quinta-feira, 22 de maio de 2014

PRAXE

Já não é novidade nenhuma de que sou de Coimbra. Orgulhosamente o digo, muito embora tenha deixado de lá viver desde o dia 14 de Agosto de 1974, pelos meus 18 anos. O que quer dizer que a minha infância e a minha adolescência ficaram para todo o sempre impregnadas da essência coimbrã. E é para toda a vida! Por essa razão o espirito conimbricense mantém-se vivo e de muito boa saúde em mim. E um dos aspectos de todo essa preciosidade é, inevitavelmente, as praxes académicas.
Nunca li nada que me dê a definição de praxe. Por isso, vou tentar dar a minha. Praxe será todo o conjunto de acções, levadas a cabo por estudantes universitários, pelas quais recriam todo o espirito académico, em que se inclui darem as boas vindas aos recém chegados- caloiros, inserindo-os assim nesse mesmo espirito.
Em Coimbra, a praxe, não é exclusiva da universidade. Faz parte da vida da cidade. Não esqueçamos de que a Queima das Fitas é o expoente máximo da praxe da Universidade de Coimbra, logo seguida pela serenata monumental, e, obviamente, o fado de Coimbra. A capa e batina foi idealizada em função da praxe.
Antigamente, as trupes eram uma espécie de «órgão fiscalizador», que vigiava a forma como os caloiros faziam a gestão do seu tempo fora das aulas, no sentido de os lembrar de que estavam em Coimbra, fundamentalmente, para tirarem um curso superior. Por essa razão todos os estudantes que fossem encontrados na rua, depois das seis da tarde, sofriam uma enorme rapadela. Tempos em que, na nossa sociedade, existia uma muita maior responsabilização.
Hoje tudo é diferente!
No nosso país, no espaço de quatro meses, morreram nove estudantes universitários, alegadamente quando se encontravam em actividades de praxe. Seis foram levados por uma onda, em Dezembro, na Praia do Meco, em Setúbal, quando se encontravam na praia, de madrugada, pelo que transpareceu que ali se encontravam reunidos numa qualquer acção de praxe; outros três, em Abril último, faleceram, em Braga, quando uma parede ruiu, abatendo-se sobre os três, sendo que em cima dessa parede, que supostamente já se encontrava com indícios de abater, outros estudantes se encontravam empoleirados aos pulos.
É muito grave, e logo múltiplas vozes sonantes se fizeram ouvir, no sentido de a praxe ser eliminada.
A praxe deixar de existir em Coimbra é algo impensável, porque ela é sangue da cidade. Logo a seguir ao 25 de Abril a praxe foi extinta na minha cidade, e Coimbra emudeceu. Inevitavelmente poucos anos depois a praxe foi recuperada, porque não podia ser de outra forma. Coimbra não seria bem a nossa querida Aeminium, sem a queima e a serenata.
Se no país querem fazer imitações, pelo menos que o façam com responsabilidade. O conceito da praxe é uma coisa bonita. Ela não tem culpa que a adulterem.
Como se diz na Alta:
A Queima é em Coimbra o resto são fitas!
Lamento profundamente a morte destes nove jovens estudantes. Respeito pelas suas memórias há pouco, já que a organização de um festival rock não se coibiu de fazer, este verão, mais uma edição na praia do Meco, depois da tragédia que ali aconteceu.
Tenho imenso respeito pela terrível dor que, decerto, os pais destes jovens sentirão.


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