domingo, 14 de fevereiro de 2016

EM MASSIFTONRÁ, ENTRE OS DEUSES

...- O faraó tomou o nome de Akhenaton?- perguntava o deus ancião Aton.
- É verdade- respondeu Amon-Rá.
- Mas esse nome quer dizer: aquele que serve Aton.
- Exactamente- volveu o deus supremo.
- Mas isso é um disparate. Para que quero eu um faraó a servir-me? Já fui servido por muitos. Serviram-me e ajudei-os. Bem difíceis foram os tempos da construção das pirâmides. Mas valeu a pena- dizia Aton orgulhoso- estão ali umas construções que hão-de deliciar os olhos de muitos homens, pelos tempos fora.
-         Tens toda a razão, Aton- dizia Amon-Rá- tens o pleno direito de te sentires orgulhoso. O mesmo já não posso dizer eu. Os faraós actuais deram em esconder a morte em subterrâneos. Criaram o Vale dos Reis, aqui em Tebas, onde as suas múmias são depositadas. Mas isso não tem a sumptuosidade das tuas pirâmides.
-         Os tempos também são outros- dizia o deus ancião- naqueles tempos os faraós não se debatiam com o flagelo dos salteadores de túmulos.
-         Bem que Osiris e Anúbis podiam fazer mais qualquer coisa em defesa dos túmulos e das múmias- disse Amon-Rá.
-         Com todo o respeito que me mereces, divino mestre, sou forçado a discordar de ti- disse o deus Osiris, defendendo-se- criámos algumas maldições para dissuadir os criminosos de violarem os sarcófagos.. Mas a sua ambição é tremenda.
-         Existe aí influência de Seth, não duvido nada- retorquiu o deus ancião- pois um homem no seu estado normal não teria coragem de correr o risco de ter de enfrentar as maldições criadas por Osiris e Anúbis. Só mentes e corações possuídos pela malignidade de Seth se sentiriam com forças para subestimarem essas vossas criações.
-         Estará o faraó a ser manipulado por Seth?- perguntou Amon-Rá.
-         É muito pouco provável- retorquiu Aton- o faraó tem um espirito suficientemente forte para não se deixar influenciar por uma entidade desestabilizadora; a não ser que algo de muito errado tenha ocorrido no momento da sua escolha para faraó.
-         Ele proibiu o meu culto. Achas isso normal? E venera-te, obrigando o povo a fazê-lo também.
-         Bem, esse homem está doente e tem de ser deposto quanto antes. O deus supremo és tu e não eu- disse Aton- Mênfis foi o meu momento, a minha glória. Tebas tem de ser, obrigatoriamente, a cidade e o tempo de Amon-Rá. A maet pode ficar irremediavelmente desequilibrada. Eu não vou aceitar qualquer tipo de prece.
-         Que farão então os siftos?- perguntou Amon-Rá.
-         Não as recolhem- disse peremptoriamente Aton- esperemos que hajam homens e mulheres, que na calada da noite, orem a ti. Tu é que precisas de alimento. Eu já comi o que devia. Se me dão licença, retiro-me. Estou demasiado cansado para imaginar um tolo de um faraó a erigir templos em minha honra. Há-de morrer seco de tanta heresia. Reúnam forças, deuses de MassiftonRá, e expulsem esse lunático do trono, para o bem do Egipto.
E Aton retirou-se enquanto os restantes deuses o observavam, inquietos, confusos. Se o próprio Aton recusava que se lhe fizesse culto, isso significava que a decisão do faraó era mais grave para o Egipto do que o que se poderia pensar...(em continuação, pág. 62, ex. XXIV)
in A Causa de MassiftonRá
Novembro/2005


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