sábado, 4 de maio de 2019

PSICÓLOGO ALUGADOR DE AUTOMÓVEIS


Passeio, sózinho, nesta tarde de Outono, num parque silencioso, absorvido em mim próprio mas de forma alguma indiferente ao excelente colorido com que a natureza me presenteia. Depois destes últimos oito anos, absolutamente incríveis (e com isto não pretendo dizer que tudo foi incrível no bom sentido, porque houve muito mais de mau que de bom), tive necessidade de fazer uma reflexão sobre mim próprio, de dar a entender-me quem realmente sou, já que sobre mim obtive informações que eu próprio desconhecia, ou de que me tinha esquecido.

         É que, a dado momento deste período de oito anos, fui aliciado pela ganância e deixei-me seduzir por ela. Bem, não poderei dizer que, na realidade, seja totalmente culpado, já que a sedução chegou ao mesmo tempo que a minha mente era manipulada. A partir desse momento a vontade de outrem sobrepôs-se à minha própria vontade, e num tribunal sério eu nunca poderia ser responsabilizado na totalidade.

         Ingressei então em algo que em muito, caso se concretizasse, iria contribuir para o enfraquecimento de Portugal enquanto nação soberana. Felizmente que um sonho teve o condão de me libertar dessa prisão mental, dessa maléfica hipnose, ao devolver-me a minha identidade de lusitano, e a minha personalidade de homem honrado e de bem com a história.

         Mas comecemos pelo princípio.

         Chamo-me Luciano Pinto, sou natural de Coimbra e neste ano de 2017 completei 34 anos de idade. Sou filho de gente de classe média. O meu pai foi militar, andou pelo ultramar bastante tempo. Chegou ao posto de sargento-chefe. Reformou-se há nove anos. A minha mãe é costureira e trabalha ainda para um alfaiate conceituado de Coimbra. Fui criado na Alta de Coimbra, na Freguesia de Almedina.

Tirei o Curso de Psicologia na Universidade de Coimbra, mas quando o terminei, em 2004, constatei com bastante tristeza que o mercado de trabalho estava saturado. Os psicólogos acotovelavam-se nos corredores das oportunidades. Aguardei seis meses por colocação num sítio qualquer, mas como não chegou qualquer resposta, direccionei a minha atenção para outras áreas. Aconteceu então que um dia vi um anúncio de emprego numa locadora de automóveis, que preferencialmente queria pessoas licenciadas. Em todas as épocas existiram e continuam a existir oportunistas. Muito embora oferecesse um trabalho que não requeria índices intelectuais significativos, valia-se de quem os tinha para acrescentar uma mais-valia ao negócio, pois que à partida um licenciado é alguém bem-falante e com boa presença e apresentação. E tudo isto a custo de um ordenado pouco mais do que o ordenado mínimo. Mas entre o estar inutilmente em casa ou a um qualquer balcão a alugar carros, claro que escolhi o aluguer de automóveis…(em continuação, ex. I)

in Sombras da Eternidade

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