domingo, 31 de março de 2013

EM 1506, FOGUEIRAS NO ROSSIO EM LISBOA




Terminei esta semana a leitura do romance «O Último Cabalista de Lisboa». Não o poderia ter feito em melhor altura do que esta- a Páscoa, já que o enredo do livro se passa na páscoa de 1506.
Um romance baseado em factos reais, o que faz com que a realidade da nossa história seja, por vezes, como neste caso, bastante negra, e numa altura, no momentos dos nossos 873 anos de história em que, como povo, subimos mais alto.
Um daqueles momentos que a história não se preocupa nada, mesmo nada, que não seja ensinado nos bancos da escola.
Aprendi o que foram os cristãos novos. Com os anos aprendi que as nossas alheiras são um legado dos cristãos novos portugueses, para iludirem os cristãos velhos de que comiam, como eles, carne de porco, enchidos de porco. Mas mais nada me foi ensinado. Não aprendi o que aconteceu nessa tenebrosa páscoa de 1506, em Lisboa, muito embora me tenham chegado alguns rumores pelos tempos fora.
Com a leitura deste livro, da autoria de um verdadeiro mestre- Richard Zimler, entrei profundamente nesses acontecimentos horríveis.
Páscoa de 1506- grassa em Lisboa uma seca severa, acompanhada por mais um surto de peste. O povo de Lisboa, instigado então pelos frades dominicanos, acusa os judeus de todos os males, e numa loucura colectiva, levam á fogueira cerca de 2000 judeus cristãos novos- os marranos.
Quando pela primeira vez, no livro, li este vocábulo- marrano- parei um momento. Este é um termo que eu já utilizei, quando queria dizer que alguém se não tinha portado em condições. Lembro-me de, na minha infância, quando alguém brincava com uma criança, provocando-a quase ás lágrimas, de se repreender essa pessoa, dizendo: «não lhe faças judiarias». Portanto, ainda há poucos anos, a nossa memória colectiva se encontrava influenciada com as memórias destes dias…e preservava esse sentimento de repulsa em relação aos judeus.
Em todo o romance está sempre bem presente a sombra da inquisição, muito embora o santo ofício somente trinta anos depois seria instituído em Portugal.
Aos que estão interessados em saber que até os grandes povos podem ter momentos extremamente negativos, este livro será de leitura obrigatória.
E nós, Portugueses, mesmo com políticos fracos, não enfraquecemos, e como sempre fomos, continuamos a ser um grande povo.

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