sábado, 2 de março de 2013

O ACTO INICIÁTICO II


Não sei quantas serão as pessoas que deambulam pelos blogues, que tenham marcado presença nas fabulosas manifestações que se derramaram pelas ruas deste nosso maravilhoso país, no dia 25 de Abril de 1974 e seguintes. Eu sou uma delas. Com a inesgotável energia dos meus 18 anos, gritei os slogans de então, cantei a Grândola Vila Morena, até á exaustão. E depois de me sentir esgotado, se me tivessem pedido para ir gritar e cantar de novo, imediatamente o faria, revigorado, porque a expressão da liberdade era urgente e me rompia a pele.
Passaram-se 39 anos e, infelizmente, vejo o meu povo na urgência não da liberdade, mas da justiça, que bem medidas as coisas vai dar ao mesmo, pois uma sociedade que não é justa não é uma sociedade livre nem democrática. Hoje o povo foi espontaneamente para as ruas, como o fez em Setembro último, como o fez em 1974. E como há 39 anos, a Grândola Vila Morena voltou a ser sentida como a expressão máxima da intervenção. A memória de Zeca Afonso percorreu hoje Portugal, de lés-a-lés. E os slogans estão também a regressar: o povo unido jamais será vencido, o povo é quem mais ordena. Penso que não faltará muito e gritar-se-á também: soldado, amigo, o povo está contigo.
Segui atentamente as notícias. Impressionou-me o depoimento de uma manifestante, moça a rondar os 30 anos, dizendo que é professora, está desempregada há dois anos, já não recebe qualquer subsídio, e que a base da sua sobrevivência é a reforma da mãe, de 500 euros. Quantas vezes nem dinheiro tem para lanchar.
Há 39 anos que somos governados apenas por três forças políticas. E sistematicamente que têm alternado o poder com a oposição. Afirmam que têm implementado o progresso e a democracia. Aqui chegados, todos, todos nós, temos a oportunidade de avaliar onde é que o progresso e a democracia foram implementados, e de que forma é que esse progresso e essa democracia influenciaram a justiça social.
Estou deveras curioso para ver qual o resultado do voto do povo, já nas próximas eleições autárquicas, mas, fundamentalmente, nas próximas legislativas.
Isto precisa de um trambolhão, venha ele na forma que vier. O necessário é que traga algo de diferente. Porque, bem podemos manifestar a nossa indignação nas ruas, que, se nas urnas continuarmos com o nosso sentido de voto inalterável, tornar-nos-emos tão responsáveis como a nossa excelente rapaziada que diz chamar-se classe política.
Bravos Lusitanos, triste a vossa sina!

2 comentários:

Gibson Azevedo disse...

Meu caro amigo Jorge, lamento os vossos sentimentos de indignação ante aos frustrados desejos inalcançados da juventude portuguesa da época da revolução dos cravos. Alguma coisa próspera haverá de descortinar-se no dia a dia dos lusitanos nos anos vindouros. É salutar não esquecermos dos males que qualquer tirania promove, gratuitamente, a qualquer nação.
Um forte abraço deste seu amigo.

Poeta do Penedo disse...

Meu caro Gibson,
o problema é que já se começam a fazer comparações entre esta injusta democracia e o tempo da outra senhora, sintoma de que a desilusão se começa a aprofundar. A nível social, exceptuando o estado de guerra ultramarina, pouco melhor está o povo. É claro que o país vai recuperar, tem de recuperar, com a ameaça de perda da soberania. Mas, para quando? Irá ser uma questão de dois ou três anos, ou de uma geração? Um grande abraço meu amigo, e obrigado pela sua força.