sábado, 23 de janeiro de 2016

EFG, A CASA ONDE OS ESPELHOS MENTEM

...Com o passar dos dias, Serôdio foi conhecendo melhor o ambiente que o rodeava. Se fizesse um paralelismo com a E.P.I. de Mafra, poderia dizer que na E.F.G. de Torres Novas tinha melhores instalações, a alimentação era de melhor qualidade, servida num único e enorme refeitório. Mas continuava a existir o espírito militarista, com a agravante de que os oficiais de Torres Novas, muito distantes da formação técnica e cultural dos oficiais de Mafra, a Serôdio não conseguiam transmitir fosse que mensagem fosse. Nele apenas residia a vazia convicção de que os oficiais de Torres Novas (chefes de esquadra, segundos comissários e comissários) eram uns analfabetos e pobres de espírito, que tendo atrás de si um passado com uma existência amorfa e intelectualmente atrofiada, não tinham a mente suficientemente desenvolvida para carregarem aos ombros o peso de galões. Quando fardados se olhavam ao espelho e viam o reluzir dos galões nos ombros, deveriam ficar deslumbrados com a sorte que a policia lhes proporcionara. Mas o seu vínculo com a classe de oficiais ficava-se por aí, porque de oficiais apenas tinham os galões, a cor ligeiramente diferente do blusão e o ordenado. Interiormente continuavam a ser os brutos de espírito e intelecto que toda a vida haviam sido...(em continuação, pág. 84, ex. XXXI)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

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