quinta-feira, 28 de agosto de 2008

NA TERRA MÉDIA, COM OS HOBBITS


Presentemente faço algo que nunca tinha feito antes: leio um livro depois de ter visto o filme baseado nesse livro. Condiciona-me, pois retira-me a faculdade de eu criar as minhas próprias imagens, sob a orientação do autor. Leio, e na minha mente surgem as imagens respectivas àquela passagem, existentes no filme; as personagens não têm o rosto que o meu imaginário lhes poderia dar, mas antes o rosto que surge na película. Em contrapartida, a obra ganha consistência, pois embora o filme seja soberbo, o livro ainda o é mais. Refiro-me à obra «O Senhor dos Anéis», e estou a ler- A Irmandade do Anel.
Já li, provavelmente, algumas centenas de livros e nunca me surgiu este título. Desconhecia-o por completo, até surgir o filme.
Mas o que na verdade pretendo realçar não é a obra em si, que nada tenho para acrescentar, mas reflectir um pouco sobre o autor, e no tempo em que a trilogia foi escrita.

John Ronald Reuel Tolkien iniciou a elaboração esta obra quando tinha 44 anos de idade. O mundo estava então no ano de 1936 e preparava-se para assistir ao mais mortal conflito armado, que o mundo jamais viu- a II Guerra Mundial. Portanto, e tendo em conta o que o autor escreveu como introdução ao livro, eu estou a ler, neste momento, palavras que foram escritas por volta de 1937/1938, dado ter terminado A Irmandade do Anel em 1939. As Duas Torres e O Regresso do Rei foram escritos no período compreendido entre 1939 e 1946, no decurso de todo o conflito. Isto é extraordinário. Como foi possível que um homem, vivendo num país bombardeado, tenha tido a alucinante capacidade para se desprender da terrível realidade, e criar uma obra fabulosa, tanto de estilo como de imaginação.
Falecido em 1973, Tolkien não teve a alegria de ver a sua obra na tela, dominando por algum tempo todas as salas de cinema do mundo. Impressionou-me saber que O Senhor dos Anéis, com cerca de 70 anos de existência, foi contemporâneo e rivalizou com Harry Potter, acabadinho de chegar ao mundo.
Se Tolkien criou o Frodo e o Gandalf numa fase conturbada do mundo, e logicamente, da sua própria vida, também J.K. Rowling, sua compatriota, concebeu Harry Potter, quando em Portugal iniciava um processo de divórcio, o que leva a supor que as dificuldades da vida aguçam o talento.
Tolkien, um homem maduro, professor de inglês arcaico na Universidade de Oxford, que viveu duas guerras mundiais, foi iluminado por uma inspiração que não está acessível a todos os talentosos: a de imaginar a imaginação.
Tolkien é o exemplo perfeito de como pode ser belo não deixarmos apagar-se a criança que existe em cada um de nós.

5 comentários:

MM disse...

Li a trilogia de O Senhor Dos Anéis de uma só vez, há cerca de 6 ou 7 anos...

Desde então se tornou para mim uma obra de referência pela sua grandiosidade, pela sua riqueza de argumento, pela sua originalidade e ainda pela forma como conjuga e retrata os sentimentos de amor, traição, ódio, medo, pena, poder, amizade.

Quantas pessoas no mundo conseguiriam ser persistentes numa ideia ao ponto de escrever uma obra desta dimensão e natureza?

Cumprimentos e obrigado pela visita ao 3vial.

Marcelo Melo

Poeta do Penedo disse...

uma perspectiva interessante, a da persistência. Teve Tolkien de amar muito o mundo que criou, para, no terrível e real mundo de Mordor em que concebeu e escreveu O Senhor dos Anéis,tenha tido alento para dar seguimento ao fluir da criatividade.

MM disse...

Para uma mente desperta, a obra dele encerra várias metáforas para a história do mundo e alguns factos históricos...

Contudo, o seu filho e outros peritos alertam para que não se devam procurar esses paralelos entre a trilogia e coisas como a Segunda Guerra Mundial.

Poderão achar ilegítimo que o façam, mas a verdade é que Tolkien foi um cidadão do mundo, que viveu alguns acontecimentos históricos em primeira pessoa e que certamente sofreu influência dos mesmo, independentemente do que se possa querer pensar a respeito.

Marcelo Melo

Anónimo disse...

Amigo jorge, já conversámos sobre o Senhor dos aneis e sobre a minha tatuagem escrita em Tengwar, que curiosamente ostento ha cerca de 3 anos e ainda ninguem tinha tido a "cultura" suficiente para perceber que não era arabe, a não seres tu.
Não imaginas o quão fiquei satisfeito, por saber que tenho colegas que se interessam pela cultura, embora remota, lendária e fictícia ou não, mas que de facto tenham algum conhecimento.Porque afinal, as diversas linguagens, contemporâneas ou nem tanto, fizeram o mundo em que vivêmos, ou não será assim???
Já agora, aproveito o teu espaço para publicitar a minha paixão e gostava que tivesses um bocadinho, para analizar este meu trabalho:
http://olhares.aeiou.pt/luz/foto2212037.html
Foi elaborado, numa perspectiva em que existe sempre uma luz que nos guia, ou que nos ilumina.
Não, não direi que se trata de um pensamento religioso, até porque não me envergonharia se assim fosse, trata-se apenas de um estado de espirito, nada mais.
Abraço.
Johnny

Poeta do Penedo disse...

Caro Johnny, deixa-me que te diga que já estive no teu espaço. Hoje não tive oportunidade de falar contigo, porque não te encontrei. Mas faço questão de, aqui, deixar o meu testemunho, de que o trabalho de fotografia que desenvolves está excelente. A arte lateja, porque a veia é farta. Não me inscrevi, porque me parece que pediam algumas fotografias da minha autoria, que eu, evidentemente, não tenho, ou pelo menos, não tenho de qualidade. Falarei contigo sobre isto. Finalizo dizendo-te que sempre apostei em ti como uma grande valia, no que à arte diz respeito. E não me enganei.
Um abraço.