quinta-feira, 11 de outubro de 2018

MAUS E TRISTES TEMPOS AQUELES DAS REPRESÁLIAS


...Foram tempos difíceis. Os velhos guardas, sentindo-se inferiorizados pelo superior nível cultural de alguns colegas mais novos, não perdiam a oportunidade de desdenhar deles, ou mesmo recusar-lhes ajuda, quando os viam em situações delicadas, fruto da sua inexperiência. No que dizia respeito aos subchefes e oficiais, era um perfeito tormento. Contavam-se pelos dedos os subchefes, chefes de esquadra ou comissários, que naturalmente aceitassem o facto de  terem sob o seu comando guardas, que culturalmente  os ultrapassavam com facilidade. Valendo-se do seu estatuto hierárquico de superiores aos guardas, que, no entanto, eram intelectualmente mais evoluídos, ministravam-lhes represálias, tais como cortes de folgas ou imposição de serviços de patrulha suplementares, para assim lhes quebrar o ânimo, quando não era a instauração de processos disciplinares, baseados em pequenas faltas, mas que no momento eram astuciosamente empoladas.
No início da década de oitenta este clima era vivido mais nos dois grandes comandos do país, Lisboa e Porto, e no comando de Aveiro, que servia como comando trampolim, onde muitos guardas passavam anos aguardando a sua transferência, geralmente para os comandos de Bragança, Viseu e Coimbra. Nos restantes comandos, muitos do interior, as transferências faziam-se muito lentamente, pelo que as novas mentalidades apenas alguns anos depois lá chegariam. Serôdio em Lisboa e eu em Aveiro, ambos fôramos protagonistas e vítimas da lenta mudança. A mim alcunharam-me de «O Beirão»...(em continuação, ex. XXXVIII)
in Filhos Pobres da Revolta
Março/2003

Sem comentários: