sexta-feira, 19 de outubro de 2018

QUANDO SE ENCONTRA ARTE FILHA DA MADRUGADA



Hoje dei-me ao trabalho de dar uma vista de olhos sobre papéis velhos. Quantos tesouros se podem guardar em velhos papéis.
Estávamos em pleno Junho de 2004, decorria em Portugal o Campeonato da Europa de Futebol. A cidade de Aveiro recebeu no seu novo estádio dois jogos desse campeonato. Toda a cidade se transfigurou, recebendo os milhares de visitantes, não propriamente turistas mas antes amantes do futebol, a maioria adeptos das quatro selecções que jogaram na nossa cidade.
A segurança foi um dos serviços públicos, a nível nacional e local, que mais esteve em foco durante esse mês de Junho. E tinha de o ser, já que Portugal tinha sobre si os olhos de todo o mundo.
Em Aveiro o coração do serviço de segurança recebeu reforço. Ele foi um dos elementos que foi reforçar as hostes que trabalhavam em prol da segurança de todos.
Uma manhã bem cedo, ao entrar de serviço, ele passou com o olhar pelo interior da guarita de sentinela existente à entrada do coração do serviço de segurança, e apercebeu-se de que existia uma folha branca de papel esquecida no tampo da mesa rudimentar, que tinha qualquer coisa desenhada. Aproximou-se e… por momentos ficou imóvel de espanto. Naquela folha alguém, por certo quem estivera de serviço durante a noite, desenhara aqueles espantosos aviões de guerra e aquele navio de guerra a lapiseira, alguns do tempo da II Guerra Mundial. Ele desconfiara de quem era o autor daqueles desenhos e confirmou-o na escala de serviço. Claro, o Leal, só poderia ter sido ele.
Aqueles desenhos não mereciam ficar ali esquecidos, não mereciam ir para o lixo, não mereciam o desapego do seu criador, que por certo ali os abandonou por ter já criado imensas obras de arte a que nunca deu qualquer valor. Foi apenas por hábito que os abandonou. Criou-os para que lhe fizessem companhia durante a noite. Chegado o dia, cerrou o breve postigo do seu talento e obrigou-o a ficar de novo adormecido.
Ele guardou a folha branca de papel e assim que encontrou o autor dos desenhos disse-lhe que a tinha guardado, e perguntou-lhe porque razão ele não investia na sua arte. O autor sorriu e respondeu que não era pintor.
Hoje, passados todos estes anos, ele reencontrou aquela folha branca, entre papéis velhos, e resolvi dar-lhe alguma vida, homenageando assim o talento desconhecido de um camarada que, andando por aí, pelas madrugadas fora terá criado outras obras de arte para oferecer ao sol.
Tanto artista sem talento que, na sua mediocridade, se põe nos bicos dos pés e enche exposições com telas cheias de tinta de muitas cores. Outros há que…
Que maravilha!

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