quinta-feira, 24 de julho de 2008

ESTA ALIANÇA DE SÉCULOS








Foi no século XIV que Portugal firmou uma aliança com a Inglaterra, aliança monárquica, que transitou para a nossa República e que chegou até aos nossos dias, aliança essa firmada por intermédio do nosso rei D. Fernando e o rei inglês Eduardo III, em Julho de 1373. Essa aliança teve por finalidade a inter-ajuda entre os dois reinos contra o reino de Castela, aliança essa reforçada, depois, em 1387, com o casamento do novo soberano português, El-Rei D. João I, com D Filipa de Lencastre, pertencente à família real inglesa. D. Filipa de Lencastre, rainha de Portugal e mãe da Inclítica Geração. Preparava-se, então, Portugal, para vir a ser uma grande nação, ocupando o mesmo espaço físico que ocupa hoje, à excepção da cidade de Olivença, que em 1801 perdeu para os espanhóis.
Esta aliança, que já leva 635 anos de existência, começou por respeitar os preceitos de ajuda mútua. Portugal auxiliou a Inglaterra na guerra contra Castela e contra a França, no decurso da Guerra dos cem anos, e os ingleses apoiaram Portugal na decisiva Batalha de Aljubarrota, contra os castelhanos.
Inclitica Geração, da qual se elevou aquele, que viria a dar o impulso para que Portugal se viesse a tornar, então, uma grande potência Europeia e mundial- o Infante D. Henrique, filho de El-Rei D. João I e da Rainha D. Filipa de Lencastre.
Portugal lançou-se na epopeia dos Descobrimentos, disseminou-se pelos quatro cantos do mundo, conquistou novos territórios em todos os continentes, tornou-se numa imensa potência. Durante esse período áureo, a aliança com os ingleses ficou em banho maria. Castela já não representava um perigo para nós. Partilhámos o mundo a meias. Igualávamo-nos como potências mundiais. Até que tivemos a infelicidade de ter como rei D. Sebastião. Álcacer-Quibir chegou em 1578, tenebrosa, monstro que nos roeu as entranhas. E como muito alto tínhamos subido, enorme foi o trambolhão...até hoje.
Perdemos a independência, recuperámo-la...com muito sacrifício, perdas de vidas e a ruína da nossa economia; e os anos foram passando, e Portugal ia vendo as constantes lutas em que se engalfanhavam França e Inglaterra, agora as duas maiores potências. E em função dessas lutas, a Inglaterra, nossa aliada, pediu apoio a Portugal para albergar os seus navios nos nossos portos. E nós, coitaditos, agora pobres diabos, outra coisa não pudemos fazer do que deixar que os navios ingleses se abastecessem e as tripulações recuperassem forças nas nossas águas. Em França, tal gesto foi considerado como um acto de guerra, e aí vieram os franceses, invadindo o nosso país em três sucessivas avalanches, 1807, 1809 e 1810. A Inglaterra fez o seu papel de aliada, e auxiliou militarmente Portugal, nas batalhas que se sucederam.
Mas, aos ingleses, não os movia tanto o espírito da aliança com Portugal, mas antes o interesse em derrotar a França fosse em que território fosse, até porque a França, quatro décadas antes, auxiliara os Estados Unidos da América a tornarem-se independentes do domínio britânico. A corte portuguesa fugiu para o Brasil, os franceses foram derrotados nas três invasões, e os ingleses tomaram conta de Portugal, a seu belo prazer. Deve-se a essa época o facto de o nosso produto nacional, famoso e único em todo o mundo- o Vinho do Porto, nascido da terra rija lusitana e do sol abrasador que torra as encostas do Douro, regado com súor bem português, tenha hoje marcas inglesas como «Offley», «Sandeman» «Tawny», «Post Scriptum»...dá-me que pensar!
Os ingleses por cá se instalaram. Dez anos depois, foi o povo que mostrou aos fracos políticos o quanto ainda podia o espírito lusitano. Em 1820, o Almirante Belfast regressava do Brasil, onde se deslocara para pedir mais poder ao rei português D. João VI, refugiado na colónia brasileira. Trazia poderes para dominar o reino a seu belo prazer. O povo não o deixou desembarcar e deu-se a revolução de 1820.
Os ingleses foram-se embora, mas a aliança manteve-se intacta. 58 anos depois Portugal assina um tratado com a Inglaterra, em que permitiu que a partir de Goa, do porto de Mormugão, fosse construído um caminho de ferro que fizesse a ligação à Indía britânica. Esse acordo, na perspectiva portuguesa, tinha por objectivo o desenvolvimento de Goa. Claro, os inocentes dos ingleses, fizeram esse acordo, a pensar no desenvolvimento da colónia portuguesa!!!!!
Em 1879, novo tratado entre os dois reinos, agora para proibir Portugal de vender armas portuguesas aos Zulus, da África do Sul. Inglaterra tinha fortes interesses no país dos Boers, e os Zulus começavam a incomodar. O comum português não gostou deste tratado, que lesava os interesses económicos de Portugal.
Sete anos depois, em 1886, num convénio celebrado com a Alemanha, Portugal tinha direito ao território africano, que se estendia de Angola a Moçambique, pintado a cor de rosa no mapa de África, tendo existido a oposição feroz da Inglaterra para que tal possessão se efectivasse.
Em 1890, e porque tudo se canalizava para que Portugal tomasse posse dos territórios inseridos no mapa cor-de rosa, posse legítima, na qualidade de descobridor, recebeu Portugal um ultimato inglês, pois tal concessão colidia com os projectos ingleses de criar um império desde a cidade do Cabo até à cidade do Cairo, no Norte de África. Sem dúvida nenhuma, a aliança no seu melhor.
Passaram 28 anos. O mundo mudara para muito pior. A Europa estava a ferro e fogo havia quatro anos. A I Guerra Mundial estava a chegar ao fim. Portugal vira-se forçado a entrar na guerra, em 1916, porque, por pressão dos ingleses, apresara setenta navios mercantes alemães que se encontravam em portos portugueses. A Alemanha declarou guerra a Portugal. Em defesa dos seus interesses, Portugal enviou um Corpo Expedicionário de 30 000 homens para a frente de guerra. A 09 de Abril de 1918 ocorreu a Batalha de La Lys, dia de luto para Portugal, onde numa única manhã, nos terrenos alagadiços de Armentiéres, no Norte de França, muitas centenas de soldados portugueses perderam a vida, quando se encontravam ao lado do aliado inglês, que muito pouco fez para travar a avalanche de tropas alemãs.
E os anos correram. O mundo voltou a mudar de século. A 3 de Maio de 2007, uma menina inglesa, cujos pais passavam férias no Algarve, desapareceu. Madeleine Mccan não mais apareceu. A Policia Judiciária fez as suas investigações, e há poucos dias o caso foi encerrado, sem resultados positivos. Foi triste ver a forma como a imprensa inglesa reagiu perante o arquivamento do processo. Fomos tratados como subdesenvolvidos, os tóinos que produzem o vinho Porto, que depois é comercializado com marcas inglesas.
Esta aliança de séculos, suscita-me a curiosa semelhança a uma sociedade de dois sócios, em que um deles domina o outro completamente, mantendo-o na sociedade apenas e só para que o mais fraco ( não que seja falto de forças, mas porque tem a mente adormecida por misterioso sono) lhe faça os recados.
Eu até sou grande admirador das lendas do rei Artur, do Mago Merlim e do Robin Hood. Tenho que aceitar a história tal como ela é, pois o que não tem remédio remediado está. Não posso e não devo, como cidadão português, é ouvir barbaridades sobre a Portugalidade e manter-me calado.
Que os súbditos de Sua Majestade me perdoem o desabafo, mas é só para que saibam que se as coisas correm assim, não é por vontade do zé povo, que bem se apercebe das jogadas. Ma, se quem tem responsabilidades de tomar decisões as não toma, que pode o zé povo fazer?
Estamos nos primeiros anos do 3º Milénio. Quem sabe, talvez daqui a 635 anos, os manhosos sejamos nós.


Sem comentários: