sábado, 13 de agosto de 2016

O LADO NEGRO DE UMA MENSAGEM DA METRÓPOLE

...-         Estou um pouco apreensivo- disse Álvaro com um sorriso forçado- o meu capitão, para querer falar comigo... não sei se será bom ou mau. E pela cara do cabo Guedes...
-         Lamento muito o que lhe tenho para dizer- disse o capitão Rebelo, abrindo a porta e entrando.
-         Lamenta... meu capitão, não me assuste- dizia Álvaro que entrando, fechara a porta atrás de si.
         O gabinete era efectivamente rudimentar. Tal como todas as habitações do aquartelamento, era feito de madeira. Umas quantas tábuas levantadas ao ar, um tecto de chapas de zinco que aumentavam o calor no interior, uma abertura serrada na madeira, que servia de janela, e eis que surgia o local onde se definiam os destinos da companhia. Como recheio possuía um armário de madeira, que guardava as fichas dos duzentos homens que ali estavam aquartelados, uma mesa simples que balançava devido às irregularidades do chão térreo, e duas cadeiras de madeira, gastas pelo tempo.
-         Sente-se alferes Santa Cruz- dizia o comandante da companhia, que também se sentava atrás da mesa que lhe servia de secretária.
-         O meu capitão quer-me falar sobre o que aconteceu na mata?
-         Não alferes Santa Cruz, embora isso seja assunto que requer uma boa conversa. O que lhe quero dizer, ou antes comunicar, está nesta mensagem e veio da Metrópole.
-         Da Metrópole? Para mim?- perguntava Álvaro, enquanto a sua pulsação aumentava, fazendo-o suar ainda mais.
-         Sim, è relativa a si. E... Deus me dê forças para lhe dar esta notícia.
-         Meu capitão, por amor de Deus, diga-me o que se passa- disse Álvaro, levantando-se da cadeira onde estivera sentado.
-         Diga-me Santa Cruz, quem são as pessoas que mais ama?
-         Que eu amo...- perguntava-se Álvaro fixando o capitão Rebelo, olhando depois para as paredes empoeiradas- são os meus pais e a minha namorada.
-         Vai ter de ser forte meu bom amigo- dizia o comandante da companhia, olhando Álvaro com compaixão.
-         O meu capitão... o meu capitão está a falar-me da morte de alguém! Morreu o meu pai?
-         Não, não foi o seu pai.
-         A minha mãe? A minha mãe morreu...
-         Não, também não foi a sua mãe.
-         Então, se não foi o meu pai nem a minha mãe, quem pode ter sido?- perguntava Álvaro, adivinhando a resposta, que do fundo do seu ser irrompia intempestivamente, queimando-lhe as entranhas, qual magma enfurecido que explode na cratera do vulcão.
-         Lamento muito meu amigo- dizia o capitão Rebelo, que rodeando a mesa se acercava de Álvaro.
-         Catarina, a minha loirinha morreu?- perguntava Álvaro, olhando intensamente nos olhos do comandante da companhia.

-         Se essa moça è a sua namorada... como me custa dizer isto, mas apareceu morta na cama, com a almofada em cima do rosto. A autópsia aponta para morte por asfixia. Provavelmente terá sido assassinada. Não existem sinais de ter havido violação...(em continuação, pág. 95, ex. XXXII)
in Visitados
Novembro/1999

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