domingo, 22 de novembro de 2015

COMISERAÇÃO À JANELA DA GUERRA

...Era tempo de descontracção. No chuveiro improvisado, instalado no seu quarto rudimentar, acabara o capitão Rebelo de tomar um revigorante banho. Da pequena janela do seu quarto, praticamente um postigo, que dava para a parada, enquanto fumava um cigarro ia observando com alegria os seus soldados, que meios fardados organizavam a expedição de algumas centenas de metros até ao rio. Contemplava os guerrilheiros negros. Bem vistas as coisas eram merecedores de pena. Sem qualquer formação militar, deambulavam pela selva angolana, instigados por valores independentistas. E efectivamente aquela terra era deles, não dos europeus. Mas a política é que comandava o mundo, não a comiseração, não o incomodativo sentimento de injustiça. Mas quem sente comiseração é gente. E gente pensa. E muitos pensamentos juntos, se fluírem para o mesmo ponto, acabam por ter força. E da força nascem as revoluções. E se em vez de uma cabeça, forem várias cabeças, mentes de capitães como ele... alguém batia à porta do quarto.

-         Entre- disse o capitão Rebelo, virando costas à janela...(em continuação, pág. 92, ex. XXX)
in Visitados
Novembro/1999

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