sexta-feira, 9 de outubro de 2009

SOPRAM BONS VENTOS DA GALIZA

Desde que me conheço que ouço, quando alguém pretende demonstrar que outra pessoa é explorada, dizer que essa pessoa «trabalha como um galego». O que quer dizer que a figura do galego, aquele que é natural da Galiza, está bastante enraizada na nossa cultura. E em consonância com esta particularidade ibérica, tomei nota de várias reportagens que têm passado, de quando em vez, no Telejornal da RTP, sobre a grande aproximação, quase identificação, dos galegos connosco, tanto a nível linguístico, como até cultural. Compreende-se perfeitamente: o território nacional que vai até Coimbra fazia parte, antes da nacionalidade, do reino da Galiza.
No entanto eu nunca tinha estado na presença de um galego. E comecei a nutrir uma especial atenção por ele, porque senti que entre o galego e o português existe uma recíproca simpatia, embora ele seja espanhol ( o que acho uma coisa fantástica), ou, pelo menos, eu considerasse que fosse espanhol. Não conhecia nenhum... até há poucos dias, quando fui a uma clínica a uma consulta.
O médico que me atendeu, rondando os quarenta, ar bonacheirão, de trato afável, não era português. Mas que raio de língua era aquela, que eu percebia perfeitamente, com uma levíssima influência espanhola. E disse-lhe:
- O sr. dr. não é português?!
- Pois não.
- Suponho que seja espanhol, mas...
- Não, não sou espanhol. Sou orgulhosamente galego- respondeu-me ele convictamente (eh pá!).
Foi o bastante para despoletar uma interessantíssima conversa. Muitos de nós, portugueses, andamos a dizer por aí que preferiríamos ser espanhóis. Pois o meu médico não vê a hora para se poder naturalizar português, porque tem alma portuguesa...ele e a Galiza inteira, segundo ele.
Depois de um diálogo extremamente enriquecedor, ele fez-me uma observação que, francamente me surpreendeu:
- Intriga-me bastante que em Portugal se dê tão pouca importância a Olivença, pior, que nem saibam do que se trata. Sabia que os espanhóis que sabem falar português estão proibidos de o fazer em Olivença?
Por aí, quantos de nós sabemos do que se trata a questão de Olivença, que este meu médico galego defende de forma tão entusiástica a nosso favor, essa questão que já leva 208 anos?
Esta amena e agradabilíssima cavaqueira foi interrompida por uma enfermeira, avisando que já existiam doentes a reclamarem pela demora da minha consulta.
Um aperto de mão apressado e um sorriso sem fronteiras.
Só em casa, depois de abrir o envelope que me foi entregue, é que soube o veredicto do médico, porque na consulta não houve tempo para mais.

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