sábado, 11 de setembro de 2010

O DESAFIO DE UM MORTAL A AMON-RÁ



...Mais uma vez a horda de siftos acabara de chegar do mundo dos homens, depositando em MassiftonRá a sua preciosa carga; mas fluídos negativos impregnavam o mundo dos deuses. À mente de Amon-Rá chegara uma mensagem, enviada telepaticamente pelo seu Sumo-Sacerdote Masahemba, em que o deus dos deuses era informado de que a sua sacerdotisa de cabelos de fogo, Nefertiti, havia sido levada do templo, pelo faraó, e que este se preparava para fazer de Nefertiti a sua rainha. Perante tal mensagem, Amon-Rá cerrou os olhos. Não era possível! Um faraó não teria a ousadia de mexer com o equilíbrio existente entre os deuses e os homens. Um faraó não podia ser capaz de se apoderar de uma sacerdotisa escolhida pelo deus supremo. Isso, a ser verdade, desafiava a própria lógica, que fundamentava o estatuto de um deus perante os homens. Tal aberração, nunca ocorrera em toda a história do Egipto. Mas, e se fosse verdade, se se viesse a concretizar a mensagem telepática, qual deveria ser a atitude que ele, Amon-Rá, deveria tomar em relação ao faraó?
Os siftos chegavam da sua incursão ao mundo dos homens. Imediatamente Amon-Rá ordenou que o sifto encarregado de ir ao seu templo, em Tebas, se apresentasse a si.
O sifto em questão, no mesmo momento captou a ordem de Amon-Rá, pelo que se dirigiu à sua presença.
- Qual foi a tua recolha?- perguntou Amon-Rá ao sifto.
- Nenhuma, divino Amon. O templo estava intoxicado com fluídos perversos. Tive de o abandonar rapidamente.
O deus dos deuses fez sinal ao sifto de que se podia retirar. A informação recebida apontava para que a mensagem de Masahemba, correspondia a uma verdade amarga; mas tinha de se certificar de que Nefertiti não era mais sua sacerdotisa.
Durante algum tempo Amon-Rá manteve-se imóvel. O seu olhar vagueava pela imensidão das águas profundas do Nilo, que rodeavam MassiftonRá, enquanto a sua mente estava em turbilhão. Perante a ousadia do faraó, Amon-Rá tinha a sensação de ser impotente para conseguir resolver tal questão, ou seja, reaver a sacerdotisa sem que o fizesse de forma a não prejudicar a maet. Sim, tinha de ser cuidadoso, já que o faraó demonstrara uma irresponsabilidade gritante. É que não havia dúvida nenhuma de que poderiam entrar em confronto as duas mais fortes fontes de poder egípcio: de um lado o faraó, do outro lado o deus dos deuses. Uma coisa era certa: o reino do Egipto não poderia sair fragilizado desta contenda. Também era certo que uma sacerdotisa não seria um valor assim tão importante, pela qual se pusesse em risco a integridade da terra egípcia. Mas não era bem a sacerdotisa que estava em questão, embora lhe fosse extremamente grata, pois uma sacerdotisa com cabelos cor do fogo era raríssima, o que determinava o seu valor, bem digna de estar ao seu serviço, ele, que era o deus supremo; mas a verdadeira questão residia na ousadia que o faraó tivera, na coragem de que estava possuído para conseguir subtraí-la ao templo e levá-la para o seu palácio. Era com essa ousadia que Amon-Rá estava preocupado. De onde viera a força ao faraó, para conseguir cometer tal acto? No fundo, o faraó era um mortal, um mortal que tão frontalmente desafiava a vontade de um deus, ainda por cima o deus supremo. A solução para o problema tinha de ser muito bem ponderada...(em continuação, pág. 30- ex. X)

in A CAUSA DE MASSIFTONRÁ

Novembro/2005

2 comentários:

Mari Amorim disse...

«...Se todas as pedras tivessem memória e pudessem comunicar as suas recordações, cada templo, cada momumento, transformar-se-ia num relato vivo das vidas humanas e dos acontecimentos importantes ou não, que se escondem na mudez das pedras de que são feitos os templos e os monumentos...»
Obrigada,poeta,saio feliz com mais uma belíssima leitura
Tenha dias iluminados!
Bjs no coração
Mari

Poeta do Penedo disse...

Cara Mari
concordo em absoluto com as primeiras palavras do narrador de A Causa de MassiftonRá. Na verdade, as pedras do monumentos que observamos, já foram observadas por muitos olhos antes dos nossos, e essas mesmas pedras que ao serem observadas nos observam, também já observaram muitas outras existências, que , na realidade, se encontram encerradas na sua mudez. Cabe aos arqueólogos terem esse diálogo.
É sempre um enorme prazer recebê-la.
Muita luz.