietário um fidalgote que mal barba tinha na cara. Por isso Barreto raposo resolveu-se a empreender a cavalo a viagem de cerca de doze léguas, entre o Bombarral e Alfeizerão...

in Quando Um Anjo Peca
Março/1998

sábado, 8 de novembro de 2008

NOS ACORDES DO MEU PRANTO

Nos acordes do meu pranto
sentida emoção transmito
aos que no mundo me superam
vendo em mim, o que neles
eu não vejo.
Ás ruas da minha vida
onde me sento e me exponho
empresto um pouco de cor.
Não é branca, nem vermelha
amarela, ou outra qualquer.
É apenas a cor de mim
a vida que ninguém quer.
Nos acordes do meu pranto
neste viver solitário,
na escuridão do meu canto
estendo-te a mão, sê solidário.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

YES, WE CAN!

Emocionei-me com o discurso de aclamação de vitória de Barak Obama, novo presidente dos Estados Unidos. Ainda sou dos que acreditam nas pessoas, apenas escutando-lhes as palavras emocionadas, descobrindo-lhes a verdade que encerram, que eu suponho encerrarem verdade.

É que nos tempos que correm, por vezes sinto-me um pacóvio, ultrapassado pela desonestidade, quantas vezes camuflada de genuína honestidade. Acho que nunca existiram tantos lobos vestidos de cordeiros, como actualmente.

E depois de ter visto um documentário que por aí corre, sobre esquemas demoníacos, sobre o 11 de Setembro, nascidos no seio dos americanos, feito por americanos...fico com muitas reservas.

Mas, a serem sinceras as palavras de Barak Obama,tal será um forte indicador de quão histórica virá a ser a sua administração, tanto quanto foi a sua eleição. Esta é a leitura de um simples zé do povo, português, que muito longe está de entender os meandros complicados da política, e mais complicados o são, quando à política se colam vínculos da mentira e do engodo.
Mas, quando Obama pega numa mulher, muito provavelmente negra, de 106 anos de idade, eleitora numa assembleia de voto, bem longe da Casa Branca, a coloca como trave mestra do seu discurso, e faz uma pequena resenha da história norte-americana, desde os tempos da escravatura até aos nossos dias, para demonstrar o quanto é grande a sua nação, é, no mínimo, um sinal positivo do carisma da sua futura política.
Independentemente de muitos interesses económicos em jogo, continuo convicto de que a Europa muito deve aos americanos, pois foi graças a eles que Hitler foi derrotado. Independentemente de muitos interesses económicos em jogo, que os há, o mundo ocidental muito deve aos filhos dos Estados Unidos, que deram a sua vida em prol dos interesses de outros países, independentemente dos interesses que o seu governo defendia com as actuações em vários palcos de guerra (Coreia, Vietname, Sumália, Iraque, Afeganistão).
Na minha opinião, muita da má vontade que a Europa demonstra pelos Estados Unidos, reside no facto de o velho continente, que durante séculos dominou o mundo, ter perdido essa controle para os Estados Unidos, antiga colónia britânica, que apenas precisou de duzentos anos de independência para se tornar a maior potência do mundo.
Talvez na força das palavras de Barac Obama resida parte da resposta a essa questão. «Yes, we can», afirmou ele inúmeras vezes, fazendo com que as suas palavras transbordassem de confiança, contagiassem os milhares que o ouviam. Talvez nessa confiança colectiva resida o segredo do progresso.
E ao passo que uns, ao chegarem, afirmam- sim, nós podemos,
outros há, que quando chegam dizem que o país está de tanga, e que o que de mais certo temos é a miséria e a pequenez.
Maus governantes são os que se afirmam como arautos da desgraça.