sábado, 20 de julho de 2019

HÁ 50 ANOS, O MIÚDO DE TREZE ANOS QUE SOUBE ESPERAR PELA APÓLO 11 NA LUA, NA TELEVISÃO


Nesse ano de 1969 a Nasa, nos Estados Unidos, lançou-se em força para o espaço, com o programa Apólo. Acho que a meio de Julho desse ano foi lançada para o espaço a Missão Apólo 11, cujo objectivo era o de levar dois astronautas ao solo lunar, ao «mar da tranquilidade». E o homem chegou à lua nesse mês de Julho de 1969. Lá em casa ninguém demonstrou grande entusiasmo por seguir em directo a emissão, pelo que à hora normal toda a família se foi deitar. Mas eu não conseguia dormir. O homem ia poisar na lua, isso ia dar em directo na televisão, e eu não iria ver? Já nessa época, apenas com treze anos, eu era apaixonado pelos feitos do homem e toda essa carga emocional que me suscitam os grandes actos. E convictamente decidi enfrentar todos os riscos.

Era uma noite de verão, uma característica noite de verão em Coimbra, com imenso calor. Da janela aberta da sala chegavam-me os sons dos grilos que cantavam à lua (que nessa noite tinha intrusos), grilos que se encontravam pelas tocas nos terrenos baldios que rodeavam aquela pequena casa, encarrapitada lá no alto. Comigo estava o meu gato, preto e branco, o «Corredor», que dormia comigo. Acho que verdadeiramente era o meu grande amigo naquela fortaleza. E perto das duas horas da manhã, hora marcada para se dar início à emissão, eu liguei a televisão, esse acto criminoso e hediondo. Mas fi-lo, por amor à ciência, e respeito pelos homens que arriscavam a vida para que a humanidade progredisse. A televisão estava num som quase imperceptível. E então, no televisor surgiu, no estúdio, o jornalista José Mensurado, dando algumas explicações. Explicou, por exemplo, que a nave «mãe» se encontrava em órbita lunar, sendo apenas tripulada por um astronauta- Michael Collins, enquanto que os outros dois seus companheiros, Edwin Aldrin e Neil Armstrong, tinham entrado num módulo lunar, que tinha estado acoplado à nave mãe e que brevemente poisaria no solo lunar. Mas que tremenda expectativa. Havia lá alguma ordem «obscuriana» que naquele momento me fizesse afastar do televisor a preto e branco?!

E depois a transmissão, há cinquenta anos, conseguiu transmitir em directo o módulo lunar a poisar. É claro que tudo decorria muito lentamente. Desde que o módulo lunar poisou (parecia uma aranha), até a porta se abrir, decorreu uma eternidade. E eu, de vez em quando, ia à janela, e observava intensamente a lua, que estava muito brilhante nessa noite, e tentava conseguir ver um pontinho pequenino, que me conseguisse localizar os meus heróis na dimensão do pequeno planeta.

E depois aquele momento extraordinário de ver o Neil Armstrong assomar à escotilha do módulo lunar, completamente envolto naquele fato espacial complicadíssimo, com imagens da lua reflectidas no visor do excepcional capacete, e começar a descer as pequenas escadas. E eu com treze anos reparei, e memorizei, aquela breve hesitação do Neil Armstrong com o pé direito, retirado do degrau e dirigindo-o em direcção ao solo lunar, quando o tinha a breves centímetros do solo parou o movimento, e por dois ou três segundos manteve o pé suspenso, para seguidamente o poisar com enorme precaução. E seguidamente, ao retirar as mãos dos corrimões das escadas metálicas, deixando de ter contacto físico com o módulo lunar, ao dar o seu primeiro passo, ter dito a fabulosa frase: «este é um pequeno passo para o homem, um enorme salto para a humanidade». Esta, talvez a frase mais célebre de toda a história da humanidade, desde que a humanidade escreve, e eu vi-a a ser proferida pela primeira vez, pelo seu autor, o astronauta Neil Armstrong, por volta das três da manhã do dia 20 de Julho de 1969…na lua.

in Prosas Pelas Janelas da Vida

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