quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Aveiro, 16 DE MAIO DE 1828 (CONCLUSÃO)












Aveiro, 08 de Outubro de 2008.
Ainda hoje o canal central da ria de Aveiro viu alguns moliceiros dormitando sobre a sua água, descansando da faina do transporte de turistas, que alegremente, durante o verão, sulcaram as águas da ria, com câmaras de filmar em punho, apontando para tudo o que a vista alcança.
E antes deles, há muitos anos, foram os moliceiros instrumentos de duro trabalho, tendo, no entanto, por via, o mesmo canal e a mesma água.
E um dia houve, um só dia, período de vinte e quatro horas, em que o canal se engalanou, não de flores nem risos despreocupados, não do trabalho da apanha do moliço, mas de gritos de revolta, de coragem, a coragem dos que acreditaram que a força de um rei vinha de baixo para cima e não de cima para baixo.
E alguns desses nas mãos do carrasco entregaram a sua maior fortuna. E foram chorados...e foram lembrados, mas porque de muitos homens a história não fala, e se os omite alguma razão haverá, esses, a quem o carrasco a vida levou, foram esquecidos.
Cento e oitenta anos depois do 16 de Maio de 1828 Aveiro floresceu. Dizem que esta cidade dos canais é um dos berços da liberdade. Dizem-no, referindo-se aos congressos de oposição democrática que aqui tiveram lugar, em 1973, em plena ditadura fascista, e que criou algumas convulsões sociais. Eu concordo que Aveiro é um berço da liberdade, mas é-o há muito mais do que apenas 35 anos. É-o há 180 anos, quando o Desembargador Joaquim José de Queiroz chefiou o movimento revolucionário, apoiado pelo povo e pelo Batalhão de Caçadores Dez, lutando pela Carta Constitucional que democratizava o poder régio, opondo-se energicamente à monarquia absoluta, da qual foi último representante D. Miguel.
A revolução de Aveiro incendiou o coração de muitos liberais de então. Nos compêndios de história apenas se alude a movimentos liberais por todo o país em 1828, mas em nenhum, se diz, especificamente, que foi em Aveiro que esses movimentos começaram.
Aveiro pode orgulhar-se de ter tido, em determinado período da nossa história, a força da iniciativa. Mas não se orgulha, porque esqueceu. Não todos os aveirenses, decerto, e a testemunhá-lo estão aqueles cravos brancos, fresquissímos, que fomos encontrar no monumento funerário.
O António Henriques e eu abraçámos esta pequena causa, que foi a de trazer à memória colectiva esse dia de glória e os nomes dos que por esse dia morreram.
Na cidade existem pelo menos três estátuas que lembram figuras que enalteceram Aveiro e a sua história. Uma delas, a José Estevão, representa um homem de letras, mas também um homem de armas, que arriscou a vida aquando do cerco do Porto, quando as tropas absolutistas sitiaram na Invicta o exército liberal. Foi pois José Estevão contemporâneo dos homens que história, em Aveiro, esqueceu.
Nas fotos em cima, captadas pela máquina do António Henriques, é apresentado o único monumento existente na cidade, que faz uma singela alusão ao 16 de Maio de 1828, em Aveiro. Nele estão inscritas as seguintes palavras:
«Aos aveirenses que sofreram pela liberdade».
Este obelisco foi eregido pelo Clube dos Galitos, no ano de 1909, e encontra-se em frente à sua sede, junto aos Arcos.
Na minha modesta opinião, seria bonito, por parte da Câmara Municipal, levantar um pequeno monumento à memória do povo aveirense da segunda década do Séc. XIX, pelo acto heróico de que foram protagonistas, acaso a história interesse ás nossas actuais vidas.
E também à memória dos seis aveirenses enforcados e decapitados na Praça Nova, no Porto, em 1829.
Aos seus nomes a glória.
Seria bom que este desejo de há século e meio não fosse esquecido. Eles merecem-no.
Fareleira Gomes.


1 comentário:

António disse...

Obrigado pela "lição".