terça-feira, 4 de agosto de 2009

DE ÚURON

...- Não estudaste um pouco de astronomia, em Ciências?- perguntou Victor.
- Estudei...- respondeu Duarte.
- Então já ouviste falar de estrelas, planetas, galáxias, sistemas solares...-dizia o Viajante.
- Já...já ouvi falar...já estudei...mas nunca li... sempre me disseram que a vida só existe no nosso planeta, a Terra.
- E não achas que a vossa espécie è um tanto ou quanto convencida, ao pretender que o vosso minúsculo planeta, no seio de uma infinidade de outros planetas, seja o único que reuniu as condições para o surgimento da vida?
- Essa questão nunca me preocupou, por isso nunca pensei nela.
- Assim como tu, muitos milhões de outros homens da tua espécie, também nunca pensaram nisso. Mas pelo vosso mundo já se vai falando em discos voadores, até já elegestes um local propício a manifestações extraterrestres- o Triângulo das Bermudas. E isso, quer vocês queiram ou não, perturba-vos, porque os terráqueos convenceram-se de que estão sozinhos no universo.
- E não estamos ?- perguntou Duarte.
- È óbvio que não, ou julgas tu que eu sou uma fraude?- questionou o Viajante.
- Você parece-me ser um homem igual a mim- disse Duarte.
- Sou semelhante a ti, não igual. Tal como tu, também eu preciso de oxigénio para viver, só que queimo muito menos desse gás do que tu. O nosso sangue tem muito menos glóbulos vermelhos que o vosso. Se tu tivesses o mesmo número de glóbulos que eu tenho, sofrias de uma anemia aguda. Por essa razão também o nosso corpo não è tão quente como o vosso. Só por esta pequena diferença eu me torno semelhante a ti, mas não igual.
- Porque motivo nos chamou aqui?- perguntou Victor.
- Nós, habitantes de Uuron, há muito que sabemos da vossa existência. O vosso planeta è aquele, que com vida, mais próximo de nós está. Mas conhecemos outros, com os quais mantemos intercâmbios de todos os níveis. A vossa rudimentar tecnologia è o início de uma nova era que se avizinha, um tempo em que a vossa inteligência vos irá proporcionar coisas que de momento vos são inimagináveis. Mas o vosso desenvolvimento intelectual não vai ser acompanhado pelo desenvolvimento da vossa moral, do vosso lado espiritual. Tempos muito maus virão. Nós estaremos atentos, pois ser-nos-iam atribuídas culpas, se nós mais inteligentes e perfeitos do que vocês, vos víssemos a auto destruírem-se e não interviéssemos. O vosso planeta tem o seu lugar próprio no cosmos. Este ficaria mais pobre e desequilibrado se no planeta Terra o homem deixasse de existir.
- E porque haveria o homem de se extinguir na terra?- perguntou Victor.
- Por força da sua desmedida ambição. E podem vocês os dois crer, que ainda neste vosso século, alguns de vós mais atentos, travarão grandes lutas pelas coisas da natureza, porque sentirão que o equilíbrio do planeta estará em risco.
- Isso è um cenário muito negro- retorquiu Duarte.
- Pois è, mas com esta estúpida guerra que agora terminou, vocês, homens do meio do séc. xx, deram maus exemplos aos vossos descendentes, que no final do século terão nas mãos o futuro do vosso planeta. E as más sementes que agora vocês semearam, não poderão daqui a quarenta ou cinquenta anos darem bons frutos. Por isso aqui estou na companhia de mais alguns companheiros meus.
- Você não está sozinho?- perguntou Duarte.
- Achas que seria razoável eu viajar sozinho pelo espaço? È evidente que venho inserido numa equipa de trabalho. Posso agora aproximar-me de vocês?
Duarte olhou para Victor em busca de uma resposta. Como viu no seu rosto a serenidade, bebeu nele confiança, pelo que disse:
- Você preparou-nos psicologicamente para este momento! Eu e o meu amigo Victor estamos prontos a recebê-lo de braços abertos.
- Óptimo- disse o Viajante- no futuro cinema do vosso mundo, um dia vai existir um filme que retractará esta situação presente e terá muito sucesso. Chamar-se-á « Encontros imediatos do Terceiro Grau».
E sorrindo, Viajante iniciou a travessia da clareira. Caminhava lentamente. Atrás de si surgiram outros dois homens, abandonando o negrume do arvoredo. Victor e Duarte quase não respiravam, sentindo ambos a pulsação aumentar à medida que os três homens se aproximavam. Estes, chegando ao local onde se encontravam os dois rapazes, pararam. Os dois homens que por último tinham aparecido, mantinham-se afastados, à retaguarda de Viajante, cerca de dois metros. Victor e Duarte observavam minuciosamente os extraterrestres e eram observados por estes. Os três vestiam cada um uma única peça de roupa, que começava no fim do pescoço e lhes cobria o corpo por inteiro, incluindo os braços e as pernas. Apenas as mãos ficavam de fora, já que também os pés eram calçados pela mesma peça. Viajante estava coberto por um tecido azul escuro, ao passo que os outros dois vestiam uma peça de um amarelo torrado. Eram bastante altos e como se podia ver no rosto e mãos, a sua pele era branca pálida. Tinham o cabelo todo branco e os olhos tinham a cor do mar, azul e profundo. Os dois rapazes estavam extasiados.
- Fazemo-vos lembrar os vossos albinos, não è?- perguntou Viajante.
- Albinos? O que è isso?- perguntou Duarte, interrogando Victor com estranheza.
- Albinos são pessoas que não têm melanina na pele- respondeu Victor.
- Fico a saber o mesmo- volveu Duarte.
- São pessoas muito brancas, com cabelo branco e olhos muito claros- respondeu de novo Victor.
- Gostei da tua expressão facial- disse o Viajante sorrindo, dirigindo-se a Duarte.
- A minha expressão? Que tem ela de engraçado?
- A falta de conhecimento provoca em vós expressões como aquela que tu fizeste, e eu acho-as patuscas. Só isso.
- Eu sei muitas coisas, mas não sou um « sabe tudo».
- Não te zangues comigo Duarte. Foi só uma brincadeira- e dizendo isto o Viajante estendeu a mão direita a Duarte, em jeito de cumprimento- olá Duarte, estou muito feliz por te contactar... (pag. 20)

in VISITADOS

Novembro/1999

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