sexta-feira, 14 de agosto de 2015

AS MÁS NOVAS QUE OS FRANCESES TROUXERAM

...- Diz-se que na universidade essas coisas do liberalismo se assanham nos homens, como cães raivosos.
- Como decerto é do entendimento de vossa excelência, na universidade as mentes são abertas. Treinam-se para o conhecimento e como tal recebem tudo quanto é novo.
- Sabe doutor, não me agradaria muito receber em minha casa alguém que tivesse aderido à ideologia da distribuição do poder pelo povo.
         Eu parei o que estava a fazer e fixei intensamente o Conde de Cértima. Depois disse:
- Os tempos que correm pelo reino não são bons para ninguém. Vossa Excelência tem um título nobre a defender. Eu, para defender, tenho apenas esta profissão que meus pais me deram. Se vossa excelência tem pretensões politicas, eu não. Apenas peço que me deixem trabalhar. Apenas peço a vossa excelência que me deixe trabalhar… em paz. A minha função na vida é a de colocar ao serviço, de todos, os conhecimentos que me foram ensinados, para a todos aliviar das horas más da doença. Saiba vossa excelência que estou perfeitamente a par das convicções tanto absolutistas como liberais, que conheço bem onde divergem. No entanto, sou leal ao meu rei… e à profissão que Deus permitiu que eu tivesse alcançado.
- Muito bem, doutor Joaquim Lopes. Estou então em presença de um homem que nada quer com a politica!
- Nada!
- Depois de tudo o que me disse, considero-o politicamente esclarecido. Eu não sou falto de tino, doutor. E por isso mesmo reconheço que, dadas as suas origens, possa bem pender para as novidades que em má hora a França nos trouxe. Mas como também o acho boa pessoa, desde que me demonstre ser bom médico, terá em mim um seu doente. Espero não o ver muitas vezes, porque isso seria mau sinal – disse o Conde de Cértima, com um meio sorriso.
- De facto – respondi eu.
         A minha posição naquela casa ficara bem definida. Eu não tinha conseguido esconder a minha costela liberal. A minha presença ali iria ser tolerada em função de uma doença, mas nunca desejada. Maria Clara tornava-se cada vez mais distante.
         Ia eu pronunciar o nome dela quando o destino interveio, evitando que eu o tivesse feito. Decerto teria praticado grossa asneira! É que no momento em que eu ia perguntar ao conde pela sua filha, foi audível no exterior da casa uma agitação, que por certo não era habitual...(em continuação, pág. 41, ex. XIX)

in Alma de Liberal

Junho/2009

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