terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A REPÚBLICA- 3º ANO II

...O primeiro resultado de tudo isto foi uma sensível melhoria nas relações internacionais, facilitadas pelo vapor, electricidade e imprensa; ganharem força as ideias de paz universal, pela arbitragem e trabalhar-se, à porfia, na resolução do grave problema da distribuição das riquezas naturais e do trabalho.
Sendo uma época de transformações, nenhum partido conseguiu realizar o seu programa, apesar de aparecerem muitos homens cheios de tino politico e de austeridade moral.
Tinha de ser assim, porque só os governos absolutos estão dentro da lógica, para povos sem preparo para os regimes de liberdade.
As velhas dinastias estavam, porém, gastas e todos os regimes novos se fundam antes de a maioria poder compreendê-los.
Como, porém, os governos representativos atribuem voto de igual quilate ao sábio e ao ignorante, ao sério e ao troca-tintas, fez-se em cem anos uma política suja, mandando as maiorias arrebanhadas a vinho e bacalhau frito pela corja audaz dos políticos, ficando, ás vezes, fora do governo os homens que mais podiam contribuir para a boa marcha dos negócios....(continua)

in A REPÚBLICA NA BEIRA ALTA

Martins e Abreu
revoltoso do 31 de Janeiro e cavador em Mortágua

1913

4 comentários:

MM disse...

Caro Poeta,

Gostei da alusão a homens cheios de tino e de austeridade moral, e passo a explicar porquê:

Não tendo contactado directamente com o período ditatorial em que creio ter havido austeridade moral mas sobre o qual me excluo de comentar, acredito que actualmente a falta de um corpo moral sólido está a conduzir o parlamento e as forças partidárias para um descontrolado desenrolar.

As pessoas que avançam com a moralidade como bandeira costumam ser chamadas de conservadoras, numa clara catalogação pejorativa que subtilmente quer dizer que os que são moralmente activos são antiquados e retrógados.

Por isso, as pessoas votam mais nos que são fracos de moral, gente que acaba por chegar a altos cargos e que só quando os abandonam é que permitem ao povo verificar o preço da falta de tino e da falta de moralidade.

Acredito que certos homems que poderiam contribuir para o progresso do país ficam arredados da orla política exactamente porque não conseguem abdicar de certos princípios que regem as suas vidas.

Este é um motivo pelo qual não me filio num partido político, e tampouco cativo o meu voto a uma cor partidária.

Até breve,

Marcelo Melo
www.3vial.blogspot.com

Gibson Azevedo disse...

Esta história se repete sempre no dia a dia das nações, principalmente das que têm pouca experiência democrática; onde compram-se a conciência cívica do povo, em troca de qualquer favor de aventura - favor passageiro. É vergonhosa esta constatação. No entanto, no exercício democrático diário, devemos lutar diuturnamente pelo aperfeiçoamento na concepção e execução do nosso anteparo legal, na busca de banir dos nossos dias, essa prática danosa de suprimir a vontade popular. Aqui no nosso país, alguns parlamentares, alguns prefeitos e até governadores perderam seus mandatos, pelo uso indevido de bens ou pecúnia na sedução da consciência dos eleitores. Ou seja, por abuso do poder econômico.
A democracia é excelente como forma de governo, mas exige uma atençao enorme dos cidadãos, para que seus direitos possam ser respeitados. Na há lugar para a omissão!... Neste caso não podemos ensarilhar as armas.

Um forte abraço deste brasileiro.

Teresa Fidalgo disse...

Pois é... precisamos de sangue novo... urgentemente!
"saudações"

Poeta do Penedo disse...

Meus caro amigos Marcelo Melo, Gibson Azevedo e Teresa Fidalgo
estou em perfeita sintonia convosco. É claro que se também não pensasse assim, não me teria proposto a publicar esta preciosidade. E fi-lo também, porque a considero, infelizmente, muito actual.
Os vossos textos provocaram em mim esta dúvida: os nossos políticos têm sido genuinamente maus, ou premeditadamente incompetentes?
Incompetentes têm sido, disso não tenho qualquer dúvida. E refiro-me aos políticos pós-25 de Abril. Eles que tenham paciência...sou um eleitor a cem por cento assíduo desde as 1ªs eleições em liberdade. Tenho votado sempre na esperança de que apareça alguém que nos empurre para cima...e cada vez vamos mais para baixo.
Não posso, não quero, nem devo aceitar com benevolência este triste desenvolvimento em que vivemos. Estamos muito desenvolvidos, muito para a frente, mas continuamos a ser os parentes pobres da Europa. Há 60 anos a Inglaterra, a Alemanha e a França foram países completamente devastados pela guerra. Sessenta anos depois são potências mundiais. A nossa guerra terminou há 35 anos. No tempo da outra senhora tinhamos uma economia muito mais sólida, mas estávamos «orgulhosamente sós». Ninguém nos queria para parceiro.
Agora que estamos acompanhados à força toda, temos uma economia débil, não prestando para nada como parceiro para ninguém.
Cobre-se com nuvens negras o horizonte político português. Basta de medíocridade, tanto no governo como na oposição. Como diise a Teresa Fidalgo, precisamos de sangue novo...urgentemente. Mas onde, onde poderemos nós encontrar essa veia?
Meu caro Gibson, apenas falei sobre o meu país, pois é dele que conheço a realidade, mas pelo que deduzo das suas palavras, no Brasil as coisas devem-se medir por bitolas idênticas.
Eu diria que algo de profundo tem de ser feito? Mas por quem?
Veio a República, deu no que deu.
Veio o 25 de Abril, olhem para esta prosperidade...
O meu muito obrigado pelos vossos três valorosos comentários.
Com amizade.