domingo, 17 de julho de 2016

FORD T, VIDA COM ASAS

...O automóvel era deslumbrante. De manhã, ao sair do Bombarral, resplandecia aos primeiros raios do sol. Agora, que estava prestes a chegar a Alfeizerão, doze léguas transpostas, o automóvel evidenciava as manchas da lama dos caminhos. Mas mesmo assim, o preto da pintura mantinha-se magnífico. O automóvel fazia lembrar os solenes coches de outrora. A área reservada aos passageiros tinha forma rectangular, munida com quatro portas e compridas janelas. De ambos os lados possuía longos estribos a todo o comprimento, que serviam para as pessoas descerem ou subirem. Os mesmos estribos iam acabar por cima das rodas, para guardarem as lamas que se desprendiam das rodas em movimento. Estas eram magníficas. Eram constituídas por pneus pretos com orlas interiores pintadas de branco e doze fortes raios. O vidro da frente era móvel, podendo-se levantar ou baixar consoante a vontade do condutor. Por cima do vidro, agarrado a frisos laterais, possuía uma pala exterior, a toda a largura do automóvel, para proporcionar uma visão melhor ao seu condutor. O longo motor, com a cilindrada de dois mil oitocentos e sessenta e três centímetros cúbicos e de duas velocidades, estava tapado com duas abas de ferro. O bonito e fino aspecto do automóvel era concluído com dois grandes faróis, suspensos por aros de ferro, ligados a um excelente radiador que servia como uma bela tampa à estrutura composta por motor e respectivas abas. O automóvel era de facto uma preciosa e bonita invenção... (em continuação, pág. 122, ex. XLVIII)
in Quando Um Anjo Peca
Março/1998

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