segunda-feira, 30 de novembro de 2009

AI MONDENGO...MONDENGO...



Há alguns anos, numa povoação nos arredores de Aveiro, morava um homem, que, segundo reza a história, dialogava constantemente com Baco. Em bom português, era um borrachola inveterado. Esse homem tinha um cão- o Mondego. Num dia de festa na terra, chegou a casa, pela noite, mais bêbado do que era costume. A mulher, cansada de lhe aturar as bebedeiras, que felizmente eram compostas por um vinho fácil, agarrou-o por um braço e pô-lo na rua, ordenando-lhe que fosse cozer a bebedeira para onde a tinha apanhado. O homem saiu, numa amargura cambaleante, sem antes ter dedicado umas carícias ao seu velho e fiél amigo, o Mondego, que ao aspirar o bafo que vinha do dono se afastou rapidamente. Raio de vida, até o cão o abandonava!
O homem regressou ao recinto da festa, tendo-o encontrado completamente vazio. A falar com os seus botões, amaldiçoando, em segredo, a mulher que daquela forma desumana o tratava, para ali se encostou na barraca dos frangos, procurando por alguma garrafa de pinga esquecida, mas não encontrando nada, pois tudo andava com uma sede desgraçada, que as garrafas era um ver se te avias,deitou-se num comprido banco de suma a pau e adormeceu.
Pela manhã, compondo a gravata sebenta de nódoas de vinho, tentando aparentar boa figura, enchendo o peito para absorver o ar da manhã, ganhando coragem para assim enfrentar o previsível mau humor da esposa, tomou a direcção de casa. Ao chegar, foi recebido pelo seu fiél cão, que aos saltos e abanando freneticamente a cauda, demonstrava a sua alegria por ver o dono. O homem, sensibilizado por aquela demonstração de carinho, disse:
- Ai Mondengo, Mondengo, largas terras tem o mundo. Ainda te lembras de mim, cãozinho?
O herói chegava a casa, depois da sua extenuante, longa e perigosa jornada!

4 comentários:

Gibson Azevedo disse...

Éééé... meu caro Fareleira Gomes, até os queridos "perros" se nos desconhecem, quando, por algum motivo ou rara ocasião, abusamos da intimidade dalguma pinga ou vinho. O que não impede que estes fiéis companheiros nos reconheçam e demonstrem sincera alegria, às escâncaras de nossa presença, logo em seguida a essas cansativas jornadas. É proprio destes animais guardarem fiel apego aos donos. Basta lembrar do velho e cego cachorro do herói grego Ulisses, que foi o único que o reconheceu, quando este, disfarçadamente, retornou ao seu reino na ilha de Ítaca.
Agora..., fazer festas para bêbado..., isto, cachorro que se preza não faz! Eles não são bobos.
Abraços deste seu amigo.

Poeta do Penedo disse...

Caro amigo Gibson. Esta história não foi invenção. Foi-me contada há algum tempo por um amigo, numa cavaqueira. Deliciou-me.
Esta figura castiça não é grego, mas viu-se grego para chegar a casa.

Um abraço deste seu amigo.

António disse...

Muito engraçado!

Poeta do Penedo disse...

Caro António
Por vezes, certas «carroças», tornam-se verdadeiramente hilariantes.

Com amizade