sexta-feira, 17 de julho de 2009

PORTUGUESES DA ÁSIA




Goa, Damão e Diu- foi por esta sequência que na já muito distante Escola Primária do Arco de Almedina aprendi o que haviam sido as possessões portuguesas na Índia. Embora já na época Goa, Damão e Diu tivessem deixado de estar sob administração portuguesa, a minha sensibilidade de criança captou o orgulho com que o professor Carlos nos ensinou que naqueles remotos cantinhos da India, Portugal foi culturalmenre influente. Hoje também eu me orgulho desse glorioso passado, já que actualmente, no mundo, Portugal é um ilustre desconhecido. A glória de outrora é como um bálsamo, que atenua a mágoa provocada pelo desinteresse e mesmo desconhecimento que a Europa e o mundo em geral tem por nós.Não me interpretem mal. Não tenho saudades do colonialismo, que o considero bárbaro. Em defesa desse ideal muitos jovens portugueses perderam a vida em Angola, Moçambique e Guiné. Eu próprio iniciei a preparação psicológica para essa viagem que a Revolução dos Cravos fez com que se não viesse a realizar.
Tenho pena é de não termos sido capazes de manter a força visceral que nos fez dar mundos ao mundo. Perdemos o gás. Álcacer-Quibir o consumiu em 1578.Mas não foi para falar nestas tristezas que aflorei este tema.
No seguimento da busca pelos monumentos que nós edificámos pelo mundo, e que se mantêm levantados, busca essa patrocinada pela RTP, foi-me dado o prazer de ver na televisão excepcionais reportagens que tiveram lugar no Brasil, em África e na Ásia, onde gentes locais demonstraram o prazer que têm de, nas suas terras, desfrutarem de monumentos portugueses que contam história.
E para minha completa surpresa vi, nas reportagens relativas à Ásia, além de monumentos que me fascinaram, o surpreendente amor que algumas comunidades em Goa, Damão e Diu, e, de forma completamente inesperada, em Malaca, na Malásia, têm por Portugal, ao ponto de se sentirem magoados por Portugal os ter esquecido, por Portugal não os considerar portugueses. Isto é simplesmente fabuloso. Nessas comunidades a língua portuguesa está preservada, com muita dificuldade, mas ainda persiste, ainda está vivo o espirito português naquelas paragens. Vi pessoas que, com carinho, têm em suas casas a bandeira portuguesa e preservam ainda alguns sinais da nossa cultura, a nível gastronómico e lúdico. São os filhos de Afonso de Albuquerque.
São naturais da Índia e da Malásia, mas têm na alma a saudade de Portugal, país que nunca conheceram. São os portugueses da Ásia.
Para eles todo o meu afecto. Se, de alguma forma, estas palavras lhes puderem chegar, aqui lhes digo que este português os viu e os considera portugueses, pois portugueses são todos os que daquela forma amam Portugal.
A vocês, meus conterrâneos no coração, um forte abraço.


3 comentários:

Teresa Diniz disse...

Caí aqui quase por acaso e este seu texto tocou-me. Sinto muito profundamente a questão da lusofonia, da cultura portuguesa, da influência que deixámos um pouco por todo o lado. Tenho escrito sobre isso e, sabe?, acho que nós nos consideramos menos importantes do que os outros nos consideram. Os Descobrimentos portugueses são estudados em todos os currículos do mundo. Há estudantes a aprender português da Espanha à China. A nossa cultura comum criou uma comunidade verdadeira que tem expressão em coisas como os Jogos da Lusofonia. Só falta que nós próprios deitemos fora a disciplicência e o cinismo com que olhamos para nós próprios e avancemos para o nosso futuro comum. Que tem de ser comum, senão não há futuro para nós.
Abraço
Teresa

Poeta do Penedo disse...

Obrigado pelo seu comentário. Congratulo-me imenso em saber que afinal o mundo se interessa mais por nós,do que a percepção que eu tenho sobre a opinião que o mundo tem de nós me deu a entender. Na realidade o meu mundo não me dá acesso a esse manancial de informação.
A displicência e o cinismo que refere, considero-os muito reais, acrescentando que somos um povo com uma riquíssima história, sem qualquer orgulho nela (no sentido lato), pois que pouco interesse nos despertam as nossas raízes, o que pode ser perigoso. Um povo que pouco conhece do seu passado, tem no presente fracos alicerces para edificar o futuro.
Briosas saudações.

Comunidade Luso-descendente em Malaca disse...

Olá :)

Encontrei o seu blog por acaso quando fazia uma pesquisa sobre Malaca. Estou em Malaca na comunidade portuguesa. Visite o nosso blog e nosso jornal :)
Obrigada por ser mais um a descobrir as nossas comunidades e falar sobre elas.
Bem haja

Cumprimentos

Bárbara

www.malaca-portugal.blogspot.com
www.povos-cruzados.blogspot.com