segunda-feira, 8 de março de 2010

O 11 DE MARÇO E OS SUV DE 1975



Recordo com bastante nítidez aquela manhã de 11 de Março de 1975. A viver na região das Caldas da Raínha havia apenas alguns meses, fui surpreendido por um ambiente de tensão no Liceu das Caldas, igual ao que vivera na manhã do 25 de Abril, no D. João III, em Coimbra.Foi-nos dito que não haveria aulas porque em Lisboa estavam a acontecer problemas. Em peso invadimos o café Taiti e por lá ficamos toda a manhã, enquanto em Lisboa o país estava ás portas de uma guerra civil. Os comandos e os pára-quedistas estavam em rota de colisão. Uma tentativa de golpe de Estado estava em curso. À noite, nesse dia, segui atentamente as notícias e as imagens pela televisão. Grande confusão com militares a correrem por todo o lado. O confronto iminente entre as duas forças especiais, a rebaldaria que se via naqueles soldados de cabelo enorme e calças à boca de sino, e subitamente, quando tudo parecia perdido, viu-se surgir um tenente-coronel, que ninguém conhecia, de nome Ramalho Eanes, que conseguiu apaziguar as emoções e fez com que os comandos e páras, quase inimigos, se abraçassem com lágrimas nos olhos. Foi por pouco!
Dois anos depois eu iria pagar bem caro a indisciplina do exército, no tempo do movimento «Soldados Unidos Vencerão» (SUV), quando ingressei no meu serviço militar, em Mafra. O exército estava a recuperar a imagem perdida. Os novos militares, onde eu me incluia, amargaram o rigor de uma disciplina de ferro. Por essa razão nunca mais me esqueci dos SUV.

2 comentários:

Gibson Azevedo disse...

Só assim, meu caro fareleira, se consegue a necessária obediência hieráquica - condição basilar para a existência das forças armadas de qualquer País: com rígida disciplina, no treinamento de novos conscritos. Infelizmente, deste azar de servires ao seu País, numa fase subsequente a um levante militar, onde esta disciplina foi quebrada. Chegaste no momento da limpeza da vitrine, que ficaria exposta, a partir de então, a todos os seus compatriotas. Assim é a vida... Poucas são as mundanças
Forte abraço deste seu amigo.

Poeta do Penedo disse...

Caro Gibson
Diz bem! Entrei no serviço militar mesmo na altura em que a vitrine estava a ser limpa, logo a seguir aos tempos conturbados que se viverem no pós 25 de Abril, situação normal vivenciada por todos os povos em revolução. Foram difíceis esses meus 16 meses de serviço militar, mas que hoje me enchem de orgulho, principalmente porque foram cumpridos integralmente num dos quartéis com maior carisma em Portugal- a EPI em Mafra.
Agradecendo o seu companheirismo,
com amizade
Fareleira Gomes