quarta-feira, 10 de setembro de 2008

CORAL INFANTIL VERA CRUZ



Ao chegar a Aveiro, em 1985, trazia comigo uma grande saudade: dar continuidade à minha actividade de musico. A última vez que me vira envolvido pelas vibrações de um amplificador, e que sentira nas mãos a resistência da pele de uma tarola, já fazia três anos. Por um capricho do destino (ou talvez não), fui, pouco a pouco, me dirigindo para o local de onde surgiria a oportunidade de voltar a tocar. Demorou quatro longos anos, mas aconteceu. Conheci o Tó Zé e a Elsa. E palavra puxa palavra chegámos à conclusão que tínhamos algo em comum- o gosto pela execução musical. No entanto, não concebíamos formar um grupo musical. Esse não era um projecto viável. E foi nessa base que criámos algo muito mais enriquecedor. Fundámos o Coral Infantil Vera Cruz. Conseguimos convencer pais, que tivessem filhos em idade escolar, que já soubessem ler, a experimentar porem os seus filhos a cantar. E, evidentemente, que a ideia agradasse ás crianças. E em pouco tempo tínhamos um grupo de cerca de trinta crianças, com quem poderíamos trabalhar. Enquanto escolhíamos os miúdos, fazendo uma pré selecção, tratámos de encontrar uma teclista e um guitarrista. E ela apareceu. Aí tinhamos nós então o grupo formado- o Tó Zé na viola baixo (substituído várias vezes pelo Nuno Albuquerque ou pelo Carlos Ferreira), e nas teclas, o Nando na viola ritmo e solo, a Paula nos teclados (posteriormente substituída definitivamente pelo Pedro), a Elsa como maestrina e eu na bateria.
O nosso objectivo era, e foi plenamente conseguido, fazermos letras para as adaptar a várias músicas. E as músicas foram surgindo. Tocámos temas da pop, reggae, rock, blue e country, e músicas de natal. A Elsa escreveu algumas músicas inéditas.
A Elsa Martins, uma compositora extraordinária, uma ilustre desconhecida.
Fizemos ainda um medley composto por músicas do cancioneiro aveirense-13 minutos ininterruptos de música popular da ria e dos moliceiros, que muitas horas de ensaio nos levou, até estar pronto a ser apresentado.
A nossa primeira actuação aconteceu no dia 20 de Dezembro de 1989, e a última no dia 17 de Junho de 1995. Foram cinco anos e meio de espectáculos deliciosos, momentos de muita magia. Já por muito menos vi imensa publicidade.
Considero que o Coral Infantil merece ser recordado neste meu espaço, não só pelo óptimo trabalho que todos executámos, mas, principalmente, pela dedicação e empenho que todas as nossas crianças tiveram, tanto nas incontáveis horas de ensaio, como no entusiasmo que sempre demonstraram em palco.
Essas crianças, hoje homens e mulheres, com variadíssimas actividades, a quem perdi o rasto a quase todas.
Homens e mulheres, que sei recordarão com saudade, com carinho, e decerto um brilhosinho nos olhos, o Coral Infantil Vera Cruz, ao qual deram alma.
A todos, por onde quer que andais, o meu obrigado pelo brilho que emprestaram ás horas que eu, sentado atrás da tarola, vivi, marcando o ritmo e o compasso do encanto que de vós emanava.

4 comentários:

MM disse...

Viva...

O seu instrumento no coral, na bateria é dos meus favoritos. O ritmo fascina-me.

Posso perguntar-lhe o que pensa um baterista da música dita electrónica?

Cumprimentos
Marcelo Melo

Poeta do Penedo disse...

Na minha perspectiva de baterista, caro Marcelo, a música electrónica, na componente ritmica, não tem sentimento, é omissa da criatividade de quem, envolvido pela tarola, timbales, bombo e pratos, responde aos estímulos que a vibração dos instrumentos em si suscita. Os ritmos e os compassos da electrónica são demasiado rígidos. Os «braques», quando existem, são demasiadamente planeados. Respeitando o «desenho» musical a que todas as músicas estão sujeitas, tem o baterista espaço para, aqui e ali, improvisar- um braque em contratempo, a batida do bombo com um contratempo de momento. E se tudo isso for percebido pelo baixista...é um sonho. Coisas que a musica electrónica não pode oferecer.
E claro, nada substitui o som acústico de uma boa pele,e o som genuíno da baquete no prato de choques.

PM disse...

Olá Jorge!
Bons tempos os passados nestas lides... Deu uma saudade ao (re)ver estas fotos... Um abraço amigo
Pedro Martins

Poeta do Penedo disse...

viva Pedro
o tempo passa por nós, mas não passa em nós,pois a memória retém o passado e transforma-o num tecido vivo.
Foram momentos que sempre guardarei em mim. E se todos nós, que fomos o Coral Infantil, o fizermos, será o Coral Infantil recordado em Aveiro, ainda por muitos e bons anos.

Um abraço.