quinta-feira, 24 de setembro de 2009

MEMÓRIAS...DE UM OBELISCO



Se muitos e muitos dos filhos desta minha terra de Aveiro olham para mim, e não sabem o que a frieza da minha estrutura representa, muito menos o saberão os forasteiros. Em mim lêem:«Em memória dos aveirenses que sofreram pela liberdade». Muitos e muitos dos filhos de Aveiro, infelizmente, desconhecem a que é que alude esta legenda. Neste particular histórico são tão forasteiros como os forasteiros. E se eu existo, se sou um símbolo da memória, não o devo aos responsáveis municipais, antes ao Clube dos Galitos, uma simples colectividade, que afinal não é tão simples como isso. Fui erigido em 1909. Sou uma voz que não se ouve, mas é altiva,que na sua altivez canta um nobre acontecimento que nesse ano já ocorrera havia 81 anos. Completo este ano, portanto, cem anos, o que determina que a razão da minha existência se encontre na profundidade dos tempos, que a memória dos aveirenses faz com que praticamente se tenha perdido na profundidade dos tempos.
Foi a 16 de Maio de 1828 que, nesta cidade de Aveiro, o absolutismo miguelista ouviu pela primeira vez o grito da revolta, grito esse que clamava pela presença de D. Pedro, que lá longe, governava as terras de Vera Cruz. Quem hoje, nesta cidade, tem orgulho desse momento feito de coragem e aspiração pela liberdade? Passam por mim e eu nada lhes digo.
Os aveirenses que sofreram pela liberdade foram sete. Pagaram com a vida a ousadia. Os aveirenses de então acreditaram que aqui se iniciava o caminho para a libertação da opressão. Tinham razão. A liberdade chegaria quatro anos depois. Os aveirenses de então, caso tenham pensado que aquele dia seria lembrado, ano após ano, incólume ao esquecimento...
Sou tudo o que resta desse grito à liberdade!

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