quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

AMON-RÁ E SETH, UM DIÁLOGO IMPENSÁVEL

...Ao serem ouvidas as palavras da deusa Ísis, gerou-se uma certa confusão em MassiftonRá, pois os deuses olhavam confusos para Ísis e para o sifto, enquanto este ficava tenso, olhando intensamente para a deusa.
-         Este sifto não é um sifto?- perguntava Amon-Rá com espanto- então o que é, ou quem é?
-         Seth, o deus que expulsaste de MassiftonRá- respondeu a deusa Ísis.
Seth fora desmascarado; não percebia como tivera a sua irmã Ísis capacidade para descobrir a sua verdadeira identidade. Mas não valia a pena continuar com o embuste! Por isso, Seth tomou a sua verdadeira forma, dando uma hedionda gargalhada.
-         A minha irmã Ísis continua esperta!!- disse Seth com ironia- mas aqui me tens, Amon-Rá. Soube dos problemas que estás a ter com o actual faraó, pelo que resolvi fazer-te uma visita e colocar os meus serviços à tua disposição, de forma a pôr esse faraó no seu devido lugar.
Amon-Rá estava atónito. Como era possível que Seth tivesse tido a ousadia de violar tão descaradamente a sua ordem?!
-         Como te atreves a entrar em MassiftonRá?- perguntou o deus supremo, com imensa ira.
-         Como me atrevo? Não estou a fazer grande coisa. Se até o faraó brinca contigo, porque não o posso eu fazer, que muito mais me equiparo a ti em poder e divindade?!
-         O faraó não brinca comigo...
-         Não, que ideia!!- dizia Seth com extrema ironia- rouba-te uma sacerdotisa, faz dela rainha do Egipto e permanece incólume, sem que da tua parte tenha havido qualquer tipo de reacção. Se isto não é brincar contigo?! Estás mole Amon-Rá, frouxo. O faraó está a precisar de uma grande lição. E tu, ou não lha queres dar, ou não sabes!
-         Seth, tu és um imbecil. A maet não pode ser posta em causa. O faraó é um inconsciente, mas eu não o posso ser. Tenho que saber agir com diplomacia, pois se eu actuar levianamente, posso pôr em causa o equilíbrio do reino do Egipto.
-         O Egipto é suficientemente forte. Com facilidade subsistiria a um breve desequilíbrio no trono. Tu e os restantes deuses temem pela maet do Egipto, porque estão demasiado amolecidos pelo conforto de MassiftonRá. A ti, Amon-Rá, aconselho-te a ires conhecer a dureza da vida… no deserto. Compreenderás então até que ponto é que o Egipto pode ser forte.

-         O sangue do Egipto está no Nilo, não no deserto- disse Amon-Rá- as areias estão destinadas aos dementes, aos que, se pudessem, guiariam os destinos do Egipto apenas pela força dos músculos, pois secos de intelecto, nada percebem de atitudes subtis, que embora pareçam ser fracas, conseguem atingir profundamente os objectivos pretendidos. Claro está que nos habitantes do deserto alguns existem que eu não incluo neste grupo... e tu sabes bem de quem eu falo...(em continuação, ex. XXX)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

DUAS PALAVRAS POR MADALENA IGLÉSIAS

Faleceu Madalena Iglésias, aos 78 anos de idade. Senti um pequeno vazio quando soube a notícia. A princípio não percebi porquê. A música que ela cantou não me era particularmente grata. Aliás, no seu tempo áureo nenhuma música me era interessante, pois que eu era um miúdo. Mas reparei então que é aí mesmo que reside o facto de a sua morte me ter tocado: ela é um símbolo da minha infância. E agora que tenho esta boa idade, cada vez mais sinto como pode ser importante a infância para toda a vida adulta do ser humano. É que, naqueles dias felizes, até aos meus dez anos, lembro-me de ouvir as rivalidades (hoje reconheço quase pueris) entre a  Madalena Iglésias e a Simone de Oliveira, as tricas da rádio, as rainhas da rádio ou o rei da rádio (o António Calvário), lembro-me das opiniões dos meus pais sobre a Madalena Iglésias, recordo muito bem o festival de 1966, em que eu tinha dez anos, e a sua vitória nesse festival com a canção «sei quem ele é, pois é um bom rapaz, um pouco tímido até…».
         Recordo um pequeno mundo bonito que, dia-a-dia se desenrolava perto de mim, em que estava presente a Madalena Iglésias, e que então me fazia muito feliz.
Claro que eu não tinha consciência ainda do mundo feio que, um pouco mais distante, para lá da porta da minha casa, existia, e fazia com que, na maioria dos lares portugueses, se estivesse permanentemente com os olhos postos em África.
É verdade que hoje em dia uma grande fatia da nossa sociedade não sabe quem foi a Madalena Iglésias;
claro que nada fez para ser recordada na Assembléia da República. Mas inscreveu o seu nome na minha infância, tornando-a um pouco mais…musical.

Obrigado Madalena Iglésias!

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

TITANIC: O OLHAR DOS NÁUFRAGOS A 3800 METROS DE PROFUNDIDADE

Teria eu os meus doze anos de idade quando, numa velha revista das Selecções do Reader’s Digest, tomei conhecimento do enorme drama que foi o naufrágio do transatlântico Titanic, na sua viagem inaugural, no Atlântico Norte, na madrugada de 15 de Abril de 1912. Nessa noite, de águas geladas e calmas como um lago, morreram 1497 pessoas, de entre os 2200 passageiros e tripulantes. Foi um artigo que me impressionou de tal forma, que se tornou num fascínio.
Foi com imenso entusiasmo que segui as notícias, em 1985, que davam conta de que o navio tinha sido encontrado a 3800 metros de profundidade. Vi tudo o que, naquela época, foi possível ver.
Depois, em 1997, foi com grande emoção que vi o filme Titanic, do realizador James Cameron, realizado no ano anterior, com interpretações excepcionais de, entre outros, Kate Winslate e Leonardo Di Caprio. Imagens de momentos da tragédia que sempre supus terem, por trás, um tremendo trabalho de pesquisa. Um filme que, na minha opinião, se deve ter aproximado muito da realidade. Quase 4 horas de imagens de romance, suspense e horror.
Pelo centenário do naufrágio, em 2012, fui surpreendido pelo aparecimento de um livro sobre o tema, que logo adquiri: «E A BANDA CONTINUOU A TOCAR», da autoria de Christopher Ward, neto de Jock Hume, um dos violinistas da banda do Titanic, composta por oito elementos. Os oito sucumbiram. E através deste livro fiquei a saber muitos pormenores que até ali me eram completamente desconhecidos. Além de ser descrita um pouco da vida do avô do autor, fiquei a saber que das vítimas mortais apenas 306 corpos foram recuperados pelo navio lança cabos submarinos Mackay-Bennett, sendo o corpo do violinista Jock Hume um desses corpos, que foi sepultado no cemitério de Fairview Lawn, em Halifax, na Nova Escócia, no Canadá. Foi o redescobrir a história do Titanic.
E tive o impulso para toda esta descrição porque hoje, à tarde, tropecei num documentário em que o realizador do filme Titanic, James Cameron, fez uma descrição exaustiva das pesquisas e experiências de física que executou, para que as suas imagens tivessem um máximo possível de credibilidade. No documentário ainda entrevistou alguns familiares das vítimas mortais do naufrágio, que felicitaram o realizador pelo seu extraordinário trabalho.
Para enriquecer todo o seu imaginário de realizador, que dessa forma pudesse transmitir maior veracidade a muitas das imagens do filme, James Cameron desceu às profundezas do Atlântico Norte 33 vezes, para no silêncio da tragédia, junto ao Titanic, se impregnar do sentimento que os olhos dos 1100 náufragos, ali depositados, lhe transmitiram.

Parece-me que vou rever o filme…mais uma vez!

sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

CONFLITO DE GERAÇÕES E MENTALIDADES

...Naquele seu primeiro monótono giro em Aveiro, e enquanto ia fazendo uma retrospectiva do seu ainda pequeno percurso policial, Serôdio recordou-se de mim, que o havia conhecido naquele mesmo Domingo outonal, havia cerca de uma hora. Eu, colega dois anos mais velho do que ele no serviço, debatia-me com os mesmos problemas que o afligiam, ou seja, inadaptação ao ambiente interno da PSP. Foi no início da década de oitenta que surgiram os primeiros conflitos de mentalidades, com a inserção no seio da policia de elementos cujos horizontes eram um pouco mais abrangentes. De um lado a velha guarda, formada por quase todos aqueles que haviam sido alistados nos anos sessenta e setenta, velha guarda essa formada pelos três patamares da hierarquia: guardas, subchefes e oficiais. Do outro lado estavam os elementos (naquela época ainda poucos), que durante os sete anos liceais haviam sustentado a ilusória esperança de um dia virem a ser doutores, onde eu e o Serôdio nos enquadrávamos. No meio ficavam os que compunham uma já considerável multidão, que tal como nós, havia pouco tempo tinham ingressado na PSP, e cujo nível cultural os empurrava para o primeiro grupo, mas dada a sua juventude e uma visão diferente, consentânea com o seu tempo, de alguma forma sentiam necessidade em se juntarem ao segundo grupo...(em continuação, ex. XXXVII)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003