sexta-feira, 11 de julho de 2008

ARMENTIÉRES, 9 DE ABRIL DE 1918 (CONTINUAÇÃO)


O senhor Major Joaquim Sérgio, guardava na memória, há 63 anos, o momento em que saltou o parapeito da sua trincheira, com o seu pelotão, para fazer frente aos soldados alemães que se aproximavam. Nesse mesmo momento, um seu cabo, bravo soldado, foi literalmente cortado a meio por uma rajada de metralhadora, regressando o corpo, já sem vida, á profundidade lamacenta da trincheira, esguichando sangue por vários orifícios de bala. No final da batalha, o sargento Joaquim Sérgio, acompanhado por alguns camaradas, conseguiu sair do pântano de Armentiéres, pejado de milhares de corpos de soldados ingleses, alemães e portugueses. O sargento Joaquim Sérgio deambulou três dias pelo Norte de França, mitigando uma côdea de pão com que matar a fome. Mas os franceses, convencidos de que a derrota se devia à má prestação dos soldados portugueses, negavam-lhes esse auxílio. Só ao terceiro dia, após a batalha, é que a verdade foi reposta. As Divisões inglesas não haviam ocupado as posições que lhes estavam determinadas. E foi por esse buraco que se infiltraram os soldados alemães. Foi uma narrativa carregada de emoção e amargura, 63 anos depois. Eu, naquela tarde, estive na presença de um herói nacional. Quem falava comigo era o jovem sargento Joaquim Sérgio. Eu tomei conhecimento da batalha de La Lys, quando comprei uma colecção de livros que preservo como um grande tesouro. Mas eu estudei História de Portugal. Pergunto: porque razão me não foi ensinado a ocorrência desta batalha, que afinal ocorreu num tempo relativamente próximo do meu? Que história aprendemos nós? Aprendemos que tivemos combatentes portugueses na I Guerra Mundial, mas tudo nos surge de forma difusa, nebulosa. E na nossa história encontramos outros exemplos, escandalosos, de completo esquecimento sobre factos e gente, a nossa gente, que neles tiveram intervenção directa. Não chega sabermos que soldados portugueses combateram na I Grande Guerra. É preciso que, ao olharmos para os monumentos aos nossos mortos da Grande Guerra, o fazermos com respeito, muito respeito, porque tal como os nossos soldados, actualmente, se encontram em missão, em vários pontos do planeta, representando a nossa bandeira, também esses combatentes de Armentiéres foram para França defendendo a mesma bandeira que é a nossa.
Em conversa com uma pessoa conhecida, cidadão português tanto quanto eu, conversando sobre estas coisas, disse-me ele: «já muita vez perguntei a muitas pessoas, porque razão é que a rua onde moro se chama 9 de Abril de 1918, e nunca me souberam esclarecer a dúvida».
Servem estas palavras para prestarem homenagem a todos os soldados portugueses, caídos em combate na I Guerra Mundial, e com especial incidência aos soldados portugueses, que há 90 anos, na Batalha de La Lys, pereceram. Todos eles foram meninos de suas mães, bisavós, trisavós de muito do nosso actual tecido social, mortos em La Lys, a nossa última grande batalha.

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