Escrevo estas palavras imbuído de uma enormíssima tristeza,
pois para além de ver a floresta, muitas dezenas de habitações e unidades indústriais do meu país a serem consumidas pelo fogo, de ver este nobre
Portugal vestir-se de negro, é-me muito difícil aceitar que 106 meus
concidadãos tenham, naquele miserável dia 17 de Junho e neste muito recente e
trágico 15 de Outubro, perdido a vida da forma mais cruel que se possa
imaginar.
Estamos de luto por três dias mas não podemos estar em paz.
Para quem diz que algo tem de mudar eu digo que tudo terá de ser diferente.
De quem é a culpa?
No meu entender a culpa é de sucessivas décadas de uma
política incorrecta, ou melhor, sem política nenhuma, para as nossas florestas.
Depois que a nossa sociedade mudou, os matos das florestas cresceram a seu belo
prazer, de forma completamente irresponsável, e deixámo-nos de preocupar com a
correcta florestação, visivelmente espreitando o lucro.
A culpa foi de políticas completamente erradas que
extinguiram o corpo da guarda florestal, e que era um garante de vigilância e
alerta.
Nesta segunda investida do fogo, o governo tem uma grande
quota parte de responsabilidade, pois não foi sensível às alterações
climatéricas. E porque o calendário normal dos fogos diz que em Outubro o tempo
é de Outono, como tal de temperaturas mais baixas e primeiras chuvas, o governo
afrouxou as medidas de segurança, subestimando a alterações do clima, o que se
veio a revelar fatídico no Domingo passado.
Exige-se a queda do governo. Mas quem exige a sua queda é
quem é incapaz de ver o trabalho que o governo apresentou, em prol da nossa
recuperação económica, ou então exige essa demissão porque encontrou nos
incêndios o pretexto que aguardava, para ver pelas costas o governo que a esses
chamou de medíocres.
Em prol da nossa economia, em prol da recuperação de alguma dignidade
de vida por parte do povo, considero que se o governo do PS cair, isso será um
enorme erro.
A Direita anunciou a chegada do diabo. E estava certa. O
diabo chegou mesmo, entrou no nosso pobre país e devastou-o. Resta saber se o
diabo veio por sua livre e espontânea vontade, ou se foi solicitado.
É sabido que ele, o diabo, tem duas capas: com uma tapa e
outra destapa. Cá estaremos para ver se este diabo tem, efectivamente, a capa
que destapa.
Os meus mais profundos pêsames a todos os familiares das 106
vítimas mortais deste verão e Outono, neste queimado ano de 2017.
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