domingo, 12 de maio de 2013

SANTA JOANA PRINCESA, PADROEIRA DE AVEIRO


Hoje, 12 de Maio de 2013, caminho pela Avª 25 de Abril. Ouço sinos a repicar. Ao fundo observo o antiquíssimo edifício onde está instalado o museu de Aveiro. Observo-o com interesse, muito interesse, pois ele é guardião da mais ilustre memória de Aveiro. Observo as paredes do que outrora foi o Mosteiro de Jesus. Neste dia, em que em Aveiro decorre uma procissão, chamo á recordação a memória das pedras.
Decorria o dia 6 de Fevereiro de 1452 quando El-Rei D. Afonso V viu nascer a sua primogénita, a infanta D. Joana. Durante alguns anos foi ela a única herdeira do trono de Portugal, até ao nascimento do seu irmão, o Príncipe D. João.
Com 19 anos, em 1471, a Princesa D. Joana assumiu a regência de Portugal, em face da partida de seu pai, El-Rei D. Afonso V e do seu irmão o Príncipe D. João, para o Norte de África, em campanha militar, de que resultou a conquista das Praças de Arzila e Tânger. Seria esta a sua última intervenção política.
Por razões que as fontes a que tive acesso não explicam, no final desse ano de 1471, a Princesa D. Joana pediu a seu pai autorização para ingressar na vida de reclusão monástica, recusando assim propostas de casamento, nomeadamente de Carlos VIII de França e de Ricardo III de Inglaterra. Perante a convicção da princesa, El-Rei D. Afonso V foi obrigado a esquecer as propostas de casamento, pelo que D. Joana deixou a corte a 1 de Dezembro de 1471, tendo-se recolhido então no Mosteiro Cisterciense de Odivelas, de onde saiu no verão do ano seguinte com destino a Aveiro, tendo, a 30 de Julho desse ano de 1472, dado entrada no Mosteiro de Jesus, acompanhada por seu pai, El-Rei D. Afonso V e sue irmão, o Príncipe Herdeiro D. João.
Tendo por prioresa D. Beatriz Leitão, fundadora do Mosteiro de Jesus, a Princesa D. Joana, a 25 de Janeiro de 1475, cerca de três anos depois de ter dado entrada no Mosteiro, com 23 anos de idade, tomou o hábito albi-negro da Ordem de S. Domingos, numa cerimónia que decorreu na sala do capítulo do Mosteiro de Jesus.
Com a sua entrada no Mosteiro de Jesus de Aveiro, a Princesa D. Joana muito terá contribuído para o progresso da vila de Aveiro, pois que a coroa muitas regalias concedeu á vila.
A partir da sua vida de clausura, muito fez a princesa em prol dos desfavorecidos de Aveiro.
A 27 de Julho de 1479 viu-se forçada, contra a sua vontade, a abandonar Aveiro e seguir para Avis, na companhia da madre prioresa D. Beatriz Leitão, para fugir ao grave surto de peste que grassava na vila, tendo regressado em Agosto do ano seguinte.
Em 1481 foi entregue ao seu cuidado o seu sobrinho D. Jorge, filho bastardo do seu irmão e já rei, D. João II, vindo D. Jorge a ser o pai do primeiro duque de Aveiro.
Em 19 de Agosto de 1485 El-Rei D. João II fez mercê a sua irmã da vila de Aveiro, em carta lavrada em Alcobaça, tornando assim a Princesa D. Joana senhora de Aveiro, como o já havia sido o seu tio-avô, o Infante D. Pedro.
A 9 de Dezembro de 1489 a Princesa D. Joana adoeceu com gravidade. «Sua doença foi grande febre e desconcerto de todos os humores, em maneira que assim foi a dita senhora toda trespassada e revolta deles, que todos se lhe voltaram em câmeras e vómitos». Não mais recuperaria!
A 19 de Março de 1490 a Princesa D. Joana fez o seu testamento que é um modelo de humildade e caridade, sendo de excepcional importância a disposição relativa aos escravos e seus descendentes.
A 5 de Maio desse ano a princesa teve a primeira crise agónica.
No dia seguinte, depois de receber os sacramentos, pediu que o seu sobrinho D. Jorge de Lencastre fosse á sua presença, em que lhe pediu que nunca se esquecesse do Mosteiro de Jesus e das gentes de Aveiro.
Completam-se hoje 523 anos sobre o momento em que, ás duas horas da madrugada do dia 12 de Maio de 1490, a Princesa D. Joana faleceu. Tinha 38 anos de idade.
Muitos foram os seus actos de bondade. A comprová-lo aí está a procissão que hoje decorre na nossa cidade, em homenagem á sua memória, 523 anos a separar-nos do dia da sua morte.
Mesmo antes da sua beatificação, que aconteceu em 1693, por intermédio do Papa Inocêncio XII, era já considerada santa.
A 5 de Janeiro de 1965, o Papa Paulo VI declarou-a especial protectora de Aveiro.
Regresso deste meu momento interior, em frente ao antigo Mosteiro de Jesus. Ouço a cidade. Não é grande, mas é próspera. Em 523 anos muito bom trabalho tem feito a Princesa Santa Joana, uma magnânima memória de Aveiro, memória de realeza.

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