sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

OLHOS DO ESPIRITO


...Serôdio voltou a ficar só. A conversa que tivera com a mãe revelara-lhe que deveria ter muita precaução. Não podia falar da sua experiência a ninguém. Se a sua mãe reagira assim, o que não poderia acontecer com as outras pessoas!! Corria o risco de cair no ridículo. Se ele apregoasse aos quatro ventos que visitara o mundo dos mortos, ninguém lhe daria crédito. Talvez pensassem que o estado de coma de que fora vítima, lhe tinha transtornado o cérebro. A experiência porque passara era só sua, não havia razão para ter vontade de a dar a conhecer às outras pessoas. Pensando bem, deveria ser difícil aceitar uma outra existência que não a terrena. Afinal, ele próprio nunca perdera tempo a pensar no seu próprio eu. Era o Serôdio e isso tinha-lhe bastado até lhe surgir a senhora de branco. Ele sabia da existência do mundo espiritual, porque no fundo era um privilegiado. Muitos homens e mulheres, por muitos anos que tenham vivido, nunca tiveram a felicidade de passar pelas sensações que ele havia passado. Como podiam então eles saber que a vida não se resume à acumulação de bens materiais? Como podiam eles saber que a vida è essencialmente sabermos dar e receber, entender verdadeiramente a palavra amor, saber olhar o nosso semelhante com os olhos do espirito? Ele próprio percebera-o através de uma dádiva. Haveria nisso grande mérito? Quantas pessoas não existiriam no mundo, que de uma forma empírica praticavam o bem, pessoas que com certeza teriam um olhar meigo, transmitiam paz e bondade. E ele lembrava-se de que já estivera na presença de algumas pessoas assim.
Acima de tudo, ele necessitava de ser uma boa pessoa. Esse era o caminho do Criador, essa era uma das partes que compunha a valorosa mensagem que lhe haviam transmitido. Ele era muito mais complexo do que alguma vez havia imaginado.
E toda aquela reflexão sobre si próprio servira como uma espécie de bálsamo para atenuar as preocupações que o atormentavam.
Abriu a janela e apreciou a ambiência. Agora a Viela da Fonte dos Amores não lhe parecia tão lúgubre e enfadonha...(em continuação, pág. 63- ex. XX)

in FILHOS POBRES DA REVOLTA

Março/2003


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