segunda-feira, 6 de outubro de 2008

AVEIRO, 16 DE MAIO DE 1828 (PARTE III)












Através da perspectiva do António Henriques, são apresentadas quatro fotografias do monumento funerário, existente no Cemitério Central de Aveiro, em memória dos seis mártires da liberdade. O António Henriques tirou as fotografias por volta das onze da manhã. Deparámo-nos com um pormenor que muito nos sensibilizou: havia poucas horas, alguém depositara no monumento cravos brancos, que estavam fresquíssimos, como se pode ver numa das fotografias. Alguém a quem, decerto, aquele monumento ainda muito diz. Não poderia a nossa chegada ter sido mais oportuna.
No monumento existem duas inscrições (ambas de 1865), onde se pode ler o seguinte:

1ª- «Os ossos aqui têm a alma. Seis ilustres varões por quem, fremente, a liberdade chora. Atroz delírio. Neles puniu o esforço independente e heróis os fez as palmas do martírio. Fique a sua lembrança eternamente nos nossos corações, na pátria história. Paz aos seus restos. Aos seus nomes glória».

2ª- «7 de Maio de 1829
Francisco Manuel Gravito da Veiga e Lima
Manuel Luís Nogueira
Clemente de Melo Soares de Freitas
Francisco Silvério de Carvalho de Magalhães Serrão

9 de Outubro de 1829
Clemente de Morais Sarmento
João Henriques Ferreira»


D. Miguel enviou tropas, que saindo de Lisboa, marcharam para o Porto, comandadas por um excelente estratega militar, o General Póvoas. Por seu turno, D. Carlota Joaquina enviou ordens, ordens de sangue...fazer muito sangue, cortar cabeças... a primeira a do Desembargador Joaquim José de Queiroz.
E após renhidos combates entre tropas fiéis a D. Miguel, e as hostes liberais, tendo por mentor o Desembargador Joaquim José de Queiroz, de Aveiro, numa antevisão da guerra civil que estava para chegar, os liberais foram derrotados.
Alguns dos cabecilhas da revolta conseguiram fugir para a Galiza. Entre eles figurou o Desembargador, que na fuga, se uniu a muitos dos soldados do Batalhão de Caçadores 10, recusando a fuga no navio britânico Belfast, que o aguardava ao largo do Porto.
No entanto, a alguns dos responsáveis revolucionários aveirenses, lhes não foi possível alcançarem porto seguro. Foram eles: Francisco Manuel Gravito da Veiga e Lima, Manuel Luís Nogueira, Clemente de Melo Soares de Freitas, FRancisco Silvério de Carvalho de Magalhães Serrão, Clemente de Morais Sarmento e João Henriques Ferreira. A estes seis lhes ficou reservado o patíbulo, no qual, no ano seguinte, os seus corpos baloiçaram.
Seguidamente, e por ordem de D. Carlota Joaquina, foram as suas cabeças decepadas e enviadas para Aveiro, onde foram espetadas em estacas e exibidas nas ruas da cidade, para exemplo de todos. Por este horrível acto, ficou a revolta de Aveiro conhecida como «A Revolta dos Cabeças Cortadas».
Para sempre pendeu a condenação à morte do Desembargador Joaquim José de Queiroz, julgado pela Alçada régia, que ainda aguarda cumprimento. (continua em próxima edição).




3 comentários:

Clara Gomes disse...

Como deixamos caír no esquecimento estes homens, que impediram que o terror e o sangue continuasse a correr impunemente no nosso país!
Tanto heroismo,tanto sofrimento dos que deram a vida e dos ficaram!
Seremos nós dignos de tamanha dávida?

Anónimo disse...

Todas as revoluções fazem os seus mártires... todas as gerações produzem os seus heróis... Por vezes as gerações seguintes não lhes rendem o merecido tributo e esquecem-se de uns e de outros! Mas enquanto houver um democrata vivo, o seu esforço não pode ser desconsiderado! "seremos nós dignos de tamanha dádiva?" - pergunta a Clara Gomes... é uma pergunta que nos leva para muitos sentidos, para muitos significados...e cuja resposta não pode ser una. Seremos nós dignos?! Pelos vistos há quem seja... os cravos frescos são disso um exemplo! E nós, ao relembrar-mos os seus actos, também!

Acerca da justeza da nossa dignidade perante algo superior, seja ele político ou religioso, a Bíblia dá uma resposta fantástica... das mais fantásticas que algumas vez ouvi, li ou vi noutro lugar e que me deixa desconcertado sempre que a leio... e não sou crente! - "Senhor eu não sou digno que entreis em minha morada mais dizei uma palavra e ele será salvo."

Anónimo disse...

Somos um povo! Um povo que transporta quase 900 anos de história. Mas somos um povo com muito pouca consciência desses 900 anos. Somos dignos, porque ainda nos mantemos independentes.
Mas ao esquecermos momentos como este, passado em Aveiro, e como muitos outros que em 900 anos aconteceram, seremos nós, portugueses do século XXI, dignos da história que temos?
Esquecendo o sofrimento dos nossos antepassados, teremos nós respeito por eles? Respeitaremos nós o Portugal de outrora? Quem, em Portugal, conhece o significado do dia 14 de Agosto de 1383? Quantos saberão qual a tragédia que se abateu sobre Portugal em 1578? Ou porque razão se comemora o feriado do 1º de Dezembro? Que foi que aconteceu no dia 09 de Abril de 1918? Portugueses como nós os viveram!
Quando, daqui a 135 anos, Portugal comemorar 1000 anos de independência, tal será possível, porque hoje, neste momento, todos trabalhamos para que tal venha a ser possível. Mas se os vindouros demonstrarem por nós o interesse que nós demonstramos pelos nossos antecessores, então todos nós que hoje vivemos, iremos nada. Serão eles dignos do trabalho que produzimos hoje?