sábado, 7 de maio de 2016

UMA REACÇÃO INESPERADA E DESAGRADÁVEL

...- Meu pai, é verdade que a Maria Adélia e o noivo apareceram mortos?
- Sim, é verdade. Quem lhe contou?
- A… a Maria do Carmo.
- Melhor fora que estivesse calada. A senhora não tem que se preocupar com questões populares.
- Mas… meu pai… a Maria Adélia… eu poderia dar algum conforto àquele desgraçado pai.
- A senhora preocupe-se com os seus afazeres, que muitos cuidados lhe dão por certo. Faça-me o favor de se retirar, e fique descansada que essa palavra de conforto ao Francisco Carvalho lha darei eu.
         E Maria Clara retirou-se, sem antes me ter olhado. Os seus olhos suplicavam algo. Eu estava atónito perante esta reacção do Conde de Cértima, ao pedido da sua filha de ir prestar um acto de caridade. Eu tinha de dizer alguma coisa… e disse.
- Excelência, achei a senhora sua filha muito pálida. É possível que a senhora D. Maria Clara seja muito impressionável a estes assuntos de morte. Talvez uma beberagem que a acalmasse fosse conveniente.
- Doutor, conheço bem a minha filha. Deixe. Se sinais de doença lhe surgirem, eu saberei conhecê-los e então o chamarei. Agora vou-me retirar que tenho assuntos para resolver. Havendo um matador à solta, há que lhe dar caça.

         E eu fui-me embora. Desta vez não tive direito a escolta, pois o ambiente em casa do Conde de Cértima fervilhava de actividade, com todos os homens ocupados em tarefas: uns de levar os corpos à igreja do Luso, outros de limparem o local do crime de qualquer vestígio de sangue, e outros ainda de irem avisar o regedor...(em continuação, pág. 45, ex. XXII)

in Alma de Liberal
Junho/2009

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