terça-feira, 2 de março de 2010

A REPÚBLICA- 3º ano III

...Dado o balanço a este período, temos de afirmar que houve progresso; duplicou a população, que tem melhor alimento, mais confortável vestuário e apropriada residência; desenvolveram-se a instrução e as ciências, aparecendo obras imortais em todas as manifestações do trabalho e da inteligência.
É tudo o que a burguesia podia dar e é muito.
E se deu tanto, foi por ser impulsionada por um progresso pasmoso e fatal, que ela não começou; e porque, com rótulos novos, governou quase sempre à antiga, em ditadura, que é uma forma do absolutismo para a qual a própria república está apelando e apelará ainda por muito tempo.
Para governar assim, foi preciso encher a pança à corja dos políticos, desmoralizando os serviços públicos pela incompetência dos funcionários, arruinando as finanças pela comilonia dos empregos para engorda, acumulações, aposentações e arranjos ocultos.
Assim também a dívida pública por aí aparece assombrosa por toda a parte; em Portugal é de 30 libras por cabeça, o que quer dizer que não há com que pagar e que estamos quebrados. Em face disto, o que nos sugere o patriotismo? Voltar ao antigo é impossível. As sociedades não recuam em política por deliberação própria; não há uma classe que mereça dirigir-nos à discrição ou que aceitasse tal incumbência...(continua)

in A REPÚBLICA NA BEIRA ALTA

Martins e Abreu
revoltoso do 31 de Janeiro e cavador em Mortágua
1913

7 comentários:

MM disse...

Caro Poeta do Penedo,

Começo a pensar que o atributo mais crucial para se estar em condições óptimas de governar Portugal é o conhecimento de economia e finanças, porque Portugal lembra-me os casos das famílias sobreendividadas que vão de crédito em crédito tapando o sol com a peneira.

Não me parece muito relevante andar-se com grandes projectos em outras áres enquanto o país não tiver dinheiro para sustentar tais ousadias.

Qualquer família pobre sabe que não há como discutir ensino, saúde ou cultura se não houver dinheiro no bolso para sustentar as decisões tomadas.

Um abraço,

Marcelo Melo
www.3vial.blogspot.com

Poeta do Penedo disse...

Caro Marcelo Melo
Tem toda a razão. No fundo, o problema é simples de descortinar. Resolvê-lo é que parece ser de muito maior dificuldade. Estou seriamente a acreditar que a economia que se ensina nas nossas universidades é de muito fraca qualidade, dado o resultado que a sua prática nos apresenta. Se não é, são-no os estudantes, e se o são a culpa é dos professores que permitem que se alcance licenciaturas em economia, a alunos de fraca produção.
Os ultrajantes resultados têm de ter a sua origem em algum lado, porque todos trabalhamos, produzimos como no estrangeiro, e não saímos da cepa torta...ou será que não produzimos o suficiente? Ainda com um pouco de sorte, a culpa vai ser dos trabalhadores e não dos nossos sucessivos governantes, os tais antigos estudantes de economia.
Seremos nós uma cambada de calões?
Com amizade.

Teresa Fidalgo disse...

Poeta do Penedo,
... mas voltar ao antigo é impossível... e não resolve nada... pelo menos para quem mais perde nunca resolve... pelo contrário...
"Todas as formas de poder são mas, mas não conheço nenhuma melhor do que a democracia!" O pior é que nós não conseguimos aproveitar as coisas boas da melhor maneira. Somos seres humanos!

Mari Amorim disse...

Olá
Poeta,
obrigada pelo carinho,estava preocupada com sua ausência,pois os amigos são como essência a exalar ,quando não a sentimos,ficamos com saudades do aroma no ar.
Há um selo pra vc abaixo dos seguidores do
blog,com o mesmo layout
sem regras,é só um carinho,mas fique à vontade em aceitá-lo.
um haicai,
depois de horas
nenhum instante
e como agora
Boas energias!
Mari

Poeta do Penedo disse...

Cara Teresa Fidalgo
Concordo plenamente consigo na questão da democracia ser a melhor forma de poder que existe. No entanto, na minha perspectiva, a democracia continua a ser tão madrasta para o povo, como foi a ditadura. É que o povo não se alimenta de liberdade de expressão, nem a sua vida melhora por ter sido abolida a censura. A democracia deveria entrar na carteira popular. Com a democracia o povo deixou de ver os seus filhos irem morrer a África, é certo, o que foi uma enorme conquista, mas continua a ver que entre ele, e muitos dos democratas, o fosso social é tão grande como o era no tempo da outra senhora.
Somos seres humanos, é verdade, mas humanos também são os outros seres que vivem em outras democracias, e que delas tiram proveitos bem visíveis. O que será que nos falta, que os outros têm de sobra?
Briosas saudações.

Poeta do Penedo disse...

Cara Mari
pelo facto de não ter comentado não significa que tenha estado ausente. Nem sempre se encontram palavras para tecer comentários à poesia, pelo menos comigo.
Obrigado pela simpatia da sua oferta, e pela visita sempre gratificante.
Um bom fim de semana.

Teresa Fidalgo disse...

Poeta do Penedo,
Sim, poderiamos estar muito melhor, mas estamos todos muito melhor do que antes, seguramente.
Embora haja ainda muita pobreza, e nos últimos tempos cada ve mais, não podemos comparar à pobreza de outros tempos. Quando os meus irmãos eram pequenos, na escola primária, a maior parte dos seus colegas ia desclaço ou de socos - não tinham sapato. E, não fora a bondade das professoras, não comeriam nada na hora do lanche (e não cometiam nas outras refeições nada de jeito, certamente).
A cultura é fraca, é, mas o acesso já não é restrito.
Os estudos são para todos.
Já não é normal nem natural iniciar-se um pequeno a trabalhar aos 10, 11 anos.
As casas, de uma forma geral, têm as condições mínimas - antigamente era raro uma "casa" com WC.
Há preocupações sociais, etc, etc, etc
Agora que muita coisa continua mal, ah lá isso continua.

Saudações Briosas!