segunda-feira, 20 de novembro de 2017

ADEUS AO NINDA

-         Meu capitão, não consigo conceber o alferes Santa Cruz transformado num homem sedento de sangue. Ele é um oficial responsável, um homem dono de um espírito sensível...
-         Ouça alferes Mendes, ele agora é apenas um homem a quem mataram a namorada, que segundo parece, adorava. Tudo isto que eu disse pode não acontecer, mas há a possibilidade de no seu íntimo, a grande dor que sente, degenerar em algo nefasto. E que melhor meio para isso acontecer do que este ambiente? A personalidade humana é muito complexa. Há muito para descobrir sobre nós próprios, estou convencido disso. Não vamos mais longe, olhe o exemplo do inexplicável acontecimento de ontem, na picada. Como foi possível o alferes Santa Cruz ter previsto a localização exacta da emboscada, os pormenores da forma como ela estava montada, até o número exacto de turras que nos aguardavam? Que venha o melhor psicólogo explicar aquele facto, que eu sou todo ouvidos. Estou perfeitamente convicto de que existe uma parte de nós que desconhecemos. E a experiência que tenho da guerra dá-me alguma solidez para sustentar esta minha convicção. Por isso não vou arriscar.

         Dois dias depois Rui Mendes via Álvaro ser transportado numa pequena avioneta, a qual levantava voo da pista improvisada, contígua ao aquartelamento do Ninda, com destino a Luanda. A avioneta cada vez se tornava mais pequena, sendo a sua rota seguida pelo olhar do alferes. Álvaro partira antes do tempo, vivo. Da maldita guerra já se livrara. Mas punha-se a questão: que tipo de paz iria ele encontrar?... (em continuação, ex. XXXV)
in Visitados
Novembro/1999

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